O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que concorre à reeleição em outubro, é dono de um sítio completamente irregular em Área de Proteção Ambiental (APA) próxima à Serra do Mar em Engenheiro Marsilac, na zona sul da capital paulista. A revelação foi feita na última quarta-feira (12) em reportagem publicada em vídeo pelo observatório De Olho nos Ruralistas.
São 4 lotes em nome do prefeito e outros 9 lotes em nomes de outras pessoas que compõem o Sítio Vista Verde, de 4,2 hectares. A propriedade está localizada na APA Capivari-Monos, que possui 25 mil hectares – praticamente um sexto da área total de São Paulo, que possui pouco mais de 150 mil hectares. Criada em 2001 pela gestão Marta Suplicy (PT), é a primeira área de conservação da maior cidade do país.
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Todos os lotes devem o ITR – Imposto Territorial Rural. O sítio fica a 1,5 km do centrinho de Engenheiro Marsilac, bairro no extremo sul do município de São Paulo. A 23,5 km de Mongaguá, está mais próximo do litoral do que do centro de São Paulo. Dali para a Praça da Sé são 41 km.
O imóvel foi comprado por Nunes antes de iniciada sua vida política, quando ele ainda trabalhava com jornais de bairro e como empresário. Em 2012, quando se candidatou pela primeira vez à Câmara Municipal, declarou para a Justiça Eleitoral 4 lotes em Parelheiros e uma casa com sobrado. Os lotes foram adquiridos em 2006 por cerca de R$ 40 mil.
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Mas a equipe do De Olho nos Ruralistas apurou que os bens declarados à Justiça Eleitoral estavam incompletos e que o prefeito chegou a declarar parte do terreno como “terra nua”. Ele tem, na verdade, 13 lotes em Marsilac, uma das únicas regiões com mata preservada na capital paulista, administrada pela subprefeitura de Parelheiros, região vizinha e mais populosa. E só informou a totalidade da propriedade em 2021, quando já era o vice de Bruno Covas (PSDB), o falecido prefeito tucano que o alçou ao cargo.
Naquele momento, o valor dos 4 lotes iniciais já estava avaliado em R$ 110 mil. Os demais 9 lotes já valiam, juntos, R$ 346 mil.
De acordo com a reportagem, o prefeito, sua família e os funcionários da Nikkey Controle de Pragas – sua maior empresa – frequentaram o local no passado. Atualmente, a gestão do imóvel parece ser feita pelo filho do prefeito, Ricardinho, que aluga o sítio para grupos de até 75 pessoas. O herdeiro também está no comando da Nikkey e de outras empresas do pai desde 2022.
Em anúncio publicado na internet, o aluguel do sítio custa R$ 1.000 para um final de semana completo ou R$ 550 para um único dia. Em 2012 o lote onde está a casa foi declarado como um “sobrado” avaliado em módicos R$ 8 mil. A reportagem conta ainda que o anúncio do aluguel do sítio foi retirado do ar na internet na mesma noite em que os jornalistas visitaram o local.
Ao jornalista Alceu Castilho, uma moradora da região afirmou que o sítio de Nunes é o “melhor imóvel da região”. O autor da apuração classifica o Sítio Vista Verde como um local “bucólico”, com cavalos e piscina no meio da Mata Atlântica, “em área de mananciais e bem longe da Avenida Paulista”.
Num tanque represado a partir de uma nascente de rio, a família Nunes cria carpas e tilápias. A prática é considerada uma infração ambiental pelo Código Florestal brasileiro.
Fazemos nossos alguns dos questionamentos feitos pelos autores da reportagem. Quais são os interesses econômicos e imobiliários do prefeito? Quais contratos a Prefeitura fará com seus aliados políticos que vão do MDB à maçonaria? Quais os impactos sociais e ambientais das atenções desses interesses?
Clique aqui para assistir ao vídeo, que contém mais detalhes da trama.