CERCO SE FECHA

A desculpa esfarrapada de Bolsonaro para a nova joia descoberta pela PF

Ex-presidente defende "direito" de se apropriar de bens dados ao Estado brasileiro e cita até o caso Adélio para se justificar

O ex-presidente Jair Bolsonaro.Créditos: Fernando Frazão/Agência Brasil
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Jair Bolsonaro se manifestou nesta quarta-feira (12) sobre a descoberta da Polícia Federal (PF) de uma nova joia dada por autoridades de países árabes e que ele teria tentado subtrair do acervo presidencial

A nova descoberta se deu durante as diligências da PF nos Estados Unidos, país em que emissários do ex-presidente teriam vendido algumas dessas joias e tentado negociar outras. Os investigadores descobriram um vídeo que mostraria suposta negociação desta nova peça, que até então não constava nas apurações, cujo paradeiro, até o momento, é desconhecido. 

A ideia da PF, agora, é colher novos depoimentos, entre eles o do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da presidência que fechou acordo de delação premiada, com o objetivo de obter mais detalhes sobre a joia, bem como sua origem e seu destino. A princípio, suspeita-se que a peça não tenha sido vendida. 

Em entrevista ao jornalista Paulo Cappelli, do site Metrópoles, Bolsonaro deu uma desculpa esfarrapada sobre a notícia que, segundo o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, "robustece" o inquérito que pode render até 12 anos de cadeia ao ex-presidente. 

“Desconheço essa nova joia. Não sei nem o que é. Se teve algo nesse sentido [negociação], sequer chegou ao meu conhecimento. Sobre essa questão de presentes recebidos, havia muitas pessoas. Algumas informações me chegavam muito depois. E, por vezes, nem chegavam até mim”, declarou o ex-mandatário. 

Bolsonaro ainda acusou a atual diretoria da PF de "fabricar um escândalo" para prejudicá-lo e citou até mesmo o caso de Adélio Bispo, homem que lhe desferiu uma facada durante a campanha presidencial em Juiz de Fora (MG), em 2018. 

"O que a atual diretoria da Polícia Federal está fazendo para tentar fabricar ‘escândalo’ nas minhas costas tá de brincadeira. Disseram que tinham encontrado um cavalo de ouro que valia milhões. Manchete em todos os jornais. Aí, depois, descobriram que o cavalo era de cobre e não valia nada. Para me atingir, usam a estrutura da PF para investigar até baleia (...) Se a Polícia Federal tivesse empenhado 10% desse esforço no caso Adélio, teria descoberto o mandante, quem queria a minha morte. Teve uma pessoa que tentou entrar na Câmara com o nome do Adélio, para forjar um álibi. Adélio foi ao clube de tiro que Carlos Bolsonaro frequentava em Santa Catarina. Quem passou essa informação a ele?”, disse. 

Como se não bastasse, Bolsonaro ainda defendeu o "direito" de se apropriar de joias e artigos de luxo dados por autoridades estrangeiras que deveriam ir para o acervo presidencial, citando uma lei sancionada pelo ex-presidente Fernando Collor. 

 “Tem uma lei, de 1991, que diz que joias são itens personalíssimos e que são do presidente", disparou. 

Mauro Cid e seu pai são intimados a depor sobre nova joia 

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), e seu pai, o general Lourena Cid, foram intimados nesta quarta-feira (12) a prestar novo depoimento para a Polícia Federal. Dessa vez, os investigadores vão querer saber detalhes acerca da nova joia surrupiada do acervo presidencial pelo ex-presidente, encontrada durante diligência nos Estados Unidos.

As oitivas estão marcadas para o próximo dia 18 de junho, terça-feira da próxima semana. A princípio, suspeita-se que a peça não tenha sido vendida.

A nova descoberta se deu durante as diligências da PF nos Estados Unidos, país em que emissários do ex-presidente teriam vendido algumas dessas joias e tentado negociar outras. Os investigadores descobriram um vídeo que mostraria suposta negociação desta nova peça, cujo paradeiro, até o momento, é desconhecido.

As diligências nos EUA contaram com apoio do FBI (Federal Bureau of Investigation) e ocorreram em diversas cidades americanas, como Miami (Flórida), Wilson Grove (Pensilvânia) e Nova York. Nelas, os policiais conseguiram depoimentos de comerciantes, documentos e imagens de câmeras de segurança.

Para Andrei Rodrigues, o diretor-geral da PF, a nova joia “robustece a investigação” que pode levar Bolsonaro à cadeia. A investigação encontra-se no estágio final e deve resultar no indiciamento do ex-presidente por peculato, com pena de 2 a 12 anos de prisão e multa. Caso a sentença seja superior a 8 anos, Bolsonaro terá que cumprir pena em regime fechado - ou seja, na cadeia.

"A nossa diligência localizou que, além dessas joias que já sabíamos que existiam, houve negociação de outra joia que não estava no foco dessa investigação. Não sei se ela já foi vendida ou não foi. Mas houve o encontro de um novo bem vendido ou tentado ser vendido no exterior", explicou o diretor da PF.

As investigações apontam que emissários de Bolsonaro tentaram vender quatro joias nos EUA: duas presenteadas pela Arábia Saudita e outras duas pelo Bahrein. Para a PF, trata-se de organização criminosa montada em torno do ex-presidente com o objetivo de desviar os objetos de luxo.

Relógios das marcas Rolex e Patek Philippe, avaliados em 68 mil dólares à época, ou R$ 347 mil, foram vendidos para a empresa Precision Watches. Mauro Cid esteve pessoalmente em Wilson Grove (Pensilvânia) pra fazer o negócio. Os federais estão em posse de um comprovante de depósito encontrado no celular do ex-ajudante de ordens.

PF: Bolsonaro furtou joias e deu aval para venda nos EUA

A conclusão pela Polícia Federal (PF) das investigações sobre as joias e a carteira de vacinação aumentou a fervura na horda de apoiadores de Jair Bolsonaro, que terá o indiciamento pedido pelos investigadores nos dois casos - cabendo ao Procurador-Geral da República (PGR), Paulo Gonet, a abertura ou não de processos criminais contra a organização criminosa capitaneada pelo ex-presidente.

Após incursão nos EUA, a PF vai incluir no relatório provas contundentes de que Bolsonaro sabia do furto das joias do acervo da presidência e deu aval para a venda dos objetos nos EUA.

As joias foram surrupiadas pelo ex-presidente e levadas no avião durante a fuga de Bolsonaro para os EUA às vésperas da posse de Lula, em dezembro de 2023. Lá, coube ao general Mauro Lourena Cid, pai do tenente-coronel Mauro Cid, iniciar as negociatas para levantar valores milionários com a venda dos presentes.

Nos EUA, os investigadores conseguiram imagens e entrevistas que provam que Bolsonaro sabia que a venda das joias era ilegal - e deu aval à negociata mesmo assim. Além disso, as operações de recompra dos objetos, que envolveu, entre outros, o advogado Frederick Wassef, foram detalhadas e mostram que a quadrilha sabia da ilegalidade da operação.