Buscando ter o controle total da Câmara - inclusive de punir seus pares com uma espécie de AI-5 parlamentar que vai à votação nesta quarta-feira (12) -, Arthur Lira (PP-AL) articula diretamente com Jair Bolsonaro (PL) um levante fascista no Congresso, com a imposição das pautas chamadas "conservadores" e projetos para bombardear o governo Lula.
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Na semana passada, Lira e Bolsonaro se encontraram para falar da sucessão na Câmara. Aliados de Bolsonaro, no entanto, "relataram que a conversa girou em torno dos assuntos analisados pela Casa e de um balanço do cenário político atual", segundo coluna de Lauro Jardim, no jornal O Globo.
Ficou acordado que Bolsonaro, por meio do PL, que é dono de 95 votos para a sucessão na casa, apresentará uma carta com "uma série de compromissos com pautas conservadoras" para condicionar o apoio da legenda ao candidato de Lira.
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Elmar Nascimento (União-BA), que nutre ódio ao governo por ter sido preterido por Rui Costa (Casa Civil) como ministro ainda na transição, já se comprometeu, de antemão, até mesmo a pautar o projeto de anistia a Bolsonaro - um dos ítens que devem constar nas entrelinhas do documento
PL das delações
A reunião entre Bolsonaro e Lira se deu em meio à estratégia do deputado alagoano de pautar em regime de urgência o Projeto de Lei que limita as delações premiadas e crimininaliza a divulgação dos conteúdos.
Lira colocou o Projeto de Lei na pauta na última quinta-feira (6), pegando o governo de surpresa mais uma vez.
O requerimento para colocar o projeto, que começou a ser discutido em 2016 na pauta em regime de urgência, atendeu a um requerimento do líder do PL, Altineu Cortês, principal articulador político e porta-voz de Jair Bolsonaro (PL) na Câmara. Além dele, assinam o requerimento, entre outros, Elmar Nascimento.
Sem grande influência na bancada alagoana, o deputado do PV vem sendo cortejado por Lira, que busca apoio da sigla para sua sucessão, rachando a federação que elegeu Lula - que além do PV conta ainda com o PCdoB e, obviamente, o PT.
Em fevereiro, Lira manobrou para que Amaral assumisse a liderança dos seis deputados do PV na Câmara. Apesar do número irrisório de deputados para influenciar a sucessão, a cooptação do conterrâneo teria como intenção atingir a base de Lula.
Amaral votou pela soltura do deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), acusado de ser um dos mandados do assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol-RJ), em 2018, em um sinal de aproximação com Lira.
A defesa da urgência do PL das delações seria, portanto, um gesto de "gratidão" de Amaral e sela o acordo com Lira.
"AI-5" de Lira
Ainda na esteira do encontro com Bolsonaro, Lira obteve nesta segunda-feira (11), urgência do projeto que quer mudar o regimento interno da Casa e permitir o afastamento de deputados de forma unilateral pela Mesa Diretora, sem apreciação do Conselho de Ética e Decoro.
O projeto é assinado pelos sete membros da Mesa Diretora da Câmara, que são exatamente aqueles que terão as prerrogativas de afastar os colegas.
Na teoria, Lira diz que o PL pretende punir os deputados que se envolverem em "embates quase físicos que vêm ocorrendo na Casa e que desvirtuam o ambiente parlamentar, comprometem o seu caráter democrático e - principalmente - aviltam a imagem do Parlamento na sociedade brasileira".
Na prática, no entanto, o presidente da Câmara terá o poder de punir quaisquer desafetos, suspendendo a atuação de parlamentares por até seis meses.
"Olha o poder que está se dando ao Lira nesse momento e que tristeza ver o líder do PT na Câmara orientar a favor dessa matéria. É uma ilusão, um suicídio, um tiro no pé. Ou vocês acham que o Lira vai perseguir os aliados dele da direita, da extrema direita? Evidentemente que não. Isso vai se voltar contra a esquerda", disse o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) em vídeo nas redes sociais.
Apenas o PSOL e o partido Novo orientaram voto contrário ao projeto de Lira, que deve ir à votação na noite desta quarta-feira.