Responsável pelo desmonte no sistema antienchente de Porto Alegre, o prefeito Sebastião Melo (MDB) fez eco ao governador Eduardo Leite (PSDB) e disse, em entrevista na edição desta sexta-feira (31) do jornal O Globo, que "não é hora de buscar culpados" pela tragédia que deixou 169 mortos, 44 desaparecidos e mais de 600 mil desalojados no Rio Grande do Sul.
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Indagado se "há uma autocrítica a fazer do seu trabalho" pelo jornal da família Marinho, que se alia ao projeto neoliberal em curso no estado e na cidade, Melo repetiu a declaração que Leite fez ao lado de Lula em 5 de maio, no início da tragédia.
"Penso que agora não é a hora de buscar culpados, mas a autocrítica deve ser minha e dos presidentes, governadores e gestores que nos antecederam. Vi manifestações de ex-prefeitos e não vou aceitar provocações", afirmou.
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Negacionista climático e defensor do projeto de privatização da orla do Rio Guaíba, Melo foi um dos principais responsáveis pelo sucateamento do sistema antienchente, criado nos anos 1970 para conter as cheias do rio Guaíba.
"A verdade é que nunca houve uma campanha municipal, estadual ou federal que colocasse a questão climática como tema central no Brasil. Precisamos fazer uma reflexão sobre isso", disse agora.
Na entrevista, o prefeito da capital gaúcha ainda tentou se descolar de Jair Bolsonaro (PL) ao ser indagado: "Como pregar essa preocupação ambiental estando alinhado ao bolsonarismo, grupo político que em grande parte rejeita o aquecimento global e que indicou o seu vice?".
"Quem conhece a minha história sabe que sou um democrata, dialogo com todas as forças políticas e faço alianças. Acho que a questão ambiental não pode ficar no discurso nem da direita nem da esquerda, mas vir para a realidade. A ideologia não resolve o problema das cidades, mas, sim, a gestão e as políticas públicas", afirmou.
Melo, que contratou a consultoria estadunidense Alvarez e Marsal - a mesma que empregou Sergio Moro - para o projeto de "reconstrução" da cidade, com vistas à privatização, ainda se esquivou de críticas ao governador, que culpou o prefeito pela falta de manutenção do sistema antienchente.
"Li a entrevista, mas acho que ele é governador de todos os municípios e com certeza deveria fazer uma autocrítica do sistema do Rio Grande do Sul como um todo. Porto Alegre não foi a única cidade atingida pelas chuvas", disse.
"De fato, o sistema da capital foi concebido na década de 60 e nunca havia chegado a essa gravidade climática. Testado, apresentou problemas nos diques e as casas de bombas que estavam funcionando deixaram de operar quando foram tomadas pelas águas. Além disso, no muro da Mauá, houve falhas em três portões de comportas. Então, sim, tudo precisa ser revisto no futuro", emendou o prefeito portoalegrense.