"BOLSONARISMO MODERADO"

Efeito Tarcísio: Educação em SP tem pior rendimento em uma década, mostra Saresp

Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar indica piora no desempenho dos alunos até em relação ao período da pandemia; para piorar, a substituição de professores pelo ChatGPT e militarização das escolas ainda compõem o projeto de Renato Feder

Tarcísio Gomes de Freitas e o secretário de Educação Renato Feder.Créditos: Twitter / Tarcísio Gomes de Freitas
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De acordo com a última análise divulgada pelo Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp), o desempenho educacional na rede estadual teve uma queda significativa em 2023, ano que corresponde ao início do mandato do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos)

No ensino fundamental (6º ao 9º ano), as médias dos alunos despencaram 10 pontos em português e 2 pontos em matemática na comparação com 2022. Em português, a média foi de 234,4, enquanto em matemática ficou em 246,3. Apesar da aprovação, o resultado é preocupante, especialmente em um contexto de cortes orçamentários na Educação, além de ser a queda mais expressiva da última década, superando até mesmo o desempenho observado em 2021, quando a pandemia do coronavírus obrigou a maioria dos estudantes a adotar o ensino remoto.

Português

  • 2023 - 234,4
  • 2022 - 244,2
  • 2021 - 241,4

Matemática

  • 2023 - 246,3
  • 2022 - 248,6
  • 2021 - 246,8

Os resultados do Saresp causam ainda mais apreensão em um momento em que o governo propõe um corte de 5% no orçamento total da pasta. Essa medida, que altera a Constituição do Estado, acarretará um decréscimo de mais de R$ 9 bilhões nos recursos destinados à educação.

“Os números divulgados pelo próprio governo são alarmantes: os níveis de conhecimento estão piores que pós-pandemia da COVID. Enquanto isso, a única medida apresentada por este governo para a área é o de cortar mais de R$ 9 BILHÕES do orçamento da pasta e reprimir os estudantes que protestam contra o desmonte da educação pública de São Paulo”, informa a União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES) em comunicado. “Precisamos ampliar ainda mais nossas mobilizações por mais investimentos na Educação. Contra o corte do orçamento e por escolas democráticas e sem intervenção policial.”

A avaliação

Em um marco histórico para a educação paulista, o Saresp expandiu significativamente seu escopo em 2023, avaliando pela primeira vez todas as turmas dos anos finais do ensino fundamental, do 6º ao 9º ano, e de todas as três séries do ensino médio. As turmas de ensino médio participaram do Provão Paulista Seriado, que ainda não teve suas médias divulgadas.

A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) informa que, além das tradicionais áreas de língua portuguesa e matemática, a avaliação agora abrange todos os componentes curriculares para as duas últimas etapas da educação básica. Isso inclui disciplinas como história, geografia, língua inglesa, ciências, biologia, sociologia, filosofia, química e física.

Um novo formato de boletim escolar, com o objetivo de fornecer informações mais transparentes e acessíveis sobre o desempenho das escolas e dos alunos, também será fornecido. Ainda este ano, segundo a pasta, os boletins apresentarão os resultados por escola e por disciplina, utilizando um sistema de notas de 0 a 10.

Em nota, o governo diz que “tem realizado mudanças importantes para melhorar o processo de aprendizagem em todos os ciclos de ensino da rede” e que “os passos mais efetivos neste sentido começaram a ser dados no segundo semestre do ano passado, com a adoção do material digital, a introdução de plataformas, formação de professores e a melhoria na infraestrutura da rede.”

Polêmicas na educação

Um dos pontos mais controversos foi a proposta de abandonar os livros didáticos. Em 2023, o secretário de educação do governo, Renato Feder, chegou a anunciar que os materiais impressos seriam substituídos por conteúdo digital produzido pela secretaria, em formato de slides de Power Point. A iniciativa gerou forte reação de profissionais da educação e especialistas, que alertaram para os riscos de precarização do ensino e da padronização excessiva das aulas.

Diante das críticas, ele recuou da decisão e os livros didáticos permanecerão nas escolas. No entanto, a secretaria segue incentivando o uso de tecnologias em sala de aula, como aplicativos para leitura, matemática e tarefas de casa. Em agosto de 2023, Tarcísio decidiu que sua gestão não ia participar do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), por meio do qual os livros didáticos são comprados com verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDC) do Ministério da Educação (MEC). A decisão implicaria que mais de 1,4 milhão de alunos não receberiam livros didáticos impressos no ano que vem, o que significaria  que mais de 10 milhões de livros deixarão de ser distribuídos. Com a repercussão, o governador recuou rapidamente.

Além da fala polêmica de que substituiria professores pelo ChatGPT este ano, Tarcísio de Freitas, também disse que ia implementar uma ferramenta de inteligência artificial apelidada de “fluencímetro” nas escolas estaduais com o objetivo de “avaliar a fluência de leitura” de alunos do 2º ao 5º ano da rede estadual. Como explica essa reportagem da Fórum.

Escolas paulistas “militarizadas”

O governador nunca escondeu sua simpatia pela ideia de inserir as escolas cívico-militares na rede estadual de ensino. Ele declarou publicamente seu apoio ao projeto que foi aprovado na última terça-feira (21) na Assembleia Legislativa de SP (Alesp) e, meses atrás, declarou ao Congresso que espera formar “futuros Bolsonaros” nas instituições militarizadas.

A fala foi feita na Câmara dos Deputados em 6 de dezembro de 2023, no lançamento da Frente Parlamentar Mista em Defesa das Escolas Cívico-Militares. O ex-presidente inelegível o acompanhou ao longo do evento. O “bolsonarista moderado”, conforme vem sendo embalado pela imprensa hereditária, deu essa pista sobre o seu projeto para a educação paulista para uma plateia que contava com Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Zé Trovão (PL-SC), Nikolas Ferreira (PL-MG), Sargento Fahur (PSD-PR) e Jorge Seif (PL-SC). A frente parlamentar foi uma iniciativa do deputado Coronel Zucco (Republicanos-RS).

E aparentemente vem surtindo seu desejado efeito político. Na última terça-feira (21), foi aprovado na Alesp, com o apoio de Tarcísio, um projeto de lei que regulamenta as escolas cívico-militares na rede estadual e prevê a criação de uma centena de instituições militarizadas. Algumas do zero, outras por meio de reformas das instituições civis já existentes.

A sessão que aprovou o projeto foi marcada por uma “amostra grátis” do projeto pedagógico, com a Tropa de Choque da Polícia Militar brutalizando estudantes secundaristas que ousaram começar um protesto contra o projeto, que já estava todo acordado entre os parlamentares para ser aprovado.

Os estudantes pretendiam acompanhar a sessão plenária, mas foram recebidos com bombas e cassetetes logo na chegada. As imagens mostram a Tropa de Choque rendendo alguns dos estudantes no Salão dos Espelhos da Alesp, enquanto outros policiais impedem a passagem ao local com escudos. Os estudantes foram rendidos, agarrados pelo pescoço e arrastados para fora, enquanto outros PMs agridem os adolescentes que passam pelo local com cassetetes. Leia mais nesta reportagem da Fórum.