O Laboratório de Estudos da Internet e Redes Sociais (Netlab) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) publicou um estudo em janeiro deste ano sobre a atuação da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) em posts patrocinados na Meta, em páginas como o Facebook, Instagram, Audience Network e Messenger. O objetivo era aprofundar o entendimento das práticas nocivas identificadas na comunicação digital da atual bancada ruralista do Congresso.
A Fórum vem relembrar a pesquisa em meio ao despertar social e político da crise climática no Rio Grande do Sul. À época, foram analisados 207 anúncios patrocinados postados nas redes sociais da FPA de janeiro a novembro de 2023 e se descobriu que quase metade deles (94, ou 45%) continha algum tipo de conteúdo considerado tóxico ou manipulado.
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Pelo menos 43 se enquadraram como greenwashing e 72 na categoria de desinformação. Posts veiculados com as duas categorias totalizaram 21 conteúdos. Mas qual a diferença entre greenwashing e desinformação?
O greenwhashing é a promoção de práticas ambientalmente responsáveis em campanhas publicitárias para desviar o foco de ações prejudiciais ao meio ambiente praticadas pela empresa. Já a desinformação é uma estratégia intencional de manipulação da opinião pública caracterizada pela difusão de informações falsas, descontextualizadas ou enquadramentos distorcidos.
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Discurso de ódio, defesa dos agrotóxicos e ataques ao MST e aos povos indígenas
No estudo, os anúncios tinham um foco particular na tentativa de criminalizar o Movimento Sem Terra (MST), os povos indígenas e levantar a imagem do agronegócio brasileiro. No último caso, as postagens frequentemente recorreram ao greenwashing, buscando retratar o setor como ecologicamente consciente. Quando se trata de anúncios que utilizam greenwashing, a estratégia principal foi tentar minimizar ou negar os impactos negativos do agronegócio no meio ambiente e na saúde humana.
Outro aspecto importante é o negacionismo climático resultantes das atividades do agronegócio (17 anúncios ou 23,3% dos anúncios), que apresenta o setor como “um dos mais sustentáveis do mundo”. Publicações com tom alarmista (16 anúncios ou 21% dos anúncios) são frequentemente usadas em anúncios que apoiam a tese do Marco Temporal, destacando supostos “riscos de expropriação de terras” de famílias de agricultores e pequenos proprietários para a criação de reservas indígenas. Além da defesa da construção da Ferrogrão, ferrovia que pretende ligar o Mato Grosso ao Pará, fortemente criticada por ambientalistas.
Inclusive, algumas postagens veiculadas continham discurso de ódio e apelo emocional, de acordo com os pesquisadores do NetLab.
“A narrativa se baseia no risco de que “famílias de agricultores” tenham suas terras ‘invadidas’, sem fazer distinção entre pequenos produtores e grandes latifundiários. É frequente o pedido por punições mais severas a quem participa de ocupações, assim como o lobby digital para obter apoio popular para a aprovação de propostas legislativas nesse sentido. Outra abordagem comum, como no anúncio ao lado, é culpar o governo Lula ‘pela falta de repreensão a essas ações’” (pág. 24).
“Defende-se a individualização da responsabilidade dos trabalhadores rurais, associando a ‘segurança dos alimentos’ ao uso correto do Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e que ‘a ciência venceu’ porque “aprovar pesticidas é aprovar alimentos seguros”. Outro argumento é de que problemas de intoxicação ocorrem apenas por ‘uso inadequado ou até mesmo situações de suicídi’. Também há a exploração da estética do ‘Fato ou Fake’ para reforçar perspectivas a favor dos agrotóxicos.” (pág. 25).
“Em vídeo com narrativa emocional, retrata-se a história de Ana, uma trabalhadora urbana que construiu a casa própria e, anos depois, foi notificada do confisco da propriedade para demarcação de terra indígena.” (pág. 38).
Ainda de acordo com a análise, os anúncios da FPA foram direcionados principalmente para homens com mais de 35 anos residentes nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, com destaque para Paraná, São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Santa Catarina.
“Os anúncios são, prioritariamente, direcionados a seus estados de origem, o que pode indicar a instrumentalização da FPA para influenciar a política local. Os porta-vozes mais citados são Pedro Lupion (PP-PR), Tereza Cristina (PP-MS), Zequinha Marinho (Podemos-PA) e Arnaldo Jardim (Cidadania-SP). O”, escrevem os autores.
Os anúncios com conteúdo considerado tóxico, que alcançaram 8,2 milhões de impressões, tiveram um investimento de R$ 31,4 mil. No total, os anúncios somaram 19,8 milhões de impressões com um gasto de pelo menos R$ 77,7 mil. Confira o gráfico de impressões de janeiro a novembro de 2023 dos anúncios da banda ruralista na Meta e o estudo completo do NetLab:
Acesse o estudo completo abaixo: