TRAGÉDIA CLIMÁTICA

Lula agenda quarta viagem ao Rio Grande do Sul para acompanhar reconstrução do Estado

Na segunda viagem, Lula teria acalmado Eduardo Leite, que estava desesperado com a tragédia climática. Presidente quer priorizar construção de casas e medidas junto aos mais de 600 mil desalojados e desabrigados.

Lula em visita a desabrigados pela tragédia no Rio Grande do Sul.Créditos: Ricardo Stuckert
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O presidente Lula já tem agendada para a próxima quinta-feira (23) sua quarta viagem ao Rio Grande do Sul desde o início de uma das maiores tragédias climáticas já ocorridas no país, no fim de abril.

Na quarta-feira (15), o presidente anunciou a criação do Ministério Extraordinário comandado por Paulo Pimenta, ex-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), e agora quer acompanhar de perto a implementação da série de medidas implementadas pelo governo federal.

Na avaliação de pessoas próximas, Lula tem acertado nas ações contra a tragédia climática no Sul e se preocupa, principalmente, com a falta de capacidade do governador Eduardo Leite (PSDB) e do prefeito de Porto Alegre, o bolsonarista Sebastião Melo (União), na condução da próxima fase, que demandará enormes esforços principalmente junto à população civil.

Na noite desta quinta-feira (16), a jornalista Natuza Nery, da GloboNews, afirmou que Lula teve que consolar o governador gaúcho, que estaria desesperado em meio à tragédia.

Segundo a jornalista, após publicação nas redes sociais cobrando o governo federal, logo no início das inundações, Leite se encontrou com Lula na segunda viagem ao presidente ao Estado.

"Aí o Leite começa a explicar por que que ele fez a postagem na rede social, que ele não estava querendo expor o governo, mas que ele estava bem desesperado, preocupado, que as coisas podiam piorar”, contou Natuza.

“Aí o Lula pegou no rosto dele e disse assim: ‘Você não precisa me explicar. Não se preocupe. Se tem uma coisa que eu sei fazer é ler as pessoas’. E o Leite se emocionou e ficou com os olhos cheios de lágrimas", emendou.

Tragédia em números

Segundo a Defesa Civil, o número de mortos pelo desastre climático no Rio Grande do Sul chegou a 151 nesta quinta-feira (16). Outras 104 pessoas seguem desaparecidas.

No total, 461 dos 497 municípios gaúchos foram afetados pelas inundações, afetando 2,2 milhões de pessoas - mais de 20% da população - e deixando mais de 600 mil pessoas desalojadas.

A Confederação Nacional dos Municípios estima que 96 mil casas foram destruídas no Estado. E é na habitação que Lula quer focar seus maiores esforços, entregandos casas gratuitas para famílias que perderam tudo.

Balanço

No primeiro dia no comando da Secretaria Extraordinária da Presidência da República de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, o ministro Paulo Pimenta se juntou ao ministros da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, e dos Transportes, Renan Filho, para apresentar um balanço das ações do Governo Federal para apoiar o estado.

“É um ministério que vai trabalhar muito junto ao governo do estado e às prefeituras municipais, mostrando o compromisso do presidente Lula de neste momento dramático mobilizar todo o esforço do Governo Federal para apoiar os gaúchos e gaúchas”, comentou.

Ele  também destacou as medidas anunciadas nesta quarta-feira (15) pelo Governo Federal, que, no âmbito do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), vai facilitar o acesso das famílias que perderam suas moradias e aproveitar imóveis de vários tipos para uso imediato nos municípios afetados .

“Todas as pessoas que recebem até R$ 4.400 e que perderam suas casas vão receber um imóvel novo do Governo Federal, até a faixa I e II do Minha Casa Minha Vida”, explicou.

Também foi criado o Auxílio Reconstrução de R$ 5.100, que será concedido para a compra de bens perdidos. A estimativa é de que cerca de 240 mil famílias sejam beneficiadas, a partir de um investimento de R$ 1,2 bilhão.

Além disso, Pimenta lembrou que os ministérios da Saúde e da Educação estão recebendo, desde terça-feira da semana passada, relatórios de perdas dos municípios, e que as cidades podem procurar os ministérios para apresentar seus planos de trabalho.

Estradas abertas

Já Renan Filho comentou o impacto das chuvas na infraestrutura rodoviária do estado.

Chegamos a ter 70 pontos de interrupção completa. Desses, já liberamos completamente 28. Temos 12 pontos com liberação parcial, que são pontos com acompanhamento, inclusive alguns com escolta por ainda estar grave a situação e só é permitido tráfego com escolta, mas ele permite levar alimentos, oxigênio, remédio e combustível”, relatou.

Sobre o fluxo das rodovias, o ministro atualizou que a BR-290 está liberada e sem nenhum ponto de interrupção, enquanto a BR-153 está liberada nos trechos que garantem acesso a Cachoeira do Sul.

A BR-116 está livre no sentido sul do estado, mas com dois pontos de bloqueio para o norte. Com relação à retomada do Aeroporto Salgado Filho, o ministro dos Transportes pontuou que só será possível fazer um prognóstico quando o nível das águas baixarem.

Planos de trabalho e estudos
Góes, por sua vez, ressaltou o atendimento federal às demandas dos municípios afetados pelas enchentes.

“O Governo Federal aprovou 249 planos de trabalho. Já tivemos 156 municípios atendidos por esses planos, com recursos da ordem de quase R$ 200 milhões, para ajuda humanitária”, informou.

Góes também esclareceu que as prefeituras podem incluir solicitações de serviços de retirada de água e de limpeza de bairros nos planos de trabalho encaminhados ao Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional.

Outro tema abordado no balanço feito pelos ministros foi a demanda apresentada do presidente Lula de realização de estudos de prevenção a desastres como o que atinge o Rio Grande do Sul. A previsão é que a iniciativa seja liderada pelo ministro Renan Filho.

“Primeiro, vamos ajudar as pessoas e ajudar a resolver a crise emergencial, por um lado. E, por outro lado, vamos resgatar o que foi feito para fazer funcionar e verificar o que, adicionalmente, precisará ser feito para, se vier uma forte chuva desta adiante, a gente não viver no Rio Grande do Sul a mesma coisa que estamos vivendo agora”, disse Filho.

Para isso, o Governo Federal pretende contratar três estudos.

  1. Como é possível conter parte da água na serra antes dela descer?
  2. Como é possível drenar mais rapidamente, em caso de subida, o Lago do Guaíba, a Lagoa dos Patos?
  3. Quais são as obras que precisam ser feitas nos diques à luz de uma recuperação dos diques existentes e também à luz do crescimento das cidades?

Estudo alemão

Lula ainda determinou ao Ministério dos Transportes que entre em contato imediatamente com uma agência alemã, uma das mais especializadas do mundo em contenção de marés e elevação de cursos d’água, para dar início a um estudo que leve a um projeto que ponha fim de forma definitiva às inundações em Porto Alegre.

O chefe de Estado brasileiro quer que um sistema mais moderno e eficiente de diques encerre de vez o drama sofrido pela capital gaúcha periodicamente. Renan Filho disso que o estudo será realizado em três partes. O primeiro deles é uma análise detalhada dos técnicos para que as águas sejam contidas ainda na serra e no Vale do Rio Taquari, impedindo que ela chegue em grande volume à Região Metropolitana de Porto Alegre, o que pode exigir uma restauração completa das matas daquelas localidades e a remoção de habitantes das zonas próximas, o que resultaria numa chegada menos brusca das águas ao Lago Guaíba.

Num segundo momento, a preocupação é em aumentar a vazão do Lago Guaíba e da Lagoa dos Patos, que são duas áreas que mesmo sem chuvas apresentam dificuldade em esvaziar após uma grande cheia, o que poderia envolver a construção de um canal para esse escoamento mais célere.

Por fim, será necessária uma revisão da totalidade dos diques que já existem em Porto Alegre e áreas adjacentes, para que outras falhas nesse processo de contenção das águas não voltem a ocorrer. O que se sabe preliminarmente é que o a inundação deste ano teria acontecido por um mau funcionamento desse mecanismo, que é antigo (inaugurado em 1974), e que não teria recebido manutenção adequada nas últimas décadas por desleixo dos governos locais, em nível estadual e municipal.