O próprio ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pediu, em 2013, para receber a Medalha do Pacificador com Palma, uma das principais honrarias militares, ainda quando era deputado federal, e um grupo seleto de “amigos militares” o atendeu.
A proeza realizada por Bolsonaro viria por uma ação de 40 anos antes, em 1978. Na ocasião, no 21º Grupo de Artilharia de Campanha, no Rio de Janeiro, ele teria ajudado a retirar da lagoa o soldado Celso Moraes Luiz, que se afogava.
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O objetivo do capitão com a condecoração, era mostrar que não é racista. O soldado salvo é um homem negro. Na época, o ex-presidente era alvo de um inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) para apurar se ele havia cometido racismo contra a cantora Preta Gil ao dizer a ela que seus filhos não se apaixonariam por mulheres negras.
"Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco, e meus filhos foram muito bem educados e não viveram em um ambiente como, lamentavelmente, é o teu", afirmou o político.
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Apenas amigos foram ouvidos
Entre os que juram que viram ou souberam que Bolsonaro salvou o soldado de afogamento, estão o ex-comandante do Exército, Enzo Martins Peri. O responsável pelo despacho favorável foi o então chefe de gabinete do comandante do Exército, general Mauro Lourena Cid.
Ele mesmo, o pai do tenente-coronel Mauro Cid, que viria a ser o seu ajudante de ordens quando exerceu a Presidência.
A condecoração foi, finalmente, entregue ao capitão reformado em 2018, após a eleição presidencial, pelo então comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, apesar do processo ter sido encerrado em 2013.
Documentos internos do Exército levantados pela Folha mostram uma saraivada de elogios a Bolsonaro. O processo de apuração do caso, segundo a reportagem, ouviu apenas militares sugeridos pelo ex-presidente em sindicância, que precisou da ajuda do general Enzo Peri para ser aberta.
As versões de todas as testemunhas indicadas por Bolsonaro no processo são parecidas, apesar de terem se passado 35 anos do fato apurado.
Durante a condecoração
Bolsonaro levou Celso junto quando recebeu a condecoração e o apresentou à imprensa:
"Está do meu lado o soldado Celso, que poderia até falar com vocês. E nós requeremos essa medalha quando começou a avolumar acusações que eu seria racista. E o soldado Celso, todo mundo vê, é um afrodescendente. Fui atrás dele, arrisquei a minha vida da mesma forma", disse Bolsonaro na ocasião.
O ex-soldado, por sua vez, não poupou elogios ao homenageado:
"É uma grande amizade que começou no ano de 1978 e que continua até hoje", disse Celso. Quando foi questionado se devia a vida a Bolsonaro, respondeu: "Abaixo de Deus, sim".
Com informações da Folha