TUTELA DE URGÊNCIA

Lula começa perdendo processo contra jornalista bolsonarista que o chamou de “demônio”

A ação diz respeito a um vídeo gravado por Luís Ernesto Lacombe em novembro passado; O comunicador afirmou que o presidente “fomenta discursos de ódio” e apelou para a religiosidade: “besta, demônio, diabo”

Lula e Luis Ernesto Lacombe.Créditos: Ricardo Stuckert e Reprodução/Redes Sociais
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O presidente Lula (PT) entrou com uma ação na última sexta-feira (5) contra o jornalista Luís Ernesto Lacombe, que no último mês de novembro gravou um vídeo proferindo uma série de insultos ao mandatário. O petista pediu a remoção do conteúdo com urgência, o que não foi concedido. O processo segue tramitando.

A informação foi publicada neste sábado (6) pela Rádio Itatiaia. Lacombe, que tem se destacado como um dos principais nomes do bolsonarismo entre jornalistas, produz conteúdos para a Gazeta do Povo. O vídeo em questão foi publicado em 3 de novembro de 2023 no canal do veículo.

"Lula não é exatamente burro, ainda que pareça. O sentido que lhe cabe da palavra besta é o ligado ao demônio, ao diabo, ao capeta, ao tinhoso. Talvez não sirva mais ele a expressão 'besta quadrada', que já quase não se usa. O que surge é uma expressão que deveria ser adotada imediatamente e incansavelmente: Lula é uma 'besta ao quadrado'. Ele não erra, não deseja o bem e tropeça, por uma falha qualquer humana. Sabe exatamente o desastre a que atira o país", disparou Lacombe.

O jornalista, em seu discurso atordoado, prossegue afirmando que Lula promove "atos diabólicos" e que deseja arrastar toda a população brasileira para a pobreza e "impedir qualquer chance de reação à maldade". O vídeo de Lacombe rapidamente viralizou entre apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

“O Lula precisa do seu dinheiro, caro pagador de impostos para fingir que salva você. A ideia é quebrar tudo, manter a escravidão, o que desaba sobre nós e desabará com mais força ainda a partir do ano que vem, não é o resultado de uma boa intenção equivocada de fórmulas furadas que aplicadas uma centena de vezes, a besta ao quadrado acredita que, de repente, num passe de mágica passarão a funcionar, passarão a resolver tudo”, disse em outro trecho.

À época, a página “Pesquisas e Análises Eleitorais” trouxe a denúncia ao público. O perfil incentivou os internautas a marcarem o perfil do então ministro da Justiça, Flávio Dino, para que providências fossem tomadas.

"DENÚNCIA: Luís Ernesto Lacombe, ex-jornalista da Globo, insulta e mente sobre o Presidente Lula. Por favor, marquem o Flávio Dino nos comentários. Precisamos punir esse ser de uma vez por todas. Ele disse que Lula era a encarnação do demônio e que o Presidente deseja apenas o empobrecimento moral e financeiro do brasileiro. Essa é a segunda vez que o ‘jornalista’ em questão chama Lula de demônio!", diz a publicação.

O começo da discussão judicial

O juiz Ernane Fidelis Filho, da 11ª Vara Cível de Brasília, analisou a tutela de urgência da ação neste sábado (6) e a negou, mantendo o vídeo de Lacombe no ar enquanto o mérito é discutido judicialmente. No seu entendimento, a comparação com a figura do demônio estaria dentro dos limites da crítica política. Ele considerou que o jornalista soube articular a adjetivação religiosa com a contextualização das políticas que pretende criticar.

“A utilização retórica da figura do demônio — encarnação do mal — não está desligada do contexto da crítica que fez à política do autor. Se não tivesse menção alguma ao que foi ressaltado acima, se estivesse chamando o autor de Lúcifer, Besta ao Quadrado — no sentido de maldade elevado ao quadrado — Satanás, imputando-lhe atos diabólicos, sem referência à política por ele adotada, que é exacerbadamente criticada — como algo mal, e daí a ligação com a sua encarnação — poderia haver, efetivamente, uma lesão à honra”, diz trecho do parecer.

O juiz não acredita que a fala de Lacombe possa causar danos à imagem do presidente, uma vez que já fazem 5 meses da sua publicação. Ele aponta que não há pressa para a retirada do vídeo em sua tutela de urgência e deu 15 dias para a defesa do jornalista se manifestar. O processo segue tramitando.