O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), foi o entrevistado do "Conversa com Bial" desta terça-feira (23). Durante a conversa, o parlamentar falou sobre a relação com o governo Lula e, na ocasião, pediu desculpas ao ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, a quem, publicamente, chamou de "incompetente" e "desafeto pessoal".
"Tenho erros e acertos. Não tenho problema em reconhecer o erro quando o cometo. Vinha apontando, reservadamente ao governo - e eles sabem disso - que há alguns meses a articulação do governo não está funcionando. Se você prestar atenção, há um esforço da presidência da Casa e do governo na Câmara para converter matérias, de modo que elas cheguem ao plenário muito maduras", desabafou Lira.
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Em seguida, Lira declarou que não vai impor pautas-bomba, mas desconversou sobre a instalação de CPIs. "Nesses dias, está sendo dito que Arthur está com muita virulência, vai instalar CPIs, vai fazer pautas-bomba [...] não houve nenhum governo, desde que cheguei à Câmara, que tenha tido melhores condições de governar o país do que o presidente Lula teve, dado por nós".
Padilha releva conflito com Lira e sacramenta: "Não tem crise"
Em entrevista à GloboNews neste domingo (21), o ministro de Relações Institucionais Alexandre Padilha, articulador do governo Lula com o Congresso e, em especial, com a Câmara dos Deputados, minimizou a importância da crise entre o executivo e o parlamento.
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"Não tem crise. Qualquer dificuldade de relação, diálogo, está absolutamente superada", disse.
"Fico sempre à disposição para conversar. Fico feliz que o diálogo está mantido porque nosso líder do governo no Câmara que tem mantido esse papel. Nosso diálogo com todos os líderes da Câmara, não só da base mas também da oposição, está absolutamente mantido", completou.
A chantagem de Lira
Desde dezembro, o relacionamento entre Padilha e Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, tem se esgarçado. Na semana passada, o alagoano chamou o petista de "incompetente" e aumentou a pressão contra o ministro.
Lira quer mais emendas, recursos e cargos no Governo Federal. Chantageia o governo e mantém um acordo tácito com o bolsonarismo que mantém a Câmara sempre à beira de uma crise.
Padilha faz concessões. No ano passado, por exemplo, indicou, sob demanda de Lira, André Fufuca (PP-MA) para o ministério dos Esportes e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) para o ministério de Portos e Aeroportos.
Agora, uma batalha pelo orçamento se dá no Senado e na Câmara. Lira e Pacheco querem expandir as "emendas pix" - transferências diretas -, que saem direto do cofre do executivo para que os deputados executem obras em seus currais eleitorais.
O governo resiste e tenta batalhar para manter seu orçamento em dia para realizar entregas. Ainda mais em um ano de eleições municipais.
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O ponto de inflexão entre Padilha e Lira foi a questão Chiquinho Brazão (UB-RJ). A manutenção da prisão do deputado, acusado de ser o mandante do assassinato de Marielle Franco, passou por voto na Câmara.
Lira queria tirá-lo da cadeia, porque fez um acordo com o bolsonarismo. Padilha "virou votos" e conseguiu manter o parlamentar preso.
A vitória foi um tour de force de Padilha. Lula dobrou a aposta e afirmou que, "só de teimosia", manteria o ministro "por muito tempo".
"Da minha parte, não tem qualquer rompimento de diálogo", disse Padilha. Agora, a bomba está no colo de Lira.