PRIVATIZAÇÃO DE CEMITÉRIOS EM SP

Concessionária cobra R$ 523 de família de PM por uso de capela em cemitério

Capela era gratuita antes da privatização do cemitério pelo prefeito Ricardo Nunes; família se diz ultrajada

Parentes do PM em frente à capela.Créditos: Arquivo Pessoal
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Os familiares do Policial Militar aposentado Elisier Ceballos, de 65 anos, ficaram indignados e com toda a razão. Foi cobrado deles pela concessionária do Cemitério da Saudade, em São Miguel Paulista, Zona Leste de São Paulo, o valor de R$ 523,00.

A taxa era pelo uso da capela do local para fazer uma oração final de despedida do sargento, que morreu após uma longa luta contra um câncer.

A capela, segundo os familiares, era um equipamento público e gratuito antes da privatização dos cemitérios, operada pela gestão do prefeito Ricardo Nunes (PMDB).

Como alternativa à cobrança, os familiares pediram ao coveiro que abrisse o caixão do lado de fora da capela para que fosse realizada a cerimônia.

"Nunca vi isso na vida. Uma capela, que é chamada casa de Deus, fechar as portas para um filho querido na hora da precisão e da morte. É ultrajante e uma humilhação sem tamanho pra todos nós que ficamos e para meu irmão, que serviu ao Estado durante toda sua vida", disse o comerciante Alessandro Ceballos, irmão do sargento morto.

"A gente já tinha pagado R$ 5.200 pelo sepultamento e todas as taxas. Como ele era PM muito querido, o velório foi na 2º Batalhão da Polícia Militar onde ele trabalhou a vida toda. Não íamos fazer velório no cemitério, mas, mesmo assim, a empresa nos cobrou R$ 500 pelo velório que não ocorreu. Quando a gente disse que não queria velório, eles disseram que iam abater o preço, mas só descontaram R$ 200 no valor final", contou ainda o irmão.

"Acontece que o Batalhão da PM ficava a uns seis quilômetros de distância do cemitério. E muitos amigos não conseguiram se despedir. E quando a gente chegou para o sepultamento, muita gente estava lá. Um amigo pastor se propôs a fazer uma oração de despedida. Pedimos para usar a capela por 15 minutos. Mas eles negaram abrir sem o pagamento da taxa", disse.

"Foi humilhante e dizer que a gente está indignado é pouco. Porque alguém que dedicou a vida pra salvar a sociedade, não merecia passar na morte o maior ultraje que já viveu na vida", declarou o irmão.

O que diz a concessionária

Procurada pelo g1, a concessionária Grupo Maya, que administra o Cemitério da Saudade, confirmou o valor de R$ 523 por hora, cobrado pela capela à parte dos demais custos de velório, sepultamento e outras taxas.

"Com relação aos serviços contratados e prestados para a despedida do Sr. Elisier Ceballos, cabe esclarecer que o velório ocorreu no dia 19/04, às 21h, no 2º Batalhão da Polícia Militar, na Avenida Amador Bueno da Veiga, 2774, com o sepultamento direto agendado para às 8h do dia 20/04. Informamos que o sepultamento direto, como no caso, não envolve uma despedida no cemitério", declarou o Grupo Maya.

Entrou em vigor em março de 2023 e completou um ano no mês passado o contrato de concessões com as empresas administradoras dos cemitérios.

CPI

Os problemas nos cemitérios, no entanto, continuam os mesmos de antes. Por conta disso, vereadores da oposição na Câmara Municipal de São Paulo pretendem criar uma CPI para apurar a atuação das concessionárias.

Até esta quarta-feira, o requerimento do vereador Arselino Tatto (PT) conseguiu apenas 16 das 19 assinaturas necessárias para a abertura da comissão

Com informações do g1