O senador Sergio Moro (União Brasil), ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (PL), perdeu a linha nesta quarta-feira (17) com o deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR) nas redes sociais. Zeca, que é filho de José Dirceu (PT-SP), fez uma postagem comentando as investigações que apuram condutas ilícitas da Lava Jato.
“Cassação ou cadeia? Ou melhor, ambas as coisas! Agora, Moro terá que explicar o inexplicável e o fará também na esfera criminal. Justiça seja feita”, escreveu Zeca Dirceu ao compartilhar matéria da CNN Brasil sobre o relatório da Corregedoria Nacional de Justiça (CNJ) que diz que Moro, Deltan Dallagnol e a juíza Gabriela Hardt teriam desviado R$ 2,5 bilhões dos cofres públicos brasileiros através da Lava Jato.
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O ex-juiz viu a postagem, se irritou e comentou: “Cadeia é coisa do teu pai”.
Moro fez referência às três vezes em que José Dirceu, outrora cotado para substituir Lula ao término do seu segundo mandato, acabou preso. A primeira vez foi em 2013, quando foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal por corrupção ativa no caso do mensalão; a segunda vez em 2015, acusado de receber propinas diretamente pela Lava Jato; e a terceira vez em 2018 por determinação de Gabriela Hardt, que substituía Moro nos casos da Lava Jato após o ex-juiz ser nomeado ministro da Justiça de Bolsonaro.
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O destempero de Moro vem num momento complicado para o ex-juiz. Apesar da vitória que obteve no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná contra o processo que pede a cassação do seu mandato de senador, PL e PT devem recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral. A isso se somam as acusações relativas à Lava Jato. Conforme diversos analistas políticos da imprensa nacional têm dito ao longo dessa jornada, é um péssimo momento para o ex-juiz perder o controle.
A “Fundação Dallagnol”
Segundo o relatório da CNJ, o dinheiro seria oriundo de multas cobradas à Petrobrás e serviriam para criar uma fundação, apelidada de “Fundação Dallagnol”, pela qual os valores seriam administrados nos EUA. A trama foi revelada em julho de 2023 pela Operação Spoofing, da Polícia Federal, e se baseou na troca de mensagens entre Dallagnol e procuradores suíços.
Nas conversas, realizadas em 29 de janeiro de 2016, Dallagnol falava para os procuradores suíços como haviam sido as primeiras tratativas com os americanos.
“Meus amigos suíços, acabamos de ter uma reunião introdutória de dois dias com a SEC dos EUA. Tudo é confidencial, mas eu disse expressamente a eles que estamos muito próximos da Suíça e eles nos autorizaram a compartilhar as discussões da reunião com vocês”.
Na mensagem a seguir, o então procurador da Lava Jato detalha as negociações. A ideia era impor uma multa astronômica à Petrobrás para, depois, dividi-la.
“Proteção às testemunhas de cooperação: eles protegerão nossos cooperadores contra penalidades civis ou restituições; Penalidades relativas à Petrobras. O pano de fundo: o DOJ e a SEC aplicarão uma penalidade enorme à Petrobras, e a Petrobras coopetou (sic) totalmente com eles. Não precisariam da nossa cooperação, mas isso pode facilitar as coisas e, se cooperamos, entendemos que não causaremos nenhum dano e poderemos trazer algum benefício para a sociedade brasileira, que foi a parte mais prejudicada (e não os investidores dos EUA). Como estávamos preocupados com uma penalidade enorme para a Petrobras, muito maior do que tudo o que recuperamos no Brasil, e preocupados com o fato de que isso poderia preojudicar a imagem da nossa investigação e a saúde financeira da Petrobras, pensamos numa solução possível, mesmo que não seja simples. Eles disseram que se a Petrobras pagar algo ao governo brasileiro em um acordo, eles creditariam isso para diminuir sua penalidade, e que o valor poderia ser algo em torno de 50% do valor do dinheiro pago nos EUA”.