O ex-deputado federal e ex-ministro-chefe da Casa Civil no primeiro mandato do presidente Lula (PT), além de figura histórica da luta armada contra a Ditadura Militar, José Dirceu, discursou na tribuna do Senado da República nesta terça-feira (2) após 19 anos sem entrar no Congresso Nacional. Ele foi convidado pelo senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP) para participar de uma solenidade que teve como pauta “a defesa da democracia”.
Liderança inconteste da esquerda brasileira e um dos maiores estrategistas políticos do país nas últimas décadas, Dirceu foi um alvo atacado implacavelmente desde os primeiros dias de Lula na Presidência, ainda no início dos anos 2000, o que culminou com a cassação de seu mandato de deputado em 2005 e nas condenações de 2012, no STF, por ter sido envolvido nas denúncias da Ação Penal 470, popularmente chamada de escândalo do Mensalão, e 2016, pelas mãos de Sergio Moro, no âmbito da Operação Lava Jato.
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Na tribuna, o veterano quadro da esquerda brasileira falou sobre vários temas, como democracia, as condições socioeconômicas dos brasileiros e recortes históricos referentes ao período do golpe militar de 1964 e das duas décadas seguintes de um país sob ditadura.
“Quase não aceitei [o convite], porque desde o dia da madrugada de 1º de dezembro [do ano de 2005], quando a Câmara dos Deputados cassou meu mandato, que o povo de São Paulo tinha me dado pela 3ª vez, eu nunca mais voltei ao Congresso Nacional. Mas acredito que João Goulart merecia e merece a minha presença hoje aqui”, disse o ex-ministro e ex-parlamentar, em referência ao presidente da República derrubado pelos militares.
Ele também atacou o sistema financeiro brasileiro que tantos prejuízos impõe à população, citando a necessidade uma verdadeira revolução social que traga mais igualdade e paz às pessoas.
“Um trabalhador paga 30%, 40% de juros para comprar qualquer bem. Então, a estrutura tributária, em vez de desconcentrar renda, concentra renda; e o país fica no subconsumo, fica, como se diz, no voo de galinha. Para desenvolver esse país e para ele encontrar o seu destino, é preciso fazer uma revolução social, que significa uma reforma tributária, uma mudança na estrutura financeira do país, e priorizar a ciência, a tecnologia e a educação. O Brasil precisa de uma revolução educacional. Em 10 anos, nós temos que fazer 100 anos”, afirmou Dirceu da tribuna.
Já em alusão ao tema da solenidade para a qual foi convidado, o ex-ministro falou sobre a fragilidade de nosso sistema democrático e fez um apelo para que reformas modifiquem e fortaleçam as estruturas deste sistema no Brasil.
“A democracia está em risco porque não se fizeram as reformas estruturais, porque não há uma democracia social. Quando a democracia social deixa de existir, a democracia institucional política corre o risco. Então, nosso papel, para consolidar a democracia brasileira, é fazer uma revolução social no Brasil”, falou ainda.
Veja o vídeo com a íntegra do discurso de Zé Dirceu: