Considerado por militares o "tiro de misericórdia" em Jair Bolsonaro (PL), o depoimento do ex-comandante do Exército, general Marco Antonio Freire Gomes, à Polícia Federal implica diretamente o ex-presidente na elaboração da minuta golpista e na articulação do plano para impedir que Lula voltasse ao Planalto após vencer as eleições em outubro de 2022.
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No depoimento de quase oito horas realizado na sexta-feira (1º), Freire Gomes afirmou que foi o próprio Bolsonaro, juntamente com o então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, quem lhe apresentou duas versões da mintua golpista.
A declaração de Freire Gomes coincide com a delação do tenenta coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, que teria dito à PF que o ex-presidente recebeu do então assessor especial da Presidência, Filipe Martins, a primeira versão, que previa a prisão dos ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado.
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Bolsonaro, no entanto, teria enxugado o documento, que em sua segunda versão previa apenas a prisão de Moraes, seu principal desafeto.
Freire Gomes ainda relatou que obedecia ordens diretas de Jair Bolsonaro para que não desmontasse os acampamentos golpistas em frente aos quartéis-generais - especialmente em Brasília, onde foi gestado o 8 de Janeiro.
No entanto, teria reiterado que, desde o princípio, se opôs ao golpe, o que fez com que virasse alvo do também general - da reserva - e candidato a vice, general Walter Braga Netto.
A oposição ao golpe também partiu do ex-comandante da Aeronáutica, Carlos Baptista Júnior, que confirmou a versão em depoimento no dia 23 de janeiro à PF. Baptista Júnior também virou alvo dos achaques e de memes de Braga Netto.
Segundo os investigadores, tanto o depoimento de Freire Gomes, quanto o de Baptista Júnior, foram "consistentes" e "reveladores", e teriam preenchido "lacunas" da delação de Cid.
O depoimento implica diretamente Bolsonaro como líder da organização criminosa golpista. Segundo Freire Gomes, por exemplo, foi do ex-presidente a iniciativa de convocar o general Estevam Theophilo, comandante do Coter, para mobilizar as Forças Especiais do Exército, os chamados "kids pretos".
Os ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica também confirmaram ao menos duas reuniões da cúpula das Forças Armadas com o então ministro da Defesa para tratar do golpe. Apenas o comandante da Marinha, Almirante Almir Garnier, teria aderido prontamente ao chamamento de Paulo Sérgio Nogueira.
Um dos encontros, após a derrota nas eleições, foi convocado pelo próprio Bolsonaro, que incumbiu o ministro da Defesa de liderar a "cadeia de comando" das Forças Armadas para o golpe.