O relatório final da Polícia Federal sobre as investigações dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, enviado à Justiça e à Procuradoria-Geral da República mostra que o delegado acusado de ser um dos três mandantes do crime, Rivaldo Barbosa, foi “bancado” para o cargo de Chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro por um general do Exército ligado ao também general Walter Braga Netto, que à época do crime, no início de 2018, era o interventor federal no Rio. Braga Netto é uma das figuras mais ilustres e poderosas da extrema direita brasileira e foi o candidato a vice-presidente da República na chapa de Jair Bolsonaro (PL) em 2022.
O general Richard Nunes, então secretário de Segurança Pública nomeado pelo interventor Braga Netto, insistiu muito para a nomeação de Barbosa para comandar a Polícia Civil fluminense, mesmo existindo contra o delegado uma série de contraindicações apontadas em relatórios da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública, que mostrava, com base em documentos do Gaeco (Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado), do Ministério Público do Rio de Janeiro, que Rivaldo era apontado como recebedor de vantagens indevidas durante o período em que foi o responsável pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). Na prática, os autos manifestavam que o policial era corrupto e mantinha ligações com o crime organizado.
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Como “argumento” para insistir na nomeação de Rivaldo para a chefia da Polícia Civil, o general Nunes advogou defendendo o delegado ao dizer que “tais contraindicações não eram pautadas em dados objetivos”. De fato, Rivaldo foi nomeado para o cargo em 13 de março de 2018, um dia antes da morte de Marielle, que agora é atribuída a ele e aos irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, o primeiro deputado federal e o segundo conselheiro do TCE-RJ.
As informações que levantam o nome dos generais Braga Netto e Richard Nunes como agentes relacionados à nomeação de Rivaldo como delegado-geral da Polícia Civil no estado constam a partir da página 277 do relatório final da PF, que teve seu sigilo levantado, junto com outros vários documentos da investigação do crime sofrido por Marielle Franco, neste domingo (24) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.