8º DIA DE PARALISAÇÃO

São Paulo: Greve do servidores públicos municipais encurrala Ricardo Nunes

Na última rodada de negociação, trabalhadores rejeitaram a fraca proposta de aumento e apontaram que o prefeito está “segurando bilhões”; Movimento questiona sucateamento do serviço público

Ato dos servidores públicos de São Paulo.Créditos: Reprodução/Sindsep
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Desde o último dia 13 de março que servidores municipais da cidade de São Paulo estão em greve por melhores salários, condições de trabalho, pela realização de concursos e para denunciar o desmonte do serviço público promovido pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB) em pleno ano de eleição. Nesta quinta-feira (21) tivemos o 8º dia de paralisação.

Na última terça-feira (19) mais de 20 mil servidores participaram de um grande ato diante da Câmara Municipal, enquanto se discutia um reajuste salarial das categorias. Enquanto os trabalhadores pediam reajuste de 16%, o prefeito Ricardo Nunes – que recentemente reajustou seu próprio salário em 46% - ofereceu míseros 2,16%. Uma assembleia rapidamente foi formada pelos grevistas que decidiram seguir com a greve.

Entre as diversas categorias que paralisaram estão os agentes de combate à endemia, os mesmos que trabalham na prevenção da dengue, que hoje registra um surto na capital paulista e em diversos lugares do Brasil. A cidade está em estado de emergência por conta da doença. Segundo o Sindsep (Sindicado dos Servidores Municipais de São Paulo), 70% das Unidades de Vigilância em Saúde (Uvis) estão paradas. As Uvis, por sua vez, estão no guarda-chuva da Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa).

João Gabriel, presidente do Sindsep, falou ao Brasil de Fato que a proposta de Nunes não será levada em consideração pois não cobre sequer a inflação do último período. “É uma brincadeira com o servidor. Rejeitamos a oferta e ficaremos aqui até que o projeto seja votado, para revertermos esse deboche”, declarou.

Ao mesmo veículo, o vereador Carlos Giannazi (Psol) afirmou que o reajuste de 2,16% representa, na verdade, uma desvalorização da categoria. “Tem recurso em caixa para fazer um reajuste melhor, é o momento econômico e financeiro da prefeitura. A proposta é realmente um deboche”, falou.

Silvia Ferraro (Psol), vereadora e ex-professora da rede municipal, vai na mesma linha. Ela deu uma longa entrevista ao Correio da Cidadania, jornal sindical fundado por Plínio de Arruda Sampaio [figura histórica para o PT e o Psol] nos anos 90, explicando o contexto da greve.

“O que deflagrou a greve dos servidores municipais foi o índice muito baixo de reajuste proposto pela prefeitura, de apenas 2,16%, que não repõe nem a inflação do último ano. Outro ponto importante foi a ausência de proposta em relação à questão do confisco salarial aplicado aos aposentados e pensionistas, que já pagaram a previdência e continuam pagando novamente 14%, e assim vivem numa situação bem precária. Além disso, não tem propostas de melhorar as condições de trabalho dos servidores. Na educação em particular tem a questão da reposição de perdas de 39% de campanhas salariais passadas, onde o índice não foi correspondente à inflação do período. O impacto desse reajuste oferecido pelo prefeito é da casa de R$ 550 milhões. E a gente sabe que tem R$ 30 bilhões de reais no caixa da prefeitura, nesse exato momento”, explica Ferraro.

Sobre a educação, sua área profissional, Ferraro aponta que as propostas apresentadas pela Prefeitura precarizam e desvalorizam o trabalho dos servidores. Também aponta Nunes como o pior gestor para a área que a cidade já teve.

“O prefeito atual faz uma das piores gestões, porque é a mais distante dos profissionais de educação, é mais burocratizada, não faz reuniões com os diretores de escola, reuniões com os professores, não tem essa proximidade. Em outras gestões, mesmo as que não eram necessariamente progressistas, havia mais conversa e diálogo entre a gestão e quem está na ponta do serviço público”, avaliou.

Para a vereadora, o que o prefeito faz é avançar a terceirização e a privatização dos serviços públicos ao precarizar tanto as condições de trabalho dos servidores como o próprio serviço oferecido. A terra arrasada serviria como barganha para o desenvolvimento dos processos supracitados.

“A gestão do Ricardo Nunes, se eu fosse definir em uma única palavra, é uma gestão burocratizada, uma gestão de gabinete, uma gestão que não ouve e não dialoga com a categoria dos servidores públicos, sejam eles da educação, da saúde, da assistência. Em todos os setores dos serviços públicos existe uma reclamação generalizada de falta de escuta, uma gestão bastante inacessível do ponto de vista de diálogo e uma gestão que, na verdade, pretende privatizar e terceirizar cada vez mais os serviços públicos”, declarou.