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Filha do operador de fraudes em cartões de vacinação suplicou ao pai: “por favor, não falsifica”

A conversa está no relatório da Polícia Federal; João Carlos Brecha, ex-secretario de governo de Duque de Caxias (RJ), fazia a inserção dos dados fraudulentos no esquema que envolveu Bolsonaro

João Carlos Brecha.Créditos: Reprodução/Linkedin
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Um diálogo bastante curioso consta no relatório da Polícia Federal divulgado nesta terça-feira (19) que indiciou Jair Bolsonaro (PL) pelo esquema de falsificação de cartões de vacinação. Na conversa realizada por meio do WhatsApp, o ex-secretário de governo de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense (RJ), João Carlos Brecha, troca mensagens com sua filha, que não teve o nome revelado.

Brecha é apontado como o operador do esquema e para os investigadores a conversa confirma que ele estaria por trás da inserção de dados fraudulentos nos cartões de vacinação de Bolsonaro e de uma série de outras pessoas que se beneficiaram do esquema. O ex-secretário já havia sido preso em maio de 2023 após admitir a utilização da senha de uma enfermeira para realizar as falsificações.

Em 19 de outubro de 2022, a filha do ex-secretário suplicou ao pai que não falsificasse o seu cartão de vacinação, uma vez que iria se vacinar nos dias subsequentes.

“Papai, eu vou tomar a vacina do Covid-19, a segunda dose. Não falsifica [meu cartão de vacinação], por favor”, escreveu a moça.

Ao receber a súplica da filha, Brecha concordou em não falsificar os dados. “Tá bom, meu amor. Você é muito corajosa”, respondeu.

Reprodução/PF

A moça já tinha tomado a primeira dose em 13 de junho daquele ano e fez o anúncio num grupo de WhatsApp: “Tomei a vacina, não doeu”.

Bolsonaro indiciado

No relatório final da PF em que pede o indiciamento de 17 pessoas, o delegado Fábio Alvarez Shor afirma que, em depoimento, o tenente coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, relatou que recebeu ordens diretas de Jair Bolsonaro para criar certidões fakes de vacinação contra a Covid-19 para ele próprio e a filha com Michelle, Laura Bolsonaro, de 13 anos.

A ordem dada por Bolsonaro a Cid foi repassada ao major da reserva Ailton Gonçalves Moraes Barros, que foi preso juntamente com o tenente coronel em maio do ano passado, no início das investigações.

Segundo a investigação, a ordem foi dada após Bolsonaro saber que Cid já havia falsificado cartões de vacina para a esposa, Gabriela Santiago Ribeiro Cid e as filhas, Isabela Ribeiro Cid e Giovana Ribeiro Cid, para que pudessem viajar aos EUA.

De acordo com a investigação, Cid usou o próprio login para imprimir os certificados fraudados em um computador dentro do Palácio da Alvorada, em 27 de dezembro de 2022, para que Bolsonaro pudesse entrar nos EUA, para onde fugiu dois dias depois, antes da posse de Lula.

Mauro Cid relatou ainda que o coronel Marcelo Câmara, que também atuava na ajudância de ordens da Presidência, rasgou as certidões e deu início, em seguida, a uma operação para excluir os dados do sistema do SUS e "apagar os rastros das condutas criminosas", segundo a PF.

Além de Bolsonaro e Cid, a PF indiciou outras 15 pessoas que atuaram na organização criminosa. Veja quem são:

  • Jair Messias Bolsonaro, ex-presidente da República;
  • Mauro Barbosa Cid, coronel do Exército e ex-ajudante de ordens da Presidência da República;
  • Gabriela Santiago Cid, esposa da Mauro Cid;
  • Gutemberg Reis de Oliveira, deputado federal (MDB-RJ);
  • Luis Marcos dos Reis, sargento do Exército que integrava a equipe de Mauro Cid;
  • Farley Vinicius Alcântara, médico que teria emitido cartão falso de vacina para a família de Cid;
  • Eduardo Crespo Alves, militar;
  • Paulo Sérgio da Costa Ferreira
  • Ailton Gonçalves Barros, ex-major do Exército;
  • Marcelo Fernandes Holanda;
  • Camila Paulino Alves Soares, enfermeira da prefeitura de Duque de Caxias;
  • João Carlos de Sousa Brecha, então secretário de Governo de Duque de Caxias;
  • Marcelo Costa Câmara, assessor especial de Bolsonaro;
  • Max Guilherme Machado de Moura, assessor e segurança de Bolsonaro;
  • Sergio Rocha Cordeiro, assessor e segurança de Bolsonaro;
  • Cláudia Helena Acosta Rodrigues da Silva, servidora de Duque de Caxias;
  • Célia Serrano da Silva.

Leia a íntegra do relatório (parte 1 e parte 2)