A consistência das provas apresentadas pela Polícia Federal (PF) para ter o aval de Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), e desencadear a megaoperação contra o golpismo de Jair Bolsonaro (PL) desnorteou o clã, que teve uma reação pífia e criou uma narrativa que não convence nem mesmo aliados próximos.
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Primeira a se pronunciar, Michelle Bolsonaro (PL) se limitou a compartilhar um versículo bíblico e criar uma narrativa sobre a manutenção da viagem aos EUA com a senadora Damares Alves (Republicanos) para um tour em igrejas evangélicas.
Em tom de ironia, a ex-primeira-dama publicou um vídeo em que aparece na sede do PL Mulher para mostrar que não pretende "fugir" para os EUA.
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Michelle ainda publicou uma entrevista em que o senador Eduardo Girão (Novo-CE) ecoa a tese de "perseguição", sem se pronunciar sobre o que motivou a operação em si.
O próprio Bolsonaro permanece inerte após a ação da PF, quando deu um chilique em entrevista à Mônica Bergamo.
Cumprindo as ordens de Alexandre de Moraes - de entregar o passaporte e se manter afastado de outros investigados -, o ex-presidente usa a estratégia de atacar Lula nas redes e fez coro com Michelle, ao compartilhar uma oração no seu canal no Telegram na noite desta quinta-feira (8).
Filhos
Coube aos filhos, especialmente Eduardo (PL-SP) e Flávio Bolsonaro (PL-RJ), montar uma narrativa "técnica" para tentar rebater as provas robustas apresentadas pela PF sobre o "planejamento e execução do golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito".
Nas redes sociais, o senador atacou Lula e deu uma explicação esdrúxula sobre o documento com decreto de Estado de Sítio encontrado na sala de Bolsonaro na sede do PL.
"A mesma minuta do “golpe” (que nunca foi cogitado) de Cid foi encontrada na sede do PL porque @jairbolsonaro pediu que a imprimissem para ele tomar ciência do que se tratava, já que nunca a tinha visto", justificou Flávio.
No entanto, o documento não tem nada a ver com a minuta golpista, elaborada por Filipe Martins, alterada por Bolsonaro e encontrada na casa do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres.
O documento recolhido na sala do ex-presidente seria, na verdade, um discurso que seria lido caso o golpe fosse consumado.
Em entrevista na noite de quinta-feira, Eduardo Bolsonaro tentou fazer uma ilusória relação entre atos do pai e as ações desencadeadas pela PF.
O deputado atacou Alexandre de Moraes alegando que o ministro "reage a demonstrações de força de Bolsonaro", como no caso da ação da PF contra Carlos Bolsonaro um dia após a "superlive" do clã.
Segundo ele, o mesmo teria ocorrido nesta quinta, quando a PF fez nova incursão na casa de veraneio da família, em Mambucaba (RJ), para confiscar o passaporte de Bolsonaro, um dia após o ato esvaziado em São Sebastião, no litoral paulista.
Eduardo ainda inverte a ordem, dizendo que "não [é operação] da Polícia Federal" e sim "a mando de Alexandre de Moraes"
"A população inevitavelmente acaba embaralhando as coisas, generalizando, e está puxando de toda a Polícia Federal para baixo", diz o filho "03".
O deputado, no entanto, não menciona que foi a PF quem pediu ao judiciário para desencadear a operação diante da avalanche de provas. E que o pedido foi feito no final de janeiro, antes de Bolsonaro sequer cogitar fazer um ato em São Sebastião.
Ao final da live, o próprio Eduardo Bolsonaro revela que a narrativa propagada pelo clã não tem tido impacto entre os aliados que, segundo ele, estariam "desanimados", lendo as mensagens do chat.
"Pessoal, já estamos encaminhando para o final aqui. Mas, antes, eu estava acompanhando vários comentários que estão acontecendo no YouTube. E eu entendo que muitas pessoas estejam desanimadas. Mas, o caminho do justo é sempre mais trabalhoso", disparou.
Na tentativa desesperada de não desmobilizar a horda extremista, Eduardo apelou ao finado Olavo de Carvalho, guru do clã e da ultradireita fascista.
"Quando eu fiz um reels chamando vocês para cá, eu lembrei logo de Olavo de Carvalho. Não parar, não retroceder, não precipitar. Então, os ventos ruins, o mar agitado, faz parte da vida. A gente não deseja isso. Mas, tenho certeza, que quando cruzarmos esse mar agitada, vamos sair mais fortalecidos, experientes e conseguir fazer um Brasil muito melhor", disse o deputado, tentando vender o curso conservador que disponibilizou ao lado de Carlos Bolsonaro.
"Gente golpe não se dá no papel. Golpe se dá na ponta do fuzil, com armas, com mortes", disse o deputado, sem explicar as acusações que recaem sobre o pai.
Desmobilização
A narrativa do clã Bolsonaro não convenceu os internautas e teve uma repercussão desprezível entre aliados no Congresso Nacional.
Com o Centrão, antigo aliado do bolsonarismo calado, apenas parlamentares extremistas, capitaneados pelo senador Rogério Marinho (PL-RN) se reuniram para entrevista e fizeram uma defesa tímida de Bolsonaro.
"Até em defesa da democracia brasileira, é importante que tenhamos um processo isento. Reafirmamos que ninguém está acima da lei: nem eu, nem os senadores aqui presentes, nem o presidente Lula, nem o ex-presidente Bolsonaro, nem tampouco o ministro Alexandre de Moraes", disse Marinho.
Os parlamentares encamparam a narrativa de que é Moraes quem está à frente da investigação - "quem é vítima não pode investigar, não tem imparcialidade, não tem isenção para estar à frente de um inquérito - e que como não houve golpe, não houve crime.
A tese, no entanto, é refutada pelo mundo jurídico já que a própria tentativa de golpe de Estado se configura crime.
"Não vou considerar que o que houve no dia 8 [de janeiro de 2023] por pessoas e movimentos da sociedade, desarmados e sem liderança, seja golpe. O problema é querer construir uma narrativa em cima de fragmentos para sustentar o que não houve", afirmou Carlos Portinho, líder do PL no Senado.