TEMPUS VERITATIS

Golpista, padre alvo da PF cria vaquinha para comprar celular novo

José Eduardo de Oliveira e Silva, da diocese de Osasco, teve o aparelho levado na busca e apreensão feita pela Polícia Federal. Ele é acusado de fazer parte de núcleo da Organização Criminosa de Bolsonaro.

Padre José Eduardo está associado ao conservadorismo de Ricardo Nunes e de Jair Bolsonaro.Créditos: Reprodução/Instagram/@pejoseeduardo
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O padre José Eduardo de Oliveira e Silva, da diocese de Osasco (SP), criou uma "vaquinha" para comprar um celular e um computador, objetos apreendidos pela Polícia Federal em mandado da operação Tempus Veritatis, deflagrada na manhã de quinta-feira (8). O pároco foi alvo da PF por envolvimento na trama golpista

Seu perfil publicou um comunicado no stories do Instagram: "O padre José Eduardo está incomunicável, pelos motivos evidentes: Retiraram seu celular e seu computador. Se alguém quiser ajudar o padre a adquirir novos equipamentos, segue o pix".

Além do mandado de busca e apreensão, o padre também deverá seguir a proibição de manter contato com os demais investigados, inclusive por meio de advogados, e de se ausentar do país, com determinação de entrega de passaportes dentro de 24 horas.

Padre no golpe

De acordo com a petição assinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), Oliveira e Silva participou de uma reunião no dia 19 de novembro de 2022, no Palácio do Planalto, junto do ex-assessor especial de Jair Bolsonaro (PL), Filipe Martins, e o advogado Amauri Feres Saad. Seus nomes estavam registrados no controle de entrada e saída do prédio.

Ainda, as autoridades policiais apontam que o padre "possui um site com seu nome no qual foi possível verificar diversos vínculos com pessoas e empresas já investigados em inquéritos correlacionados a produção e divulgação de notícias falsas", informa o documento, em referência ao inquérito nº 4.781, das fake news, no Supremo.

Oliveira e Silva era membro do núcleo jurídico do grupo criminoso atuante para desacreditar no processo eleitoral, planejar e executar o golpe de Estado e abolir o Estado Democrático de Direito.  

Além dele, o núcleo era composto por Filipe Martins, Amauri Saad, e pelo tenente-coronel e ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, e o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres.

A atuação do núcleo foi descrita pelo relator como o "assessoramento e elaboração de minutas de decretos com fundamentação jurídica e doutrinária que atendessem aos interesses golpistas do grupo investigado".

Em nota, o padre manifestou-se em relação ao inquérito dos atos antidemocráticos: "Romper com a ordem estabelecida seria profundamente contrário aos meus princípios [...] Portanto, não cooperei nem endossei qualquer ato disruptivo da Constituição", escreveu.

Quem é o padre golpista 

O padre José Eduardo de Oliveira e Silva, da Paróquia São Domingos em Osasco, foi alvo da operação Tempus Veritatis, como suspeito de integrar o grupo jurídico envolvido na elaboração de decretos para um suposto golpe de Estado após as eleições de 2022, conforme decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF. 

Nascido em Piracicaba, no interior de São Paulo, o padre possui doutorado em teologia moral pela Universidade da Santa Cruz, de Roma, e ganhou notoriedade em 2017 por suas declarações fundamentalistas sobre a ideologia de gênero, tornando-se uma figura proeminente nas redes sociais. 

Em suas redes sociais, escreveu que tinha "saudades dos tempos em que o banheiro servia só para necessidades fisiológicas e não para exibicionismos de autoafirmação sexual".

O padre já havia sido homenageado pelo então vereador Ricardo Nunes (MDB) em uma sessão solene na Câmara Municipal de São Paulo, além da condecorado com a "Salva de Prata", a maior honraria concedida pela Casa a um indivíduo.

Na ocasião, em 2016, ele colaborou com Nunes pela retirada do termo "gênero" do Plano Nacional de Educação (PNE), sob a alegação de que o debate sobre o gênero nas escolas municipais seria parte de uma doutrina com o objetivo de acabar com a "família tradicional".

Oliveira e Silva foi homenageado pelo "excelente trabalho que desenvolveu junto ao Plano Nacional e Municipal da Educação, valorizando a família contra a ideologia de gênero", enquanto manifestantes do movimento LGBTQIA+ eram reprimidos pela Polícia Militar na sessão.

Em dezembro do ano passado, em uma entrevista ao portal Aleteia, ele criticou publicamente o anúncio do Vaticano permitindo a bênção de relacionamentos entre casais do mesmo sexo: "Rezamos pela conversão dos pecadores e podemos dar-lhes a bênção como um estímulo a que se aproximem mais do Senhor", declarou.

"A Igreja sempre ensinou que aqueles que estão em pecado mortal não estão em estado de graça habitual, mas podem receber aquilo que chamamos de graça atual, ou seja, um impulso sobrenatural que dispõe o homem ao arrependimento, à conversão e à recuperação da graça santificante", disse o padre.

O posicionamento do padre gerou controvérsias e atraiu atenção adicional após a Polícia Federal realizar buscas em sua residência, relacionadas a suspeitas de envolvimento em um suposto esquema golpista. 

Em nota, a Diocese de Osasco afirmou que aguardará informações oficiais das autoridades competentes e se compromete a cooperar plenamente com as investigações em andamento.