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Alvo da PF, chefe da Marinha que aderiu ao golpe clama por “Jesus” e “Espírito Santo”

Almirante Almir Garnier, que segundo investigações foi o único comandante das três forças a aceitar plano de Bolsonaro, agora distribui mensagem em tom de medo e desespero

Créditos: Alan Santos/PR
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O ex-comandante da Marinha do Brasil, o almirante de esquadra Almir Garnier, um dos alvos da Operação Tempus Veritatis, desencadeada pela Polícia Federal na manhã desta quinta-feira (8) para cumprir mandados de busca e apreensão, além de prisões, de envolvidos na tentativa de golpe de Estado para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), encaminhou mensagem para amigos próximos falando a respeito da chegada dos federais à sua residência. Para quem não lembra, Garnier teria sido o único, segundo investigações da PF e a delação do tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, a ter topado participar de um golpe proposto pelo então chefe de Estado, rechaçado na sequência pelos comandantes do Exército e da Aeronáutica.

Em tom formal, cheio de pompa e deixando escapar um evidente medo e desespero, o oficial-general da Marinha, outrora incisivo bolsonarista, negando-se inclusive a ir à troca de comando de sua Força para não prestar continência ao presidente Lula (PT), clamou até por “Jesus” e pelo “Espírito Santo” diante dos agentes da PF que bateram em sua porta.

“Prezados amigos, participo que face a situação política de nosso país, fui acordado em minha casa 08/02/2024, as 6h15m da manhã, pela Polícia Federal. Estando acompanhado apenas do Espírito Santo, em virtude de viagem da minha esposa. Levaram meu telefone e papéis de projetos que venho buscando atuar na iniciativa privada. Peço a todos que orem pelo Brasil e por mim. Continuamos juntos na fé, buscando sempre fazer o que é certo, em nome de Jesus. Obrigado – Almirante de Esquadra Garnier”, disse o antigo comandante da Marinha.

Topou o golpe de Estado

Alçado ao cargo de comandante da Marinha do Brasil em 9 de abril de 2021, após atuar como secretário-geral do Ministério da Defesa, na gestão do general Fernando Azevedo e Silva, o almirante de esquadra Almir Garnier Santos protagonizou o mais grotesco dos papelões das Forças Armadas nos últimos anos ao não comparecer à passagem de comando ao colega Marcos Sampaio Olsen, também almirante de esquadra, já no início do governo Lula, em janeiro de 2023.

Nove meses depois, a divulgação de trecho da delação do tenente coronel Mauro Cid mostrou que o sumiço do almirante estava intimamente ligado à sua veia golpista.

Segundo o tenente-coronel, Garnier Santos teria sido o único comandante das Forças Armadas a aderir prontamente a um golpe de Estado proposto por Jair Bolsonaro (PL). O almirante ainda teria colocado a tropa de marinheiros à disposição do ex-presidente de extrema direita dias antes de se esconder na passagem de comando e, em seguida, entrar para a reserva.

A informação de Mauro Cid também explica o motivo de Bolsonaro se sentir à vontade para mandar uma mensagem cifrada a fuzileiros navais no dia 13 de dezembro de 2022, logo após os primeiros atos terroristas em Brasília, no dia da diplomação de Lula.

Bolsonaro afirmou, em nota lida por locutor com a sua imagem no telão, que os fuzileiros navais, com sacrifício da própria vida, “lutaram e sempre lutarão para impedir qualquer iniciativa arbitrária que possam vir a solapar o interesse do nosso país”.

O evento, que aconteceu no Grupamento de Fuzileiros Navais em Brasília, foi fechado à imprensa. Antes de Bolsonaro divulgar a nota, o comandante da Marinha, Almir Garnier Santos, disse que Bolsonaro conta “com a minha, com a sua, com a nossa Marinha”.

Bolsonaro também premiou Garnier com cargo no comitê-executivo de gestão da Câmara de Comércio Exterior, a Camex. No entanto, o militar foi dispensado por Lula em fevereiro de 2022, logo após assumir a Presidência da República.