A cúpula golpista do último governo esteve em sua quase totalidade prestando depoimento à Polícia Federal, simultaneamente, na tarde desta quinta-feira (22), em Brasília, e as oitivas estão relacionadas justamente ao inquérito em que ex-ministros e o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) são investigados por terem tentado um golpe de Estado contra o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no período entre o fim do ano eleitoral de 2022 e o começo de 2023.
Bolsonaro entrou mudo e saiu calado do prédio da PF. Sua defesa usou o direito constitucional do líder de extrema direita de permanecer em silêncio, sob a alegação de que não teve acesso ao teor total do inquérito em que o antigo mandatário figura como suspeito. Mas o problema para as hostes bolsonaristas está num outro depoimento: o do general da reserva Augusto Heleno, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República.
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Heleno apareceu no criminoso vídeo da reunião golpista realizada em meados de 2022, no qual o então presidente falava abertamente sobre como arranjar uma maneira de mantê-lo no poder a qualquer custo, admitindo inclusive “que a esquerda iria ganhar a eleição”. Na gravação, o general explicitamente citou uma “ação” de sua pasta para colaborar no golpe, que seria a infiltração ilegal de arapongas da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), à época subordinada ao GSI, nas campanhas eleitorais de adversários de Bolsonaro.
Já suspeito de manter relação no esquema criminoso da “Abin paralela” operado pelo filho 04 de Jair Bolsonaro, Carlos, o oficial-general aposentado se viu ainda mais tragado para o olho do furacão após a divulgação do vídeo da reunião no qual ele manobrava abertamente por uma saída golpista em favor do então chefe de Estado.
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Só que a reação de Bolsonaro de jogar Heleno na fogueira, transferindo toda a culpa daquela fala para o general, deixou o ex-ministro do GSI furioso. Ele se sentiu altamente traído e decepcionado com o “mito”, em que pese o fato de todos conhecerem a modus operandi do extremista, que “rifa” todo e qualquer aliado para se proteger de acusações graves.
Para quem conhece de perto Augusto Heleno, o oficial não seria um sujeito que pularia do barco e entregaria a todos tão facilmente. Mas muita gente dentro do bolsonarismo, e gente que acompanhou a indignação do general com o “abandono” por parte do ex-presidente, é bem possível que ele dê uma de Mauro Cid e faça revelações à PF por ter se sentido descartado.