Em nota conjunta divulgada nesta sexta-feira (17), a Comissão Interclubes Militares, que reúne reservistas da Marinha, Exército e Força Aérea, se pronunciou pela primeira vez sobre a investigação da Polícia Federal de generais e outras patentes na organização criminosa de Jair Bolsonaro (PL) que planejava um golpe de Estado no Brasil.
Ao menos 16 militares, entre eles os ex-comandantes da Marinha, almirante Almir Garnier, e do Exército, generais Freire Gomes e Paulo Sergio Nogueira de Oliveira (ex-ministro da Defesa), são investigados por participação no golpe.
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No texto, os chamados "militares de pijama" - pela condição de estarem na reserva - pedem que as investigações contra os membros das Forças Armadas sejam conduzidas com respeito e faz uma ameaça velada, dizendo que o contrário pode causar "a deterioração das relações no âmbito militar".
"É imprescindível que os processos em andamento sejam conduzidos com responsabilidade e imparcialidade, respeitando os limites legais, o devido processo legal, a igualdade perante a Lei, o contraditório e a ampla defesa. A acuidade dessa
abordagem é vital para contribuir que se evite a deterioração das relações no âmbito militar", diz o texto.
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A ação provocou um racha entre militares, principalmente após a divulgação de que o general Walter Braga Netto, então candidato a vice de Bolsonaro, atuava para coagir integrantes da cúpula das Forças Armadas a aderirem ao golpe usando ataques pessoais, via Gabinete do Ódio.
Tanto Freire Gomes, como o atual comandante do Exército, General Tomás Paiva, foram alvos dos ataques ordenados por Braga Netto à horda bolsonarista.
Na nota, os clubes, que sempre tiveram uma posição pró-Bolsonaro se dizem "preocupados" com a "perigosa polarização" e dizem que as provas contra os militares são "pouco sustentáveis".
"Em um momento em que nossa sociedade enfrenta perigosa polarização, surge a preocupação com antagonismos entre diferentes setores. Observamos, com apreensão, a exposição de distintos chefes militares, associados a atos que supostamente atentaram o Estado Democrático de Direito – algo que, cumpre registrar, consideradas as suas trajetórias de vida, avaliamos ser pouco sustentável".
O texto é assinado pelo general Sergio Tavares Carneiro, do Clube Militar (Exército); pelo almirante de esquadra João Afonso Prado Maia de Faria, do clube Naval; e pelo major brigadeiro do ar Marco Antonio Carballo Perez, do clube da Aeronáutica.
Sérgio Tavares Carneiro é pai de Victor Carneiro, que sucedeu Alexandre Ramagem na direção da Abin.
Carneiro é o "Victor" que foi citado na reunião golpista pelo ex-ministro e general Augusto Heleno (GSI) sobre o plano para infiltrar agentes do órgão nas campanhas de adversários.
Bolsonaro reprimiu Heleno na hora, dizendo que conversaria com o chefe do GSI em particular sobre o assunto.
Leia a íntegra:
Rio de Janeiro, 16 de fevereiro de 2024
Os Clubes Naval, Militar e de Aeronáutica reconhecem a imperativa necessidade de preservar os valores fundamentais do Estado Democrático de Direito, como cidadania, pluralismo político, garantia dos direitos individuais e liberdade de expressão. Além disso, é crucial manter o equilíbrio e a separação dos três Poderes da República.
Em um momento em que nossa sociedade enfrenta perigosa polarização, surge a preocupação com antagonismos entre diferentes setores. Observamos, com apreensão, a exposição de distintos chefes militares, associados a atos que supostamente atentaram o Estado Democrático de Direito – algo que, cumpre registrar, consideradas as suas trajetórias de vida, avaliamos ser pouco sustentável.
É imprescindível que os processos em andamento sejam conduzidos com responsabilidade e imparcialidade, respeitando os limites legais, o devido processo legal, a igualdade perante a Lei, o contraditório e a ampla defesa. A acuidade dessa abordagem é vital para contribuir que se evite a deterioração das relações no âmbito militar.
Que todos, sem exceção, cumpram seus deveres de acordo com o previsto na Constituição, sem casuísmos, visando restaurar a paz, harmonia e coexistência da diversidade de opiniões em nossa sociedade. Isso é essencial para o progresso do nosso País e para prevenir aventuras desestabilizadoras em todos os espectros políticos e sociais.
Àqueles que nos demandam posições extremadas, reiteramos que não promoveremos o dissenso no seio das Forças Armadas, objetivo permanente daqueles que não comungam de nossos ideais, valores e amor à Pátria, ignorando o nosso juramento de defendê-la, se necessário, com o sacrifício de nossas próprias vidas.