GOLPISMO NA CASERNA

Clubes militares pedem respeito em investigação de generais golpistas para evitar "deterioração das relações"

Filho de presidente foi citado por Heleno em reunião golpista. Clubes, que têm posição pró-Bolsonaro, se dizem "preocupados" com a "perigosa polarização" e dizem que as provas contra os militares são "pouco sustentáveis".

General Sérgio Tavares Carneiro, presidente do Clube Militar.Créditos: Flickr / Clube Militar
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Em nota conjunta divulgada nesta sexta-feira (17), a Comissão Interclubes Militares, que reúne reservistas da Marinha, Exército e Força Aérea, se pronunciou pela primeira vez sobre a investigação da Polícia Federal de generais e outras patentes na organização criminosa de Jair Bolsonaro (PL) que planejava um golpe de Estado no Brasil.

Ao menos 16 militares, entre eles os ex-comandantes da Marinha, almirante Almir Garnier, e do Exército, generais Freire Gomes e Paulo Sergio Nogueira de Oliveira (ex-ministro da Defesa), são investigados por participação no golpe.

No texto, os chamados "militares de pijama" - pela condição de estarem na reserva - pedem que as investigações contra os membros das Forças Armadas sejam conduzidas com respeito e faz uma ameaça velada, dizendo que o contrário pode causar "a deterioração das relações no âmbito militar".

"É imprescindível que os processos em andamento sejam conduzidos com responsabilidade e imparcialidade, respeitando os limites legais, o devido processo legal, a igualdade perante a Lei, o contraditório e a ampla defesa. A acuidade dessa
abordagem é vital para contribuir que se evite a deterioração das relações no âmbito militar", diz o texto.

A ação provocou um racha entre militares, principalmente após a divulgação de que o general Walter Braga Netto, então candidato a vice de Bolsonaro, atuava para coagir integrantes da cúpula das Forças Armadas a aderirem ao golpe usando ataques pessoais, via Gabinete do Ódio.

Tanto Freire Gomes, como o atual comandante do Exército, General Tomás Paiva, foram alvos dos ataques ordenados por Braga Netto à horda bolsonarista.

Na nota, os clubes, que sempre tiveram uma posição pró-Bolsonaro se dizem "preocupados" com a "perigosa polarização" e dizem que as provas contra os militares são "pouco sustentáveis".

"Em um momento em que nossa sociedade enfrenta perigosa polarização, surge a preocupação com antagonismos entre diferentes setores. Observamos, com apreensão, a exposição de distintos chefes militares, associados a atos que supostamente atentaram o Estado Democrático de Direito – algo que, cumpre registrar, consideradas as suas trajetórias de vida, avaliamos ser pouco sustentável".

O texto é assinado pelo general Sergio Tavares Carneiro, do Clube Militar (Exército); pelo almirante de esquadra João Afonso Prado Maia de Faria, do clube Naval; e pelo major brigadeiro do ar Marco Antonio Carballo Perez, do clube da Aeronáutica.

Sérgio Tavares Carneiro é pai de Victor Carneiro, que sucedeu Alexandre Ramagem na direção da Abin.

Carneiro é o "Victor" que foi citado na reunião golpista pelo ex-ministro e general Augusto Heleno (GSI) sobre o plano para infiltrar agentes do órgão nas campanhas de adversários. 

Bolsonaro reprimiu Heleno na hora, dizendo que conversaria com o chefe do GSI em particular sobre o assunto.

Leia a íntegra:

Rio de Janeiro, 16 de fevereiro de 2024

Os Clubes Naval, Militar e de Aeronáutica reconhecem a imperativa necessidade de preservar os valores fundamentais do Estado Democrático de Direito, como cidadania, pluralismo político, garantia dos direitos individuais e liberdade de expressão. Além disso, é crucial manter o equilíbrio e a separação dos três Poderes da República.

Em um momento em que nossa sociedade enfrenta perigosa polarização, surge a preocupação com antagonismos entre diferentes setores. Observamos, com apreensão, a exposição de distintos chefes militares, associados a atos que supostamente atentaram o Estado Democrático de Direito – algo que, cumpre registrar, consideradas as suas trajetórias de vida, avaliamos ser pouco sustentável.

É imprescindível que os processos em andamento sejam conduzidos com responsabilidade e imparcialidade, respeitando os limites legais, o devido processo legal, a igualdade perante a Lei, o contraditório e a ampla defesa. A acuidade dessa abordagem é vital para contribuir que se evite a deterioração das relações no âmbito militar.

Que todos, sem exceção, cumpram seus deveres de acordo com o previsto na Constituição, sem casuísmos, visando restaurar a paz, harmonia e coexistência da diversidade de opiniões em nossa sociedade. Isso é essencial para o progresso do nosso País e para prevenir aventuras desestabilizadoras em todos os espectros políticos e sociais.

Àqueles que nos demandam posições extremadas, reiteramos que não promoveremos o dissenso no seio das Forças Armadas, objetivo permanente daqueles que não comungam de nossos ideais, valores e amor à Pátria, ignorando o nosso juramento de defendê-la, se necessário, com o sacrifício de nossas próprias vidas.