PARTIDO MILITAR

Braga Netto, as paranoias de Bolsonaro e o elo com Villas Bôas e o golpe de Temer

Eduardo Villas Bôas - que se imortalizou com o tuite ameaçando o STF em 2018, caso fosse concedida a liberdade a Lula - quem levou Braga Netto a Temer, que "afiançou" a relação do general com Bolsonaro

Walter Braga Neto e Eduardo Villas Bôas com Temer e Bolsonaro.Créditos: Presidência da República
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A prisão de Walter Braga Netto por obstrução nas investigações sobre a OrCrim golpista de Jair Bolsonaro (PL) traz à tona a articulação entre uma escumalha militar e política que consumou um outro golpe, em 2016, com o impeachment por "pedaladas fiscais" de Dilma Rousseff.

Com trânsito nesse meio golpista, a jornalista Andreza Matais, ex-Estadão e atualmente no Uol, conta em artigo nesta quinta-feira (18) como - e por quem - Braga Netto foi alçado à cúpula dessa horda e manteve Bolsonaro sob a tutela do PMB, o Partido Militar Brasileiro, uma organização clandestina que congrega viúvas da Ditadura que tramam constantemente a retomada do poder.

Segundo a jornalista, foi o general Eduardo Villas Bôas - que se imortalizou com o tuite ameaçando o Supremo Tribunal Federal (STF) em 2018, caso fosse concedida a liberdade a Lula - quem levou Braga Netto a Temer para que fosse alçado ao comando da intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro.

"Braga Netto resistiu em aceitar o cargo, ameaçou ir para a reserva, mas foi avisado por Villas Bôas que não aceitar seria um ato de insubordinação", diz o texto, ressaltando que "área de comunicação do governo Temer não gostou da escolha pelo perfil "sisudo" do general, que não dava abertura para diálogo, mas aceitou por ser uma escolha de Villas Bôas".

Enquanto a Lava Jato avançava para prender Lula e tirar do petista a vitória certa nas eleições de 2018, Temer "afiançou" a relação de Braga Netto com Bolsonaro para dar continuidade ao golpe contra Dilma.

A jornalista afirma que "Braga Netto gozava de rara confiança" de Temer e que à época se insubordinou às ordens do Comandante do Exército para se dirigir "apenas" ao emedebista, alçado à Presidência após derrubar Dilma.

Bolsonaro paranoico

Com a eleição de Bolsonaro, Braga Netto deixou as fileiras militares para entrar, de vez, na política e manter Bolsonaro sob tutela alimentando as paranoias do ex-presidente, segundo a jornalista.

"O militar sabia como ninguém alimentar o lado paranoico de Bolsonaro. Nas palavras de cinco pessoas que integraram o governo, Braga Netto plantava intrigas para provocar dúvidas no ex-presidente e queimar todos que poderiam ocupar seu espaço", diz a jornalista, explicando como Braga Netto tutelou Bolsonaro.

Após ficar um ano na chefia do Estado Maior do Exército, o general entrou para a reserva e foi alçado, em fevereiro de 2020, a ministro da Casa Civil de Bolsonaro, escanteando Onyx Lorenzoni.

Após passar pelo Ministério da Defesa - e afastar definitivamente o também general Hamiltou Mourão de Bolsonaro -, Braga Netto teria articulado um novo golpe, entre colegas de ministério, para se colocar como candidato a vice na chapa de 2022.

O general teria criado a narrativa para alimentar uma das paranoias de Bolsonaro e descartado, ele próprio, a indicação da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, considerada a vice ideal por ser mulher e da bancada ruralista.

"Quem acompanhou o período de perto narra que Bolsonaro foi convencido por Braga Netto de que apenas ele poderia afastar uma suposta traição. A lógica: Tereza é do centrão, grupo com votos suficientes para eventualmente aprovar um impeachment e chegar à Presidência da República. Tereza foi informada pelo próprio Braga Netto de que não seria a candidata a vice", afirma.

Após a derrota nas eleições para Lula, Braga Netto teria se colocado contra um "acordo de paz" com o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, e realizado 55 visitas ao Palácio da Alvorada para alimentar as paranoias de Bolsonaro.

"Ele se descreveu como uma pessoa 'discreta', 'talvez por formação', e que 'não gosta de tirar fotografia'. Mas, na opinião de quem conviveu com ele na campanha e no governo, a discrição perde espaço para o que definem como um perfil autoritário e egocêntrico — adjetivos amparados em declarações do próprio Braga Netto", define a jornalista, resumindo o perfil do general.
 

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