Classificado pela Polícia Federal (PF) como um dos líderes da organização criminosa (OrCrim) golpista de Jair Bolsonaro (PL), o ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno Ribeiro Pereira, estuda usar uma tese humilhante para tentar se safar das acusações que lhe são imputadas e, de quebra, de uma possível prisão, caso seja condenado.
No relatório entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à Procuradoria-Geral da República (PGR), a PF afirma que o general, braço direito de Bolsonaro, "atuou de forma destacada no planejamento e execução de medidas para desacreditar o processo eleitoral brasileiro e para subverter o regime democrático".
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"O nome de AUGUSTO HELENO, na posição de liderança máxima da estrutura organizacional do gabinete, demonstra aderência e ciência do investigado a ideias radicais do grupo militar engajado na tentativa de Golpe de Estado", classifica a PF.
No entanto, Heleno, que se gabava de ser uma espécie de tutor de Bolsonaro junto ao chamado PMB - o Partido Militar Brasileiro, um movimento sem personalidade jurídica que reúne saudosistas da Ditadura -, pretende se humilhar e dizer que não tinha voz alguma de comando.
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O ex-chefe do GSI vai alegar, em sua defesa, que quando foi articulada a OrCrim golpista ele já estaria escanteado pelo avanço do Centrão no governo.
A tese teria sido criada com apoio de militares que querem salvar Heleno. A sugestão é que o general da reserva perdeu espaço no governo e junto a Bolsonaro com o advento do Centrão.
Para comprovar isso, Heleno deve usar um vídeo antigo, de 2018, em que critica o Centrão com uma paródia do samba "Reunião de Bacanas", de autoria de Ary do Cavaco e Bebeto Di São João, que foi gravada pelo grupo Exporta Samba, em 1981.
"Se gritar pega centrão, não sobra um, meu irmão", improvisou o general durante encontro do PSL à época.
Na defesa, Heleno vai dizer que, em razão da paródia, ficou sem trânsito no governo com a chegada do Centrão, o que lhe impediu de ter acesso às tramas do golpe.
A linha de defesa ainda impõe uma humilhação a Bolsonaro, que confirma a submissão do ex-presidente ao grupo historicamente mais fisiológico da política brasileira.
Em sua gestão, realmente, Bolsonaro deu o cargo de ministro da Casa Civil a Ciro Nogueira, presidente do PP, que articulou com Arthur Lira, do PP de Alagoas, o esquema das emendas parlamentares que colocou nas mãos do Centrão o controle do orçamento da União.
Reportagem atualizada às 13h16: Diferentemente do que informou anteriormente, Reunião de Bacanas não foi gravada por Bezerra da Silva. A versão original é do Exporta Samba, em 1981. A música também foi gravada pelo grupos Originais do Samba e Fundo de Quintal e pelo sambista Diogo Nogueira.