As investigações conduzidas pela Polícia Federal (PF) confirmam que os acampamentos de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), organizados entre novembro de 2022 e janeiro de 2023, foram sustentados por uma rede de apoio que incluía oficiais das Forças Armadas.
Documentos obtidos pela PF revelam que, em todos os quartéis que receberam manifestações, houve, pelo menos, um oficial colaborando diretamente. Além disso, os acampamentos foram estabelecidos e mantidos em áreas militares sem qualquer sanção ou impedimento, com apoio indireto de generais e outros comandantes locais.
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Apoio direto e atuação de Mauro Cid
De acordo com o relatório da PF, Mauro Cid, então ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, desempenhou um papel central na articulação para manter os acampamentos em frente a quartéis. Mensagens obtidas pela investigação mostram que Cid foi pressionado por colaboradores que forneceram carne para a realização de um churrasco, descrito por ele como “uma questão de honra” para sustentar o ânimo dos apoiadores nos acampamentos. A realização do evento era vista como parte da estratégia de mobilização e manutenção dos manifestantes nas áreas militares.
Além disso, a PF identificou trocas de mensagens em que Cid buscava minimizar a pressão de colaboradores que exigiam resultados concretos ou o retorno de recursos financeiros prometidos. O relatório descreve essa pressão como um reflexo da dependência dos acampamentos em apoio logístico e financeiro para sustentar as atividades.
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Omissão estratégica e apoio indireto
Além do apoio direto de oficiais como Mauro Cid, o relatório da PF destaca a omissão de comandantes militares de quartéis em todo o Brasil. Os acampamentos permaneceram ativos por semanas, mesmo em áreas sob jurisdição militar, sem qualquer ação efetiva para removê-los. Essa omissão foi interpretada como uma forma de apoio indireto, já que possibilitou a manutenção de manifestações que desafiavam a ordem democrática.
Mensagens extraídas das investigações mostram como Cid atuava para resolver questões estratégicas nos acampamentos, enquanto outros militares assumiam papel de intermediários entre os manifestantes e os comandos locais. Em um trecho, ele responde sobre pedidos de intervenção com a frase: “Eles não podem fazer nada. Não vão fazer nada, não”.
Base para ações golpistas
Os acampamentos se tornaram pontos centrais para a organização de atos antidemocráticos, incluindo a disseminação de desinformação sobre o sistema eleitoral e a tentativa de justificar uma intervenção militar. Oficiais com formação em operações especiais teriam utilizado seu conhecimento técnico para prolongar as mobilizações e fortalecer a rede de apoio aos manifestantes.
Além disso, as investigações apontam que eventos sociais, como churrascos e reuniões, foram organizados dentro ou nas proximidades de áreas militares, utilizando recursos e apoio logístico fornecido por membros das Forças Armadas. Um dos objetivos desses eventos era reforçar o sentimento de pertencimento e apoio entre os manifestantes, consolidando a presença dos acampamentos como parte de um movimento nacional.
A investigação apontou que o ambiente permissivo nos quartéis, somado à atuação direta de oficiais, reforçou o sentimento de legitimidade entre os manifestantes. Essa combinação de apoio direto e omissão estratégica foi essencial para que os acampamentos tivessem relevância e duração prolongada.
Os acampamentos, organizados em frente a quartéis em várias capitais brasileiras, foram um componente crucial na tentativa de criar um cenário que justificasse uma intervenção militar. As provas coletadas demonstram que, mesmo diante de evidências de ilegalidades, as lideranças militares mantiveram os acampamentos em suas áreas de jurisdição sem qualquer sanção ou impedimento.