Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, vai comparecer ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira (21) para esclarecer omissões e contradições em seu acordo de delação premiada firmado com a PF em 2023. Assim como em março, o tenente-coronel do Exército poderá ser preso após o depoimento.
O militar foi convocado a depor no STF às 14h, após a PF identificar possíveis violações às cláusulas de seu acordo de delação. Como o pacto foi homologado pelo ministro Alexandre de Moraes, cabe a ele decidir sobre eventuais descumprimentos. Na última terça-feira (19), Cid prestou depoimento à Polícia Federal por cerca de quatro horas.
Te podría interesar
Como Cid omitiu informações - e suspeita-se que tenha mentido -, a Justiça pode cancelar os benefícios concedidos a ele em troca da delação premiada, entre eles a liberdade até o julgamento da ação. Há grandes chances que o ex-ajudante de ordens volte para a prisão já nesta quinta, logo após a oitiva no STF, que servirá de base para Moraes tomar a decisão: se cancela ou não o acordo da delação.
Entre os pontos previstos pela lei, está a possibilidade de rescisão de um acordo homologado em caso de omissão intencional dos fatos envolvidos na colaboração. De acordo com uma fonte da PF ouvida pela Fórum, é provável que o tenente-coronel volte para a cadeia. "Cid é 'kid preto'... Ele sabe como agir e faz essas idas e vindas. Foi treinado para ludibriar e confundir", disse à Fórum o agente, lembrando que o tenente-coronel é também oriundo das Forças Especiais do Exército, origem dos quatro militares presos por tramarem o assassinato de Lula, Alckmin e do próprio Moraes.
Te podría interesar
O que Cid deve responder
A principal questão que o tenente-coronel precisa responder é se tinha conhecimento sobre o plano para assassinar Moraes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). Cid também terá que explicar ao ministro sobre a reunião na residência do então candidato a vice-presidente, Walter Souza Braga Netto (PL), em 12 de novembro de 2022.
Cid será chamado a explicar a troca de mensagens com o tenente-coronel Rafael Martins de Oliveira logo após a reunião na casa de Braga Netto, além das trocas de mensagens entre ele e o general de brigada Mário Fernandes. Outro ponto que também deve ser abordado por Moraes é a exclusão de mensagens no WhatsApp relacionadas ao monitoramento.
O tenente-coronel Mauro Cid foi informado recentemente de que sua admiração por Jair Bolsonaro pode lhe custar, de acordo com estimativas de seus advogados, ao menos 20 anos de prisão, e envolver seu pai, Lourena Cid.
Contradições e omissões
Em depoimento à PF na tarde de terça-feira (19), Cid afirmou não ter conhecimento sobre planos de um golpe de Estado e, muito menos, de assassinato de autoridades. No entanto, os investigadores consideram evidente a tentativa de enganar o trabalho da PF, já que mensagens trocadas pelo WhatsApp entre Cid e o general Mario Fernandes, também ex-assessor de Bolsonaro e preso na operação, contradizem essa versão.
A PF sustenta que Cid estava plenamente ciente dos bastidores da conspiração golpista e atuava como intermediário entre Bolsonaro e o general. Este último chegou a se encontrar com o ex-presidente no Palácio da Alvorada em 8 de dezembro de 2022, uma semana antes da data planejada para o assassinato de Lula, Alckmin e Moraes. Entre 17h e 17h40 do dia 8 de dezembro de 2022, aconteceu uma reunião no Palácio da Alvorada.
"Após a visita ao Palácio da Alvorada, MÁRIO FERNANDES, mais uma vez, entrou em contato com MAURO CÉSAR BARBOSA CID, comemorando que o então Presidente JAIR BOLSONARO aceitou o ‘nosso assessoramento’ e noticiando o efeito da reunião entre os manifestantes golpistas", diz a PF no relatório que serviu de base para a prisão do general da reserva, que até março atuava como assessor de gabinete de outro ex-ministro de Bolsonaro, o general Eduardo Pazuello (PL-RJ), na Câmara Federal.
Segundo a PF, Fernandes atuava como "ponto focal" entre Bolsonaro e os manifestantes golpistas acampados em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília e teria ciência do primeiro ato golpista, no dia 12 de dezembro, quando bolsonaristas tentaram invadir a sede da PF na capital Federal.