Ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) na Presidência da República, o tenente-coronel Mauro Cid presta novo depoimento às 14h desta terça-feira (19) na sede da Polícia Federal (PF), em Brasília, para se explicar sobre informações que ele teria omitido no acordo de delação premiada.
No acordo feito com a Justiça, Cid prometeu falar tudo o que sabia sobre a tentativa de golpe de Estado tramada pelo organização criminosa capitaneada pelo ex-presidente em troca de deixar a prisão.
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No entanto, a PF, por meio de um software israelense, conseguiu recuperar dados de aparelhos apreendidos que mostram que o militar pode ter omitido dados cruciais para a investigação.
Como as novas informações são relevantes, os investigadores postergaram a finalização do relatório final sobre a OrCrim golpista, que seria entregue ao Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, neste mês, com o indiciamento de Bolsonaro e dos generais Augusto Heleno, Walter Braga Netto e Paulo Sergio Nogueira, além de outros atores da cúpula do ex-governo.
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Pressionado pelo ex-presidente, Cid chegou a dar entrevista à Veja dizendo que foi "pressionado a confirmar a narrativa" da PF na delação e voltou para a cadeia por tumultuar as investigações.
Ele foi solto dois meses depois, prometendo colaborar. Caso a PF confirme que ele omitiu informações importantes para se desvendar o caso, Cid pode voltar à cadeia.
Rapto de Lula e Moraes
Informações recuperadas de arquivos eletrônicos que estavam em posse do tenente coronel Mauro Cid mostram detalhes do planejamento do golpe de Estado que previa o rapto de Lula e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
A descoberta fez com que os investigadores ouvissem novas testemunhas, entre elas o ex-diretor da Abin, Alexandre Ramagem, e o general Nilton Diniz Rodrigues, que na época era coronel e se formou nas Forças Especiais do Exército - os chamados Kids Pretos, que participaram ativamente do golpe.
As novas informações mostram que os golpistas prepararam um dossiê detalhado com informações sobre a rotina de Lula, além de nomes e até armamentos dos seguranças do presidente, que tomou posse em 1º de janeiro de 2023.
"O planejamento do golpe previa, portanto, a abordagem e captura de Lula e de Moraes pelos golpistas", diz a reportagem do Uol, que teve acesso às informações.
A PF acredita que pelas informações levantadas havia, por parte dos golpistas, a previsão de um possível confronto armado com os seguranças de Lula e Moraes.
O ministro do STF teria autorizado a PF a prorrogar as investigações por mais 60 dias diante das novas evidências. Assim, o indiciamento de Bolsonaro e da organização criminosa golpista, previsto para este mês de novembro, só deve acontecer no início de 2025.
Como funciona a tecnologia israelense
A PF utiliza tecnologias avançadas para recuperar dados apagados de dispositivos eletrônicos, como smartphones e computadores, durante investigações criminais. Uma das ferramentas empregadas é o software israelense Cellebrite Premium, desenvolvido pela empresa Cellebrite.
O software é capaz de desbloquear uma ampla variedade de dispositivos móveis, incluindo aqueles com sistemas operacionais iOS e Android, permitindo acesso total aos dados armazenados.
Mesmo que informações tenham sido deletadas, o Cellebrite pode recuperar mensagens, imagens, registros de chamadas e outros dados que ainda residam na memória do dispositivo.
A ferramenta realiza uma extração completa dos dados, preservando a integridade das informações para serem utilizadas como evidências em processos judiciais.
O uso do Cellebrite pela PF tem sido feito em diversas investigações. Por exemplo, em 2021, durante a apuração da morte do menino Henry Borel, a polícia utilizou o software para recuperar mensagens apagadas que foram cruciais para o caso. Em 2023, a PF empregou tecnologias semelhantes para recuperar conteúdos de celulares de investigados por atos antidemocráticos
O Cellebrite Premium é comercializado exclusivamente para autoridades policiais e órgãos de segurança.