Generais do alto comando militar desconfiavam profundamente de Walter Souza Braga Netto, general e ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL), temendo que ele pudesse liderar um "golpe dentro do golpe", caso a tentativa golpista de 2022 tivesse sido bem-sucedida.
As ações de Braga Netto, reveladas por investigações da Polícia Federal, incluíram ataques diretos a colegas de farda e tentativas de desestabilizar a hierarquia militar, ampliando divisões internas e aprofundando as suspeitas de sua ambição pessoal.
Te podría interesar
Ataques ao alto comando e maquinações reveladas
Mensagens descobertas em uma operação da Polícia Federal em fevereiro de 2024 indicaram que Braga Netto foi peça central em uma campanha de críticas e difamações contra generais que se opunham às articulações golpistas entre novembro de 2022 e janeiro de 2023.
Um dos alvos foi o então comandante da Força Aérea Brasileira, tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, descrito como "bolsonarista até o último fio", mas que se recusou a engajar diretamente na tentativa de golpe. Outro alvo frequente foi o general Marco Antônio Freire Gomes, comandante do Exército à época, criticado por se posicionar contra os movimentos golpistas.
Te podría interesar
Braga Netto utilizou redes sociais e aliados para promover campanhas de desestabilização interna. O próprio Baptista Junior respondeu publicamente às ações, publicando uma mensagem que dizia: "A ambição derrota o caráter dos fracos. [...] Não tenho mais o direito de me iludir com o ser humano, nem mesmo aqueles que julgava amigos e foram derrotados pelas suas ambições."
Além disso, o comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno, publicou um texto em tom de crítica velada, exaltando os "posicionamentos democráticos" de Baptista Junior e rejeitando "indesejáveis e desprezíveis comportamentos" que tentam "impor a plena exclusividade sobre o arbítrio e o sentimento alheios". Fontes confirmaram que as críticas eram direcionadas a Braga Netto, em referência direta às suas ações divisivas.
Temores de um "golpe dentro do golpe"
O histórico autoritário de Braga Netto, sua ascensão meteórica dentro do governo Bolsonaro e sua candidatura a vice-presidente em 2022 alimentaram temores de que ele pudesse replicar episódios históricos como o de Sylvio Frota, que tentou liderar um "golpe dentro do golpe" contra o presidente Geisel nos anos 1970. Generais viam em Braga Netto um risco à coesão institucional, temendo que ele priorizasse suas ambições pessoais, mesmo em detrimento de aliados golpistas.
As investigações também indicaram que Braga Netto não possuía apreço pela hierarquia tradicional das Forças Armadas, promovendo um ambiente de insubordinação que colocava em xeque a estabilidade interna. Esses episódios ilustram como suas ações exacerbaram as divisões e fragilidades dentro do alto comando militar.
O temor de um "golpe dentro do golpe" reflete a complexidade das divisões internas nas Forças Armadas e a fragilidade do consenso institucional em momentos de crise.