APOSTAS ESPORTIVAS

Empresário confessa manipulação de resultados no futebol e diz à CPI ter rebaixado 42 clubes

William Rogatto, réu confesso por aliciamento de jogadores, dirigentes e árbitros e manipulação de resultados, aponta ter faturado R$ 300 milhões com esquema e afirma que acionista majoritário da SAF do Botafogo, John Textor, "não está totalmente errado" nas acusações que costuma fazer

Empresário William Rogatto em depoimento à CPI do SenadoCréditos: Jefferson Rudy/Agência Senado
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O empresário William Rogatto prestou depoimento nesta terça-feira (8) na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas no Senado. Ele foi convocado como suspeito de adulterar partidas do Campeonato do Distrito Federal deste ano e é investigado nas operações Fim de Jogo, do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), e Jogada Ensaiada, da Polícia Federal.

Réu confesso por aliciamento de jogadores, dirigentes e árbitros e manipulação de resultados para faturar com sistemas de apostas online, Rogatto disse ter se aproveitado das condições precárias de clubes e atletas de divisões inferiores para atuar em todo o Brasil. E afirmou ter sido o responsável pelo rebaixamento de 42 equipes de futebol nos 26 estados e no Distrito Federal.

Após admitir ter faturado 300 milhões de reais no esquema, o empresário aceitou encontrar-se pessoalmente com representantes da CPI e prometeu mais revelações, mas os senadores teriam que ir a Portugal, de onde prestou o depoimento remoto. Ele alega temer por sua segurança no Brasil.

Rogatto contou que o esquema de manipulação dos jogos existe há mais de 40 anos e que a “hipocrisia maior do mundo está em ter um clube de futebol hoje e ser patrocinado por uma casa de aposta”. 

Textor "não está totalmente errado", diz empresário

"O sistema é muito além disso, os grandes não vão cair nunca. Estamos falando de dentro da CBF, de dentro das federações, tenho provas e vídeos. Isso não vai dar em nada, vai fazer vítimas do sistema e, no final, não vai acabar porque não é de agora. Isso existe há mais de 40 anos, eu fiz parte do sistema. Se eu tiver que pagar, vou voltar para o Brasil e pagar. Eu sou só apenas uma ferramenta, o mundo do futebol é muito mais do que a gente pensa. Não vai dar em nada, a gente vai passar por isso, nunca vai acabar, a maior máfia está dentro da federação", apontou.

Rogatto disse ainda que o acionista majoritário da SAF do Botafogo, John Textor, que usualmente faz acusações de manipulação de resultados no futebol brasileiro, "não está totalmente errado" e acrescentou que pessoas que trabalharam para ele também teriam trabalhado contra Textor no Campeonato Brasileiro de 2023.

"Quando uma bet patrocina o seu clube, automaticamente o jogador se transforma em aposta, ele não recebe um salário digno e a bet vem e dá um suporte. Já operei nos 27 estados e no Distrito Federal, onde bati de ferente com um cara muito forte. A gente vai na luta de poder. Infelizmente, eu perdi e fiquei exposto. Hoje, no futebol do Candangão, tem um cara que é poderoso e tem três clubes. Isso já é manipulação, já começou errado. O sistema é muito além do que a gente está fazendo aqui. Apreenderam coisas minhas, me pegaram em 2020, o sistema pode acabar comigo, mas não vai acabar", pontuou, segundo relato da Agência Senado.

O senador Romário (PL-RJ) sugeriu ao empresário que realizasse uma delação premiada. Rogatto respondeu que esse instituto, embora “interessante”, não lhe garantiria a devida proteção, dadas as ameaças que estaria recebendo. "O esquema não é pequeno, há pessoas que já ganharam muito dinheiro comigo. Tenho muitos anos nisso, trabalhei em todos os estados do Brasil e trabalhei fora, é muito além disso daí que vocês estão buscando. Se eu não fui o maior, fui um dos maiores; se não fui o maior do Brasil, fui o mais organizado do Brasil. Tem outros grupos, não vou ficar falando deles. São pessoas perigosas. Só resolvi falar hoje porque estou pensando que tem que acabar com isso aí. Eu vejo torcedor se matando, hoje a gente vê torcida do Corinthians, o torcedor sofre pelo time e mal sabe do que acontece nos bastidores."

Com informações da Agência Senado