O resultado das eleições municipais de 2024 levou o Partido dos Trabalhadores (PT) a acelerar discussões sobre o cenário pós-Lula e o futuro da legenda depois de um eventual segundo mandato do presidente, previsto para 2030. Fontes ligadas à cúpula do partido afirmam que a necessidade de antecipar o debate se deve ao desempenho misto obtido nas eleições deste ano: apesar de um aumento de mais de 40% no número de prefeituras em comparação com 2020, o partido perdeu redutos estratégicos em São Paulo e conseguiu emplacar apenas um prefeito na região metropolitana, em Mauá. Além disso, o PT garantiu apenas uma capital, Fortaleza, no Ceará, o que causou um alerta interno sobre o controle de espaços importantes.
As conversas, antes consideradas "proibidas", tornaram-se inevitáveis diante da conjuntura atual, com figuras internas reconhecendo a necessidade de uma reestruturação de médio e longo prazo. Alguns deputados do partido também estão preocupados com uma possível falta de renovação e coerência ideológica. "Partido de centro sem coerência ideológica já tem um monte. Falta uma esquerda disruptiva, com estrutura para competir e força para ganhar", afirmou um parlamentar.
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A antecipação do debate é também motivada pelo desgaste de lideranças regionais, como Reginaldo Lopes em Minas Gerais, que controla o PT estadual há cerca de 10 anos, mas enfrenta críticas internas e uma base "cansada". A expectativa é de que o Processo de Eleições Diretas (PED), previsto para 2025, seja o ponto de inflexão para essas mudanças, que podem causar uma autofagia pós-Lula que já não é mais um tabu nas rodas internas.
Durante a reunião da bancada com a executiva nacional do PT, realizada às 14 horas em Brasília e finalizada agora no início da noite desta segunda-feira (28), o foco das discussões girou em torno de um balanço eleitoral e de estratégias para a sucessão das presidências da Câmara e do Senado, a partir de 2025. Uma deputada presente na reunião destacou: “Estamos fazendo avaliação da eleição. A apresentação da prefeita Margarida Salomão foi excelente. Ela abriu o debate”, relatou, evidenciando a tentativa do partido de extrair lições do pleito recente para moldar sua estratégia de médio e longo prazo.
No entanto, um dos desafios internos mais mencionados nas conversas é a renovação das lideranças e a busca por novos nomes para ocupar posições estratégicas. A estratégia, segundo integrantes da articulação, deve envolver não apenas uma sucessão planejada, mas também a formação de uma "esquerda disruptiva", que recupere a coerência ideológica perdida nos últimos anos.
Com um olho na sucessão presidencial de 2026 e outro nas disputas do Congresso em 2025, o PT se vê em um momento crítico, buscando conciliar a necessidade de renovação com a manutenção de sua relevância política. A cúpula do partido parece ciente de que os próximos anos serão decisivos para definir o futuro da legenda e o caminho que a esquerda tomará no país.