OPERAÇÃO DISCALCULIA

Gustavo Gayer: PF faz buscas na casa do bolsonarista por suspeita de corrupção

Após busca e apreensão, deputado atacou Moraes e agentes nas redes: “Jagunços de um ditador”; bolsonarista acumula crimes de racismo, fake news e assédio eleitoral

Gustavo Gayer.Créditos: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
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A Polícia Federal deflagrou nesta sexta-feira (25) um esquema de corrupção em Brasília que envolve desvio de verba parlamentar e fraudes para uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP). A operação, intitulada Discalculia, mira uma associação criminosa que lucrava com o dinheiro público e um dos principais alvos é o deputado federal bolsonarista Gustavo Gayer (PL). A Fórum já havia antecipado o esquema em reportagem publicada no dia 7 de junho. Leia aqui.

A operação investiga um esquema de desvio de verbas parlamentares na OSCIP, marcada por uma falsificação em sua Ata de Assembleia, que, de forma retroativa, data de 2003. Na época, o quadro social da OSCIP era composto por crianças de 1 a 9 anos, segundo os registros disponíveis.

Em resposta aos delitos, que incluem associação criminosa, falsidade ideológica, falsificação de documentos particulares e peculato-desvio, aproximadamente 60 agentes da Polícia Federal estão executando 19 mandados de busca e apreensão. Esses mandados foram emitidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e estão sendo cumpridos em várias cidades, como Goiânia, Aparecida de Goiânia, Valparaíso de Goiás, Cidade Ocidental e Brasília.

Gayer foi às redes sociais chorar e dizer que a polícia bateu à sua porta às 6h. “Não falam o por quê que tô sofrendo busca e apreensão, claramente querendo prejudicar meu candidato Fred Rodrigues (PL-GO) aqui em Goiânia. Esses policiais viraram jagunços de um ditador”, reclamou em um vídeo divulgado em seu perfil no X, referindo-se a Alexandre de Moraes. “Vieram à minha casa, levaram meu celular, HD, essa democracia relativa está custando caro para o nosso país.”

Durante uma das buscas, foram encontrados mais de R$ 70 mil em dinheiro vivo na casa de um assessor de Gayer. A Polícia Federal informou que recursos públicos estavam sendo usados para financiar empreendimentos privados. Os mandados estão sendo executados no imóvel funcional do deputado em Brasília, bem como em sua residência.

Envolvimento nos atos antidemocráticos

Gayer teria atuado junto a um empresário de Goiás para financiar os atos antidemocráticos em 2023. A apuração teve início no contexto dos atos golpistas de 8 de janeiro. O empresário, que trabalha para Gayer, também foi alvo de busca e apreensão, quebra de sigilo telemático e prisão preventiva por "incitação, financiamento e participação na tomada dos prédios públicos na Praça dos Três Poderes", conforme informou a PF. A corporação diz ter identificado, ao analisar o celular do empresário apreendido, elementos de desvio de recursos "que teriam, em tese, contribuído para movimentar e direcionar os atos antidemocráticos".

Ainda de acordo com a polícia, o grupo operava em duas frentes: uma no gabinete do deputado, com a participação de assessores e pessoas próximas, e outra envolvendo indivíduos relacionados a um contador, que estavam "engajados na criação de associações de fachada ou 'laranjas'".

"Essas entidades seriam utilizadas para viabilizar o desvio de recursos públicos, sendo essa operação perpetrada pelo núcleo associativo vinculado diretamente ao gabinete do deputado", disse a PF.

Leia a íntegra da nota da PF sobre a operação contra Gustavo Gayer 

"A Polícia Federal deflagrou nesta sexta-feira (25/10) a operação Discalculia, com o objetivo de desarticular associação criminosa voltada para desvio de recursos públicos (cota parlamentar), além de falsificação de documentos para criação de Organização de Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP).

De acordo com as investigações, o objetivo final dos autores era a destinação de verbas parlamentares em favor desta OSCIP.

Cerca de 60 policiais federais cumprem 19 mandados de busca e apreensão, expedidos pelo Supremo Tribunal Federal, em Brasília/DF, Cidade Ocidental/GO, Valparaíso de Goiás/GO, Aparecida de Goiânia, e Goiânia/GO.

Os delitos investigados são: associação criminosa, falsidade ideológica, falsificação de documento particular e peculato-desvio.

A operação recebe o nome de “DISCALCULIA - transtorno de aprendizagem relacionado a números –“ porque foi identificada falsificação na Ata de Assembleia da constituição da OSCIP, consistente em data retroativa (ano de 2003). Porém, o quadro social à época seria formado por crianças de 1 a 9 anos". 

Quem é Gustavo Gayer

Gayer já esteve no centro de outras controvérsias, envolvendo racismo, propagação de fake news e assédio eleitoral. Em uma decisão da 7ª Vara do Trabalho de Goiânia em 2022, ele foi condenado a pagar R$ 80 mil em indenização por coagir seus funcionários a votarem no então presidente Jair Bolsonaro (PL). A sentença caracterizou sua conduta como "assédio moral eleitoral" e evidenciou "desrespeito ao ordenamento jurídico".

No mesmo ano, Gayer associou a população nordestina a uma "galinha que corre atrás de migalhas" durante um evento na Bahia, onde discutia as políticas sociais de governos de esquerda. Ele fez uma comparação infeliz, mencionando uma parábola popular entre perfis conservadores que retrata uma galinha depenada por Josef Stalin na União Soviética, que, ao receber farelos, retorna. Gayer disse que os governos de esquerda no Nordeste "fizeram com o Nordeste o que Stalin fez com a galinha". 

Ainda naquele ano, sua conta na rede social X foi suspensa após ele transmitir uma live com um argentino que divulgou fake news sobre as urnas eletrônicas. Em resposta à suspensão, Gayer usou o Instagram para afirmar que continuaria suas ações "mesmo com todas as redes derrubadas", e sua publicação incluiu diversos ataques ao STF.

Em julho, ele e outros três bolsonaristas foram acusados de descumprir a cota mínima de gênero relacionada à participação feminina nas eleições de 2022 para deputado federal no estado. É o que afirmou a Ação de Investigação Judicial Eleitoral (Aije) entregue ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pelo partido Solidariedade, que ajuizou o processo. "Mesmo havendo tempo hábil após a renúncia, na data da eleição concorreram 17 candidatos a deputado federal pelo PL, sendo apenas 5 mulheres. Bastava ao partido retirar uma única candidatura masculina para se adequar a cota, mas não o fez", declarou o documento.

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