APAGÃO

Apagão deu vantagem a Boulos que não se converteu em intenções de votos; ainda

Em grupos de WhatsApp, 80% das mensagens foram favoráveis ao candidato do PSOL; impacto nas pesquisas, no entanto, não é imediato; entenda

Boulos mostra árvore caída sobre van escolar.Créditos: Reprodução de Vídeo
Escrito en POLÍTICA el

Segundo a Palver, empresa especializada em análise de tendência dos fatos que circulam nas redes sociais, o candidato à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL), ganhou de longe a narrativa sobre o apagão na cidade.

Cerca de 2,1 milhões de endereços de São Paulo foram atingidos pela falta de luz na cidade, segundo a Enel, a própria concessionária responsável pelo fornecimento de luz na cidade. A tragédia, que ainda deixou sete mortos, virou o principal assunto do processo eleitoral.

Em outras palavras, na guerra de narrativas, passou-se a disputar a verdadeira responsabilidade sobre o apagão. De um lado, o prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), tentando jogar a culpa na Enel e, consequentemente no presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu governo e, é claro, no seu candidato aliado.

De outro, Boulos jogando no ataque, chama a atenção para uma tese mais óbvia e com muito menos tabelas: a incompetência e inoperância da prefeitura na poda de árvores, o que resultou em uma severa ampliação dos problemas.

Vantagem avassaladora

Segundo o levantamento da Palver em mais de 90 mil grupos de WhatsApp, o pico se deu no sábado (12), quando atingiu 87 menções a cada 100 mil mensagens trocadas na plataforma. Já no Telegram, foram 121 mensagens a cada 100 mil, mas o pico se deu no dia 14.

O levantamento afirma que na segunda-feira (14), a proporção de mensagens era de mais ou menos 80% favorável a Boulos, enquanto 20% das menções seguiam uma argumentação mais favorável a Nunes.

A Palver diz ainda que durante a semana a situação não se alterou. A direita chegou a dizer que Lula estaria fazendo isso de propósito (manipular a Enel) para reverter a situação eleitoral de Boulos. Uma argumentação estapafúrdia que não conseguiu ser ampliada para além das hostes da extrema direita.

O esculacho do  ministro

A empresa aponta também que o vídeo que mais circulou foi o do ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, dando um pito homérico em Nunes, afirmando que ele precisa entregar um "plano urbanístico mais adequado ao setor elétrico" e que é necessário resolver a questão da poda de árvores.

O ministro diz ainda que a Enel precisa aumentar seu efetivo de equipes para atender as demandas da cidade. O vídeo do ministro trazia a legenda: "verdadeiros culpados pelo apagão em SP".

Outro vídeo que circulou muito foi um apontando que a concessão da Enel deve ser fiscalizada pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), que teve toda sua diretoria indicada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e Lula não tem poder de destituí-los.

Boulos, portanto, seguindo tanto a intuição quanto todos os levantamentos detalhados, venceu a narrativa do apagão de maneira avassaladora. Ninguém duvida. A grande contradição é que, apesar disso, nenhuma das pesquisas feitas após o apagão apontam uma relevante mudança nos índices de intenção de votos.

O máximo que ocorreu foi uma leve oscilação de Nunes para baixo e um aumento mais significativo de votos brancos e nulos.

Para o analista de redes da Fórum, Edgard Piccino, “apesar de Boulos ter conquistado uma ampla vantagem na narrativa sobre o apagão nas redes sociais, isso não se traduziu em um crescimento proporcional nas intenções de voto por vários motivos”.

Movimento lento

Segundo Edgard, “em primeiro lugar, os apagões podem ter sido normalizados na opinião pública devido à sua frequência recente. Segundo, a responsabilidade do prefeito Nunes é amenizada por grande parte da mídia corporativa. Terceiro, a culpa recai majoritariamente sobre a Enel, isentando Nunes de responsabilidade direta”.

Ao final, ele aponta outra questão fundamental:

“O apagão não parece diminuir a rejeição que parte do eleitorado tem em relação a Boulos.”

Ao final, Piccino alerta que o impacto desse tipo de tragédia não é imediato, e ainda pode vir ser ampliado nas próximas pesquisas. “Eu acredito nisso, acho que vai reduzir a diferença, com um impacto mais lento e gradual do efeito do apagão”, finalizou.