Em atualização de laudo concluída nesta quinta-feira (25), o perito Mário Gazziro, professor de engenharia de informação na UFABC e instrutor de computação forense no MBA de segurança de dados da USP, apontou falhas grosseiras na perícia encomendada pelo vereador Rubinho Nunes (MDB-SP) ao escritório do bolsonarista Reginaldo Tirotti, que foi divulgado na última semana pela revista Oeste.
LEIA TAMBÉM
Padre Júlio: perícia desmonta farsa do vídeo e pode levar criminosos à cadeia; veja íntegra
Homem que publicou vídeo falso contra padre Júlio Lancellotti participou dos atos golpistas
Te podría interesar
"Mais uma vez, as evidências apresentadas aqui indicam que o padre Júlio Renato Lancellotti não pode ser atribuído como protagonista do vídeo em questão em face apenas dos relatos técnicos dos pareceres que assim o pediram, pois todos eles incorreram em falhas grosseiras ao tentarem imbuir essa comprovação", diz Gazziro, que já havia desmontado o laudo anterior, feito em 2020 por Onias Tavares Aguiar.
Segundo Gazziro, a nova perícia aponta "diversas comprovações técnicas que apontam a existência de um eventual impostor", usado pelo fundador do MBL e por grupos bolsonaristas para acusar o pároco de pedofilia.
Te podría interesar
"O material provavelmente foi produzido em casa ou estúdio de gravação, no qual tentou mimetizar ao máximo às características dos ambientes do Padre Lancellotti (amplamente divulgadas nas redes sociais dele), porém não conseguiram itens como um sofá similar, quadro, santa de madeira correta, etc", conclui.
Entre os elementos novos apresentados por Gazziro está uma análise feita pelo serviço web Yoti´s Facial Age que aponta divergências de idade entre padre Júlio e o impostor usado na montagem do vídeo.
"Eles nos retornaram em caráter urgente com o resultado de 67 anos para o Padre e 63 (~62,8) para o indivíduo do vídeo, respeitadas a devida margem de erro para essa idade, de cerca de 3,5 anos", diz o perito.
"Notar que mesmo dentro da margem de erro, não seria possível o indivíduo do vídeo ter a mesma idade que o Padre, algo que foi avaliado pelo software americano, mas que também é visivel nas análises, pela ausência de rugas de expressão e manchas de pele", emenda.
Falhas grosseiras
A atualização da perícia ainda lista cinco falhas grosseiras utilizadas pelos "especialistas" contratados por Rubinho Nunes no laudo divulgado pela revista Oeste.
A primeira falha, segundo Gazziro, é "assumir o ano de produção do material sem respaldo nas evidências visuais".
"Os peritos assumiram como sendo o ano de 2019 a produção desse novo material sem nenhum embasamento para tal, pois mesmo em sendo comprovadamente sem edição o video e o frame apresentado acima, ele NÃO apresenta o ANO em questão, apenas o dia, hora e o mês", afirma.
A segunda falha é "induzir os leitores leigos do parecer com inclusão excessiva de imagens verdadeiras do suposto autor acusado".
O terceiro erro é "ocultar item de interessa na análise utilizando marcador visual e induzir o leitor à constatação errônea de compatibilidade".
"A trivialidade dessa tentativa de impor culpabilidade por conta de uma característica quase onipresente na terceira idade, como mostra a foto ao lado de um indivíduo qualquer, se mostrou bastante infantil e inócua, sequer podendo ser classificada
como uma atividade pericial contundente", ressalta Gazziro.
Na quarta falha, o perito aponta o "uso de características praticamente onipresentes na terceira idade como fator de comprovação de culpabilidade".
Segundo Gazziro, as características usadas em perícias judiciais profissionais se reserva a "pintas, cicatrizes ou marcas de nascença, que possam diferenciar o indivíduo de forma efetiva".
"Os peritos não tiveram sequer a preocupação de adotar imagens do suposto acusado com datas próximas às da produção do suposto vídeo, ignorando às mudanças corporais antes e depois dessa data no corpo do suposto acusado, meramente fazendo uso de livre escolha da melhor foto que se encaixava em suas necessidades de comprovação de similaridade", diz o perito.
Por fim, Gazziro aponta a realização de "análise prosopográfica incompleta e tendenciosa, ignorando fatores contrários ao seu interesse".
"Com relação aos adornos, como pulseira e óculos, sequer vamos dedicar mais do que essas linhas para explicar o quão inválidos são esses itens como provas forenses", diz a perícia, que foca no ambiente forjado pelos produtores do vídeo, cujas falhas foram ignoradas pela perícia divulgada pela revista Oeste.
"Não se faz menção ao desaparecimento do sofá no vídeo, já que os próprios peritos consideram o fato da porta ser a mesma que aparece no vídeo, mas quanto à ausência do sofá, não tecem qualquer comentário", diz Gazziro.
Leia a perícia na íntegra.
Abaixo, confira o parecer com novas atualizações de Mario Gazziro sobre o caso: