ORCRIM BOLSONARISTA

Ramagem: Carlos Bolsonaro comanda reação do clã e tenta relacionar ação da PF ao 8/1

Com vídeo antigo em que Ramagem ataca a Globo, Carlos Bolsonaro tenta desviar o foco da investigação da PF que pode desvendar a atuação de ambos na Abin paralela e no Gabinete do Ódio instalados no Planalto.

Carlos Bolsonaro e Ramagem no Reveillon de 2018/2019, quando se aproximaram.Créditos: Instagram / Carlos Bolsonaro
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Amigo íntimo e provável cúmplice de Alexandre Ramagem (PL-RJ) na criação da Abin paralela, o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) está comandando a estratégia de reação do clã ao tentar associar a ação da Polícia Federal contra o deputado federal ao 8 de Janeiro.

Em sua conta no Instagram, Carlos compartilhou um vídeo de Ramagem datado de 15 de março de 2023, um dia após o jornal O Globo divulgar as primeiras informações sobre o uso pela Abin do FirstMile, programa espião israelense, "para monitorar localização de pessoas por meio do celular".

O vídeo é o mesmo compartilhado no perfil de Jair Bolsonaro na rede X, antigo Twitter, que também é administrada por Carlos Bolsonaro.

Nas imagens, Ramagem ataca a "conhecida Globo" pela divulgação das informações e diz que quando assumiu a Abin, em julho de 2019, fez "auditoria em todos os contratos".

No vídeo, o deputado lembra ainda que o software foi adquirido em 2018, mas omite que a compra do programa foi feito por Walter Braga Netto, general do Exército que comandava o Gabinete de Intervenção Federal na Segurança Pública do Rio de Janeiro.

Nas investigações, a PF comprova que o FirstMile comprado por Braga Netto e foi usado de forma ilegal pela Abin. Por esse motivo, não constam irregularidades em contratos da Abin - simplesmente por não haver contrato com a Abin.

Ao final do vídeo compartilhado no perfil de Bolsonaro pai, Ramagem diz que o caso foi denunciado pela Globo "porque a Abin parece ter cumprido seu papel ao avisar das ameaças para o dia 8 de janeiro".

Bebianno

A antiga publicação de Ramagem, usada pelo clã, tenta de forma desesperada desacreditar a investigação da Polícia Federal, que pode resultar em novas ações justamente contra Jair e Carlos.

Reportagem da Fórum, mostra que a investigação da Polícia Federal reconstrói com detalhes a denúncia feita pelo ex-secretário geral da Presidência, Gustavo Bebianno, no dia 3 de março de 2020, em entrevista no Roda Viva.

Na ocasião, o ex-secretário geral da Presidência revelou que o filho de Bolsonaro articulava com "um delegado da PF" a montagem da Abin paralela logo nos primeiros meses de governo.

"Um belo dia o Carlos Bolsonaro aparece com um nome de um delegado federal e três agentes que seriam uma Abin paralela. Isso porque ele não confiava na Abin".

Ainda segundo o ex-secretário, ele e o general Santos Cruz afirmaram a Bolsonaro que eram contra a ideia.

"O general Heleno (chefe do gabinete Institucional da presidência) foi chamado. Ficou preocupado. Mas ele não é de confronto e o assunto acabou comigo e o general Santos Cruz. Nós aconselhamos o presidente a não fazer aquilo porque também seria motivo de impeachment. Eu não sei se isso foi instalado porque depois eu acabei saindo do governo".

Questionado se o delegado seria o atual diretor da Abin, Alexandre Ramagem, Bebianno preferiu não responder. “Eu lembro o nome do delegado. Mas não vou revelar por uma questão institucional e pessoal”, afirmou.

Na mesma entrevista, Bebianno revelou que Carlos Bolsonaro comandava o Gabinete do Ódio.

“Eu disse ao presidente que as notícias falsas não podiam estar dentro do Planalto porque poderiam dar em impeachment. Mas a pressão que o Carlos faz é tão grande que o pai não consegue se contrapor ao filho. É como aquela criança que quer um presente no shopping, esperneia e o pai não tem pulso para dizer não”, contou.