RIO DE JANEIRO

Gabinete do ódio: Carlos Bolsonaro vai comandar redes de Ramagem nas eleições no Rio

"O PL tem um domínio enorme sobre o Rio de Janeiro e a prefeitura é o posto que nos falta", avaliou o presidente do PL, Valdemar Costa Neto.

Créditos: Reprodução/X/@delegadoramagem
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O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) será o coordenador da campanha e do trabalho de mídias sociais de Alexandre Ramagem (PL), candidato à prefeitura do Rio de Janeiro pelo mesmo partido de Jair Bolsonaro (PL). Em 2022, Carlos já havia colaborado para a eleição de Ramagem à Câmara dos Deputados.

Carlos Bolsonaro estaria voltado para uma campanha que explorasse a polarização dos candidatos, sob a indicação de que Ramagem, ex-chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), poderia colaborar com o mandato do governador Cláudio Castro (PL) na segurança pública e disputar a prefeitura com Eduardo Paes (PSD) nas urnas.

"O PL tem um domínio enorme sobre o Rio de Janeiro e a prefeitura é o posto que nos falta", avaliou o presidente do PL, Valdemar Costa Neto.

No entanto, como ex-diretor da Abin, Ramagem é suspeito de ter praticado corrupção passiva no caso que envolve o uso ilegal do software de espionagem First Mile. A Procuradoria-Geral da República (PGR) apontou que "há indícios de prática de [...] corrupção passiva pelo ex-diretor-geral da Abin Alexandre Ramagem".

O vereador, que deve tentar a reeleição, apoia o nome do marqueteiro Duda Lima para comandar os trabalhos de programas eleitorais de rádio e televisão. Lima atua junto ao prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e caso não tenha disponibilidade para tocar os trabalhos, deve indicar um substituto para a campanha de Ramagem, enquanto seria supervisor das tarefas. 

Uma ala do PL apontava o nome de Paulo Vasconcelos para as funções de marketing na campanha de Ramagem. Vasconcelos comandou os trabalhos da reeleição de Cláudio Castro em 2022 e esteve nos trabalhos da candidatura de Aécio Neves à Presidência da República, em 2014.

Caso assumisse o marketing da campanha, sob apoio de Castro, ele conduziria a candidatura com destaque nos programas de zeladoria urbana e soluções para a melhoria da qualidade de vida dos moradores do Rio.

De acordo com o presidente do PL, Carlos Bolsonaro se filiará à legenda e deve ocupar o cargo de presidente do diretório municipal do partido na capital fluminense. Costa Neto afirma que o filho do ex-presidente terá "autonomia total" na condução dos trabalhos com Ramagem, inclusive de indicação dos marqueteiros.

"O diretório está com ele e não pretendo me meter no reduto eleitoral da família Bolsonaro [...] A ele caberá decisões como escolha do marketing da campanha, controle de redes sociais, articulações para alianças e a formação da nominata. Isto está pacificado desde a vinda dele para o partido", informou o presidente da sigla.

Gabinete do ódio

Na coordenação da campanha e das redes sociais, Carlos Bolsonaro aparece como uma figura envolvida no "gabinete do ódio", organização de milícias digitais na disseminação de discursos de ódio ou informações falsas, com atuação na campanha eleitoral de 2018 e composta, sobretudo, pelo clã Bolsonaro.

"O primeiro, mais importante, é o núcleo de comando, a cabeça da organização. Ele é formado pelo Presidente da República e seus filhos que ocupam cargos políticos, a saber: o Senador Flávio Bolsonaro, o Deputado Federal Eduardo Bolsonaro e o Vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro", diz o relatório da CPI das Fake News, apresentado pela deputada Lídice da Mata (PSB-BA).

Segundo o documento, Carlos Bolsonaro participava da direção e orientação das estratégias de atuação do gabinete, além de formular conteúdos e distribuir para disseminadores. Os conteúdos tinham como finalidade desinformar os eleitores ao influenciar a opinião da população quanto a determinados temas.

O ex-assessor especial da presidência na gestão de Jair Bolsonaro, Tércio Arnaud Tomaz, era dono de contas em redes sociais que foram suspensas por conterem conteúdo negacionista. Arnaud foi descoberto por Carlos entre 2013 e 2014, por ser criador da página "Bolsonaro Opressor" no Facebook.

Em 2021, o então presidente relatou sobre sua campanha nas redes sociais: "O meu marqueteiro é um simples vereador, Carlos Bolsonaro, lá do Rio de Janeiro. É o Tercio Arnaud, aqui que trabalha comigo [...] são pessoas, são perseguidas o tempo todo, como se tivessem inventado um gabinete do ódio. Não tem do que nos acusar. É o gabinete da liberdade, da seriedade".

Carlos também encontrou outro administrador de páginas pró-Bolsonaro no Facebook, em 2013: José Matheus Sales, dono da conta "Bolsonaro Zueiro". A partir de 2015, Sales passou a trabalhar com o vereador, e então, foi nomeado assessor especial no Palácio do Planalto com a eleição de Jair Bolsonaro.

"José Matheus também atuava sob o comando do vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) no Palácio do Planalto cuidando das redes sociais do presidente", indica o relatório da CPMI dos Atos Golpistas, de relatoria da deputada Eliziane Gama (PSD-MA).

Conforme o texto, após o mandato do ex-presidente, José Matheus Sales foi nomeado para o gabinete do deputado federal Alexandre Ramagem, em março de 2023. Cerca de dois meses depois, ele já não compunha mais o mandato.