Nesta quinta-feira (25), o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no governo Bolsonaro, foi alvo de uma operação da Polícia Federal, que deflagrou a Operação Vigilância. O objetivo é investigar a formação de uma organização criminosa responsável por estabelecer uma "estrutura paralela" dentro da Abin.
O grupo monitorava ilegalmente autoridades públicas e outras pessoas, utilizando ferramentas de geolocalização de dispositivos móveis sem a devida autorização judicial. Neste momento, agentes da Polícia Federal estão realizando buscas no gabinete de Ramagem na Câmara e em seu apartamento funcional.
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Nas eleições de 2022, Ramagem se tornou o primeiro ex-diretor-geral da agência a concorrer a uma vaga no Congresso Nacional. O deputado está se lançando como pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro pelo PL, após ter sido escolhido pelo ex-presidente para concorrer no pleito. No mês de novembro do ano passado, o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, elogiou a indicação de Bolsonaro, afirmando que Ramagem era o candidato ideal.
Quem é Alexandre Ramagem
O deputado ingressou na Polícia Federal como delegado em 2005 e liderou a equipe de segurança de Bolsonaro durante a campanha eleitoral de 2018, após a facada em Juiz de Fora (MG). A partir desse momento, estreitou laços e se tornou um amigo muito próximo do clã Bolsonaro.
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Secretaria de Governo em 2019
Em março de 2019, nos primeiros meses do mandato de Bolsonaro, o delegado assumiu a posição de assessor do então ministro Santos Cruz na Secretaria de Governo, localizada no Palácio do Planalto. Após a demissão de Santos Cruz em junho de 2019, ele foi retido na secretaria como assessor do novo ministro, Luiz Eduardo Ramos. Um mês depois foi escolhido por Bolsonaro para chefiar a Abin.
De julho de 2019 a 2021, Ramagem estava no comando da agência, então comandada pelo general Augusto Heleno, no momento em que o órgão teria espionado ilegalmente ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), adversários políticos e jornalistas. Leia mais nesta matéria da Fórum.
Nos fins de semana, ele tinha o hábito de visitar o Palácio do Alvorada, compartilhando informações estratégicas com o ex-presidente. A confiança depositada por Bolsonaro em Ramagem era tão grande que, em menos de um ano, decidiu promovê-lo novamente e designá-lo para liderar a Polícia Federal.
Estopim para rompimento entre Moro e Bolsonaro
A intenção de nomear Ramagem para a chefia da Polícia Federal foi o ponto de ruptura entre Sergio Moro (União Brasil-PR), então ministro da Justiça, e Bolsonaro. Para Moro, a nomeação de Ramagem como diretor-geral representaria um processo de aparelhamento da PF.
Moro deixou o governo, gerando tumulto, e, ao final, foi Alexandre de Moraes quem impediu a nomeação de Ramagem para a Polícia Federal. Relembre o caso nesta matéria da Fórum.
Amigo da família Bolsonaro
"Ele ficou novembro e dezembro, praticamente, na minha casa. Dormia na casa da vizinha, tomava café comigo, aí tirou fotografia com todo mundo. Foi no casamento de um filho meu... Não tema nada a ver a amizade dele com o meu filho, meu filho conheceu ele depois. E eu confio, passei a acreditar no Ramagem, conversava muito com ele, trocava informações. Demonstrou ser uma pessoa da minha confiança, então a partir do momento que eu tenho uma chance de indicar alguém pra PF, por que não o indicaria?", afirmou Bolsonaro na época.
Segundo a revista Época, sob a liderança de Ramagem, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) elaborou um relatório destinado a apoiar a defesa do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no final de 2020. O objetivo era defender o filho 01 do caso das rachadinhas e conseguir que a investigação fosse anulada.
No âmbito do Congresso, Ramagem faz parte do grupo de aliados próximos de Bolsonaro. Ele recebeu a incumbência de produzir um relatório paralelo à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os acontecimentos de 8 de janeiro. O referido documento requisitou o indiciamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ministro da Justiça, Flávio Dino.