O escândalo de aparelhamento e uso criminoso da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), que voltou ao noticiário nesta quinta (25), após a deflagração da Operação Vigilância Permanente pela Polícia Federal, com autorização do ministro Alexandre de Moraes, do STF, não para de trazer à tona casos inacreditáveis de ilegalidades cometidas pelo antigo clã presidencial. Agora, quem aparece na cena da trama de arapongagem é um personal trainer e sócio de Jair Renan, filho mais novo do antigo mandatário de extrema direita.
Jair Renan e Allan Lucena foram sócios e abriram um escritório dentro das dependências do Estádio Mané Garrincha, em Brasília. O local passou a ser frequentado por empresários e outros endinheirados, que estariam “interessados” em investir no “negócio” do filho do então presidente. No entanto, essas pessoas, na verdade, queriam um acesso facilitado para reuniões com integrantes do governo da época e a suspeita da PF era de que o “04” estava praticando tráfico de influência. Ou seja, viabilizando seus negócios ao custo de possibilitar o acesso desses empresários aos contatos na administração federal de seu pai. O inquérito acabou arquivado em agosto de 2022.
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Agora, com as revelações da Operação Vigilância Permanente, as autoridades teriam descoberto que a Abin teve papel central num esquema ilegal que atrapalhou as investigações e tirou Jair Renan da “cena do crime” nesse episódio. Tudo teria ocorrido por meio de um monitoramento e espionagem de Lucena, seu sócio, que estava sendo sorrateiramente incriminado no caso para inocentar o filho de Jair Bolsonaro.
A perseguição a Lucena teria sido flagrada pela Polícia Militar do Distrito Federal, que em certa ocasião foi chamada para verificar a presença de um homem que estaria de campana no estacionamento de um local frequentado pelo personal trainer. Ao abordá-lo, os PMs descobriram que se tratava do agente da PF Luiz Felipe Barros Felix, a serviço da Abin.
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Felix teve que prestar depoimento à Polícia Federal por sua conduta, e lá esclareceu que ficou incumbido por um auxiliar direto de Alexandre Ramagem, hoje deputado, mas à época chefe da Abin, de monitorar o “alvo” para saber se ele estava fazendo uso de um carro elétrico de R$ 90 mil “doado” por um investidor a Lucena e Jair Renan. Esse empresário conseguiu uma reunião, pouco tempo depois, com o então ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho.
No fim, o objetivo de atrapalhar as investigações e livrar Jair Renan teria dado certo, diz a Polícia Federal no inquérito atual que investiga Ramagem, uma vez que, diante da situação em que se meteu, Lucena teria devolvido o veículo “doado” a ele e ao sócio “célebre”.
O agente que fez a arapongagem em questão, 13 dias depois de ser descoberto na campana, foi desligado da Abin. Um relatório interno da PF que apurou a conduta dele revelou que “não há qualquer justificativa plausível” para tal missão de monitoramento e que “a referida diligência, por lógica, atrapalhou as investigações em andamento posto que mudou o estado de ânimo do investigado”.