Se vitimizando nas redes após receber um bom dia da Polícia Federal (PF), o bolsonarista Carlos Jordy (PL-RJ) trocou mensagens com golpistas que desencadearam os atos no 8 de janeiro atuando ora como mentor e ora como articulador, segundo os investigadores.
A troca de mensagens, que mostra participação ativa do deputado federal junto aos golpistas, motivou a ação de busca e apreensão na casa dele, em Niterói (RJ), e no gabinete na Câmara, em Brasília, na manhã desta quinta-feira (18), na 24ª fase da operação Lesa Pátria.
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Jordy também teria trocado mensagens com golpistas que realizaram diversos bloqueios nas rodovias pelo Brasil após a derrota de Jair Bolsonaro (PL) nas urnas.
Segundo a PF, Jordy era chamado de "líder" e se valia de seu status de deputado para dar poder aos atos golpistas, que pipocavam pelo país e culminaram na depressão do edifício do Supremo Tribunal Federal (STF), do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto, no 8 de janeiro.
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Em mensagem, um dos bolsonaristas que comandavam os bloqueios nas estradas pergunta a Jordy: "Bom dia, meu líder, qual o direcionamento você pode me dar? Tem de parar tudo".
Jordy, então, responde: "fala, irmão, beleza? Está podendo falar ai?". O golpista, diz que "posso, irmão, quando quiser você pode me ligar".
O extremista foi identificado como Carlos Victor Carvalho faria parte do movimento que atuou em Campos dos Goytacazes, no Rio, reduto eleitoral de Jordy. Os dois chegaram a se falar por telefone no dia 17 de janeiro de 2013 – uma semana após os atos golpistas na Praça dos Três Poderes, quando Carvalho estava foragido.
Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), que investiga o caso juntamente com a PF, "especificamente quando da análise das mídias, de dados obtidos nas contas de e-mail ou fontes abertas, foi possível colher indícios que Carlos Victor de Carvalho possui fortes ligações com o deputado federal Carlos Jordy".
Carvalho seria, segundo os investigadores, uma "liderança da extrema-direita local, responsável por administrar mais de 15 grupos de WhatsApp, com temáticas extremistas".
Para a PGR, a atuação de Jordy "transpassa" a questão política "denotando-se que o parlamentar, além de orientar grupo expressivo de pessoas, tinha o poder de ordenar as movimentações antidemocráticas, seja pelas redes sociais ou agitando a militância da região".
Além de Carlos Jordy e Carlos Victor de Carvalho, são alvos desta fase atual da operação Lesa Pátria:
- André Luis Santos Carneiro;
- Charles Adriano Siqueira de Souza;
- José Maria Mattar;
- Juliana Machado da Silva Ribeiro;
- Leonardo Loureiro Ferraz;
- Lucia Maria Caxias dos Santos;
- Luiz Eduardo Campos de Oliveira;
- Neide Mara Gomes Palmeira;
- Raquel Nunes Barbosa.
No gabinete do deputado, os agentes da PF cogitaram a arrombar a porta, mas um representante da Secretaria-Geral da Câmara chegou a tempo e forneceu as chaves.
Em vídeo nas redes sociais, com fala mansa, o bolsonarista negou quaisquer relação com os golpistas.
"Eu, em momento algum do 8 de janeiro, eu incitei, falei para as pessoas que aquilo ali era correto. Pelo contrário. Em momento algum eu estive nos quartéis-generais quando estavam acontecendo todos aqueles acampamentos. Nunca apoiei nenhum tipo de ato, tanto anterior ou depois no 8 de janeiro. Embora as pessoas tivessem todo o seu direito de fazer suas manifestações contra o governo eleito", disse Jordy
Em sua declaração, o deputado ainda reclamou da "ditadura" e de ser acordado com "fuzil na cara" pelos agentes da PF. No entanto, o diretor-geral da corporação, o delegado Andrei Rodrigues, desmentiu a ação.
“Óbvio que é mentira. Entrada padrão para o caso, porta foi aberta por morador”, afirmou Rodrigues à coluna de Guilherme Almeida, do Metrópoles.
Golpe
Embora negue, no auge do movimento golpista, Carlos Jordy agitava extremistas e permitia que um de seus principais assessores fosse à sede do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), dirigido à época pelo general Augusto Heleno e localizado dentro do Palácio do Planalto. O órgão foi peça central na gestação e operação da tentativa frustrada de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023.
Frequentador do acampamento instalado na frente do Quartel-General do Exército, em Brasília, Tacimar Hoendel, secretário parlamentar de Jordy e seu principal assessor, teve sua presença confirmada no ajuntamento da extrema direita que congregava criminosos de todo o país para tentar impedir a posse do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Hoendel postou ameaças claras à democracia brasileira nas redes e já era conhecido da PF e do inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal e investiga os atos de banditismo dos bolsonaristas na capital da República.
“Se for preciso a gente acampa, mas o l@drãO [sic] não sobe a rampa”, publicou Hoendel nas redes sociais, uma hora depois de sair do GSI, acompanhado de um sujeito identificado como “Cabo Ivan Araújo”, que seria policial militar no Rio de Janeiro.
De novembro a dezembro de 2022, o secretário parlamentar de Jordy era figura conhecida a confraternizar com golpistas no acampamento ilegal instalado na área militar do Comando do Exército, no Setor Militar Urbano (SMU), em Brasília.
Jordy, por sua vez, foi um dos participantes de uma “sessão” inequivocamente golpista convocada para ser realizada dentro do Senado Federal, em 30 de novembro de 2022, na qual inúmeros parlamentares bradaram por várias horas as maluquices criminosas do bolsonarismo bufo, clamando pela não diplomação de Lula, o vencedor legítimo da eleição. Inúmeros participantes desse ato passaram, após o 8 de janeiro, a serem investigados por participação na bandalheira que devastou as sedes dos Três Poderes em Brasília no começo do ano seguinte.