CLÃ BOLSONARO

Quem é Valeria Bolsonaro, prima do ex-presidente cotada para secretaria da Mulher na gestão Tarcísio

Em setembro de 2023, Valeria usou uma expressão racista ao protocolar uma representação por racismo no Conselho de Ética da Alesp contra a deputada Mônica Seixas.

Valeria Bolsonaro "endireitaria" gestão Tarcísio.Créditos: Reprodução/Commons
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A deputada estadual Valeria Bolsonaro (PL) tem recebido apoio de parlamentares da bancada bolsonarista da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) para substituir Sonaira Fernandes (Republicanos) na Secretaria de Políticas para a Mulher do governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos)

Prima do ex-presidente, Valeria seria uma aliada da bancada bolsonarista da Alesp que aproximaria o Palácio dos Bandeirantes de pautas ideológicas. Segundo membros do bloco, o governador teria se distanciado do compromisso de dialogar com os aliados sobre a sua administração.

"Eu entendo que a Valeria Bolsonaro seria um bom nome para substituir a Sonaira, que fez um excelente trabalho, mas agora precisa se concentrar em sua reeleição na Câmara. Valeria é totalmente alinhada às nossas ideologias e seria uma representante do bolsonarismo dentro do Executivo", disse Lucas Bove (PL) em apoio. 

Sonaria deve deixar a pasta para disputar a reeleição na Câmara Municipal paulistana e é uma das duas trocas previstas para secretarias, de acordo com entrevista concedida nesta semana por Tarcísio. A outra seria a Secretaria de Desenvolvimento Social, do titular Gilberto Nascimento Júnior (PSC).

O deputado Gil Diniz (PL), integrante da bancada bolsonarista, também declarou seu apoio à parlamentar, em dezembro de 2023: "Gostaria muito que a deputada Valeria Bolsonaro assumisse a pasta. Ela é muito próxima da Sonaira, tem acompanhado os trabalhos de perto, esteve na transição, é do PL. Ela tem todos os predicados para assumir".

Perfil

Nascida em Santos (SP) em 1969, Valeria passou a residir em Campinas (SP) desde 1985, onde cursou graduação em Biologia pela PUC-Campinas. A partir de 1987, ela lecionou a disciplina em escolas da rede pública por mais de 30 anos, até entrar para o ramo da política institucional.

Valeria casou-se com um primo de segundo grau de Jair Bolsonaro (PL), de modo que tem próximo contato pessoal e o mesmo sobrenome da família, usado nas campanhas eleitorais.

Em 2018, elegeu-se deputada estadual do estado de São Paulo com 54,5 mil votos (0,26% dos votos válidos) pelo PSL, na época, mesmo partido do então candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro. Em seu primeiro mandato, Valeria foi autora e proposições, como as seguintes em destaque:

  • Projeto de Lei 245/19: proíbe a ideologia de gêneros nas escolas das redes pública e de ensino privado no Estado, e teve último andamento em dezembro de 2023, quando passou para tramitação em urgência por meio eletrônico;
  • Projeto de Lei Complementar 31/19: que extingue a Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo e cargos na Secretaria da Segurança Pública, e foi arquivado em maio de 2023;
  • Projeto de Lei 390/21: que assegura a alfabetização em Linguagem Brasileira de Sinais (Libras) nas instituições de ensino do Estado, e teve último andamento na tramitação em urgência na ordem do dia em 21 de março de 2023; e
  • Projeto de Lei 668/2021: que proíbe a exigência de apresentação do cartão de vacinação contra a COVID-19 para acesso a locais públicos ou privados no Estado, e foi transformado na Lei nº 17.629/23.

Após expulsão do PSL por infidelidade partidária e passagem pelo PRTB, reelegeu-se deputada estadual em São Paulo pelo PL, também legenda de Bolsonaro. Ela foi eleita com 131, 5 mil votos (0,56% dos votos válidos),

De acordo com sua biografia no site da Alesp, suas principais áreas de atuação são: Educação, Saúde, Assistência Social e Políticas para as Mulheres. Valeria utiliza o lema "Deus, pátria, família e liberdade" – cunhado por Jair Bolsonaro – como valores centrais no seu posicionamento conservador.

No seu segundo mandato, ainda em andamento, ocupa as seguintes funções:

  • Presidente da Comissão de Defesa e dos Direitos das Mulheres;
  • Integrante da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência e Doenças Raras; e
  • Coordenadora da Frente Parlamentar em Defesa do Combate ao Câncer.

Em setembro de 2023, Valeria usou uma expressão racista ao protocolar uma representação por racismo no Conselho de Ética da Alesp contra a deputada Mônica Seixas (PSOL). A deputada do PL presidia a sessão de prestação de contas da Secretaria de Políticas para a Mulher na Comissão dos Direitos das Mulheres, que não havia recebido orçamento, em nove meses do mandato de Tarcísio de Freitas.

Na ocasião, Mônica caracterizou Sonaira, que é negra, como "token" com a finalidade de "atrasar a luta das mulheres e de negros e negras". O termo "token" é utilizado para descrever empregadores que contratam funcionários negros para cargos de liderança, sem dar poder de decisão, somente com o objetivo de garantir uma falsa garantia de diversidade.

"A parlamentar incorre em conduta extremamente indecorosa, com abuso de prerrogativas, extrapolando qualquer limite da sua imunidade parlamentar, pois está a denegrir a honra da senhora secretária", escreveu a deputada do PL.

A palavra denegrir deixa a entender que a ação de enegrecer algo associa a palavra “negro” e “negra” às coisas vistas, socialmente, como negativas. O emprego de "denegrir" é um dos exemplos de racismo linguístico, isto é, o uso de frases que apresentam o racismo estrutural em sua construção. Outras palavras, como difamar, são opções de substituição.