O número de vereadores que desistiram de apoiar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Municipal de São Paulo contra o padre Júlio Lancellotti já chega a dez, e a proposta perde força para ser protocolada.
Os últimos dois vereadores que manifestaram recuo da CPI foram Gilson Barreto (PSDB) e Xexéu Tripoli (PSDB). Por meio das redes sociais, Barreto publicou, nesta quarta-feira (10), que apesar de ter se manifestado a favor da proposta, a CPI perdeu sua finalidade após o relator Rubinho Nunes (União Brasil) declarar que a investigação tem como alvo as atividades do padre Júlio.
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Inicialmente me manifestei a favor da CPI porque é meu dever como vereador fiscalizar entidades, órgãos e secretarias que recebam verbas públicas para prestação de serviços à população. No entanto, depois de estudar melhor o intuito e as consequências dessa iniciativa, conversar com os meus pares e escutar a voz das ruas, concluí que a comissão fiscalizaria as atividades do padre Lancellotti sem que ele participe de qualquer convênio com a municipalidade, e isso eu não posso aceitar. A CPI perdeu a sua finalidade de zelar pelo dinheiro público e não há por que ela seja instalada.
Tripoli também usou do mesmo argumento ao retirar seu apoio e ainda disse ser revoltante abrir uma CPI para investigar o trabalho do religioso, que declarou como ‘exemplar’.
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Todo o meu apoio ao padre Júlio Lancelotti e ao seu trabalho humanitário exemplar, que não deve ser alvo de ataques. Tenho grande admiração pela obra pastoral. Não defendo a perseguição política a líderes religiosos. Ainda mais nesses tempos de ódio e rancor nas redes sociais.
"A investigação de casos suspeitos de mau uso de recursos públicos não pode servir de pretexto para perseguição política", acrescentou.
A CPI foi protocolada no dia 6 de dezembro com 25 assinaturas. No entanto, após repercussão negativa que mostrou que a finalidade da investigação é o trabalho do padre com populações vulneráveis da cidade de São Paulo, a ação foi perdendo apoio de diversos vereadores.
Rubinho Nunes, em suas redes sociais, proferiu diversas ofensas e discursos de ódio contra padre Júlio. “Júlio Lancelotti atua como um cafetão, distribui marmita mas não faz nada para salvar ninguém, essas ONG´s têm apoio de políticos, tudo isso tem que ser investigado”, disse.
Com o recuo dos vereadores, a CPI deixa de ter as assinaturas necessárias para ser protocolada. Porém, de acordo com a Câmara Municipal de São Paulo, a retirada de assinaturas do requerimento da CPI tem um papel simbólico apenas, e não impede o próximo passo para a instauração da comissão, que é a avaliação no Colégio de Líderes.
“Só o autor pode pedir a retirada da CPI. A retirada de assinaturas de vereadores, portanto, é algo simbólico e não impede o próximo passo que é analisar a questão em colégio de líderes. Se houver consenso no colégio, o assunto vai ao plenário”, diz o texto de nota da Câmara Municipal.
Ainda assim, a perda de apoio e a repercussão negativa na sociedade mostram que a CPI terá dificuldade para ser aprovada na Casa Legislativa. Em plenário, serão necessárias duas votações: a primeira para aprovar a criação de uma nova CPI na Câmara Municipal, e a segunda, para criar e instalar a CPI das ONGs. Ambas necessitam de 28 votos dos 55 vereadores da câmara.