O deputado federal Rogério Correia (PT-MG) anunciou, na noite desta terça-feira (26), que protocolou um pedido para que áudios de teor golpista atribuídos ao general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo de Jair Bolsonaro, sejam periciados pela Polícia Federal (PF).
A medida do parlamentar vem após a Fórum revelar, com exclusividade, um laudo produzido por acadêmicos da Universidade Federal do ABC (UFABC) e da Universidade de São Paulo (USP) atestando que a voz nos áudios em questão, de fato, é de Heleno.
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Durante depoimento do militar na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas, nesta terça-feira (26), Correia reproduziu os áudios e apresentou o laudo revelado pela Fórum. Heleno, entretanto, disse que não é ele nas gravações e que "a perícia foi forjada".
Ao responder a uma postagem do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) nas redes sociais, afirmando que Correia apresentou um "áudio falso" na CPMI, o parlamentar do PT anunciou que o material seria encaminhado à PF.
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"Já apresentei pedido pra que os áudios sejam periciados na PF. Mesmo com laudo emitido pela USP e UFABC de que os áudios são de Heleno e que o general agiu pelo golpe, daremos a ele o benefício da dúvida - que só existe na democracia que ele e outros 'manezões' tanto atacam", escreveu o petista.
Confira:
Os áudios golpistas e o laudo - LEIA E OUÇA
A reportagem da Fórum recebeu um laudo técnico produzido por acadêmicos da Universidade Federal do ABC (UFABC) e da Universidade de São Paulo (USP) que atesta que o general da reserva Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e uma das principais personagens do séquito pessoal do ex-presidente de extrema direita, de fato é o autor de áudios golpistas e ameaçadores que se espalharam pelas redes bolsonaristas prometendo uma ruptura política no país.
Nos momentos que antecederam o segundo turno da eleição presidencial, e especialmente nos dias após a confirmação daquilo que todas as pesquisas mostravam, que Lula venceria a disputa final, uma das figuras mais destacadas do entourage de Jair Bolsonaro a alardear um golpe que evitaria a posse do petista era Augusto Heleno, que de dentro do GSI comandaria um levante dissimulado a partir de 12 de dezembro, usando mecanismos psicológicos e de inteligência, na tentativa de incendiar o Brasil, como a Fórum mostrou numa série de reportagens exclusivas tendo como fonte um servidor da Polícia Federal lotado no Planalto.
Dentre vários arquivos de áudio analisados por acadêmicos da UFABC e da USP, a pedido da Fórum, estão duas mensagens que circularam a todo vapor no submundo digital do bolsonarismo nos meses finais de 2022. Elas têm conteúdos semelhantes, mas também pontos bastante distintos. A voz inequivocamente se parece muito com a do militar do círculo íntimo de Bolsonaro, mas era necessário que uma perícia utilizando recursos de última geração comprovasse isso. À época, embora com pouco visibilidade na imprensa, a autoria das mensagens foi negada por Heleno.
Mario Alexandre Gazziro, professor adjunto de Engenharia da Informação da Universidade Federal do ABC (UFABC), que é também pós-doutorando e pesquisador visitante na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), da Universidade de São Paulo (USP), que assina o laudo, explicou que o método empregado é um dos mais modernos disponíveis até hoje, que utiliza também inteligência artificial para encontrar os pontos que comprovam a autoria de uma mensagem de voz. Alunos de extensão das duas universidades públicas, do grupo Ganesh, da USP, e Greenteam, da UFABC, participaram da análise dos dados com Gazziro.
“O método pericial é realizado em duas etapas. Na primeira, a gente usa uma técnica chamada extração de características, gerando coeficientes cepstrais. Nós, então, extraímos uma característica do áudio, os sons da voz da pessoa em gravações que realmente são dela e transformamos num mapa gráfico. Já a segunda etapa consiste em pegar esse mapa e comparar com o outro, o dos áudios que estão sendo investigados. Nesta segunda etapa entra a utilização da Inteligência Artificial, a ‘análise de vizinhança’. Nós pegamos muitas falas oficiais do general Heleno, nos canais oficiais do governo, e lá está a voz e a imagem dele, oficiais. Precisamos de uma quantidade grande de áudios oficiais para, na análise, não existir a possibilidade de que o áudio periciado, por exemplo, tenha sido editado num único trecho. Os áudios são separados em trechos de seis em seis segundos e têm ruído ambiente removido, evitando assim que passe qualquer trecho que tenha sido editado por deep fake, ou por imitadores. Por fim, as análises de 40 partições mostraram que 87% de todas as amostras apontam para a autoria do general da reserva Augusto Heleno, o que é, em termos de reconhecimento de padrão, algo muito alto. Na prática, a Inteligência Artificial preferiu 87% das vezes apontar os áudios investigados como sendo do general Heleno do que os próprios áudios oficiais dele”, explicou Gazziro.
De fato, o documento que atesta a autoria de voz das mensagens afirma em suas conclusões que “as evidências indicam que os áudios PERTENCEM AO SUPOSTO AUTOR, com intervalo de confiança de 87%, em uma análise conclusiva de confirmação de sua autoria, visto o resultado estar acima de 85%”.
No primeiro áudio atribuído a Heleno, o general repete fake news conhecidas, como a do ministro Luís Roberto Barroso, do STF, que teria dito que “eleição não se ganha, se toma”, algo já amplamente desmentido, sendo fruto de uma descontextualização proposital de uma declaração do magistrado em que ele narrava algo dito em tom de piada numa conversa com um senador da República que falava sobre os problemas eleitorais históricos em seu estado natal. Na sequência, o militar aposentado segue com bravatas e ameaças explícitas, ataca Lula com ofensas e insiste que o petista não será empossado.
Já no segundo arquivo difundido nas redes bolsonaristas, Heleno é ainda mais enfático em sua retórica golpista e apela para mentiras como uma imaginária fraude eleitoral e uma surreal acusação contra Lula, que segundo ele “não poderia ser candidato” e não teria “apresentado certidão alguma” à Justiça Eleitoral, algo totalmente falso. As ameaças golpistas por meio das Forças Armadas são diretas e claras. Ele chega a dizer que “nem tudo está consumado”, mesmo passada a eleição, e que “as coisas não estão bem e não vão sair bem como aqueles que pensam que ganharam”.
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