Último general no comando do Exército do governo Jair Bolsonaro (PL), Marco Antônio Freire Gomes reprimiu o então comandante militar do Planalto, general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, de levar adiante uma operação de desmonte do acampamento golpista em frente ao Quartel General de Brasília, de onde partiram os extremistas para os atos de depredação na Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro.
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Em tom de deboche, Freire Gomes contou aos integrantes do Alto Comando do Exército sobre a ordem dada ao comandante do militar do Planalto no dia 29 de dezembro de 2022, um dia antes de entregar o cargo ao sucessor, Júlio Cesar Arruda.
“O Dutra é um irresponsável, um maluco. Mandei cancelar a operação", teria dito Freire Gomes, sobre a ação de desmontar o acampamento. A informação foi revelada por Marcelo Godoy na edição desta segunda-feira (25) do Estadão.
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Em sua justificativa ao Alto Comando, Freire Gomes aventou a possibilidade um "tumulto" e que "ninguém saberia qual seria a reação de Jair Bolsonaro a dois dias da posse de Lula".
Dutra teria dado a ordem para desmontar o acampamento sem avisar o superior por receio de que ele barraria a operação. Ao perceber a movimentação, Freire Gomes ligou enfurecido para o subordinado, chamando de "maluco" e "irresponsável" e ordenando que a ação de desmonte fosse cancelada.
Segundo a reportagem, desde o dia 4 de novembro, logo após a derrota de Bolsonaro quando atos golpistas começaram a surgir pelo país, Dutra defendia que o acampamento fosse desmobilizado.
No dia 11 de novembro, uma nota assinada pelo almirante Almir Garnier Santos (Marinha), pelo general Marco Antônio Freire Gomes (Exército) e pelo tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Junior (Aeronáutica), então comandantes das três Forças, condenou "eventuais excessos cometidos em manifestações" de bolsonaristas e criticou "eventuais restrições a direitos, por parte de agentes públicos".
"São condenáveis tanto eventuais restrições a direitos, por parte de agentes públicos, quanto eventuais excessos cometidos em manifestações que possam restringir os direitos individuais e coletivos ou colocar em risco a segurança pública; bem como quaisquer ações, de indivíduos ou de entidades, públicas ou privadas, que alimentem a desarmonia na sociedade", diz trecho da nota, que avaliza as violentas manifestações de bolsonaristas, com acampamentos e fechamentos de rodovias pelo país.
"Vai dar merda, comandante”, teria alertado Dutra ao superior, Freire gomes.
Após a nota conjunta das Forças Armadas houve aumento das manifestações de bolsonaristas, que pediam ajuda dos militares para uma "intervenção" e impedir que Lula tomasse posse. Após a publicação da nota, o público à frente do QG de Brasília chegou a ser estimado em 100 mil em 15 de novembro.
Troca no comando
O general Freire Gomes foi substituído por Júlio César de Arruda um dia após impedir o desmonte do acampamento golpista, quando Bolsonaro se preparava para fugir para os EUA, evitando passar a faixa para a Lula.
Após os ataques do dia 8 de Janeiro, Lula promoveu nova mudança no comando do Exército, demitindo Arruda e colocando em seu lugar o general Tomás Paiva - que teria se colocado contra uma tentativa de golpe de Bolsonaro desde o início.
Em entrevista a Igor Gadelha, do Portal Metrópoles, Tomás Paiva comentou pela primeira vez sobre a delação de Mauro Cid sobre a tentativa de Bolsonaro de cooptar a cúpula das Forças Armadas.
De acordo com o tenente coronel, Bolsonaro se reuniu com a cúpula das Forças Armadas onde buscou apoio dos militares para um golpe de Estado, chegando a apresentar uma minuta que previa a prisão de adversários políticos.
Cid afirmou ainda que o então comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier Santos, teria colocado as tropas à disposição de Bolsonaro para o golpe. No entanto, Freire Gomes teria ameaçado dar voz de prisão a Bolsonaro. “Se o senhor for em frente com isso, serei obrigado a prendê-lo”.
Segundo reportagem de Maria Cristina Fernandes, no Valor, o general tinha conhecimento de que não havia condições para o golpe dentro do Exército. Ele sabia que os comandantes do Sul (Fernando Soares), do Sudeste (Thomaz Paiva), do Leste (André Novaes) e do Nordeste (Richard Nunes) não apoiariam quaisquer aventuras golpistas de Bolsonaro.
Além disso, Freire Gomes estaria ciente de que um golpe dado por Bolsonaro não teria apoio dos Estados Unidos de Joe Biden, tanto de militares, quando de civis. Seis comitivas estadunidenses já teriam vindo ao Brasil em 2022 para dar esse recado a Bolsonaro e às Forças Armadas.
Tomás Paiva afirmou que não teve acesso à delação de Cid, mas que o militar deve responder ao inquérito criminal, determinado por Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), antes de ser tomada qualquer ação administrativa no Exército contra ele.
“A lei diz que, na sobreposição de ações judiciais com as ações administrativas, as judiciais prevalecem. Dessa forma temos, por lei, que esperar as manifestações da justiça que seguem seu curso", afirmou.
Sobre a trama golpista de Bolsonaro envolveu a cúpula das Forças Armadas, Tomás Paiva foi sucinto ao dizer que "o Exército cumpriu a Lei" ao garantir a posse de Lula.
“O que é certo: o Exército cumpriu a lei, garantindo a posse ocorrida em 1º de janeiro. Isso era o dever constitucional e foi realizado através da Coordenação de Segurança de Área, realizada pelo Comandante da 3ª Brigada de Infantaria Motorizada de Cristalina (GO)”, disse Paiva.