MIMIMI SEM FIM

Bolsonaro usa Veja para alegar que é vítima de perseguição de Moraes

Em desespero pelas revelações de seu plano golpista, Bolsonaro faz interpretação torta de reportagem da Veja para afirmar que Moraes cunhou "perguntas tendenciosas" para ligar o 8 de Janeiro a ele.

Jair Bolsonaro e Alexandre de Moraes.Créditos: Antonio Augusto/Secom/TSE
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Em desespero diante do avanço das investigações e da delação premiada do tenente coronel Mauro Cid à Polícia Federal (PF), Jair Bolsonaro (PL) foi à rede X, antigo Twitter, neste sábado (24) e usou uma reportagem da revista Veja para alegar que é vítima de perseguição do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

A reportagem compartilhada por Bolsonaro revela supostas perguntas que teriam sido feitas a Aécio Pereira, primeiro dos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro, por um juiz auxiliar de Moraes e diz que "quatro perguntas específicas, porém, dão pistas mais claras de como a justiça tentará responsabilizar aquele que, não é segredo para ninguém, Alexandre de Moraes acredita estar por trás da intentona: o ex-presidente Jair Bolsonaro".

“Você acredita nas afirmações do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro sobre a ocorrência de fraudes nas urnas e nas eleições? Isso colaborou para sua ida a Brasília e à marcha até à praça dos Três Poderes? Você queria a queda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o retorno do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro? Se o ex-presidente Jair Bolsonaro tivesse dado declaração reconhecendo a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a lisura das eleições, você teria ido a Brasília e à Praça dos Três Poderes?”, são as perguntas que, segundo a Veja, faria parte do roteiro de Moraes.

Pereira teria permanecido em silêncio diante das indagações, mas mesmo assim foi condenado a 17 anos de cadeia. Segundo a Veja, "é de se esperar que perguntas semelhantes sejam feitas aos mais de 1.300 réus que respondem por destruir o Palácio do Planalto, o Congresso e o Supremo Tribunal na busca por enquadrar Bolsonaro".

A reportagem ainda ouviu a professora de Direito Penal da Universidade de São Paulo Helena Lobo que ressaltou que se for provado que Bolsonaro instigou os atos golpistas "ele pode ter uma pena alta não pelo simples fato de ser instigador, mas pela qualidade, alcance e robustez dessa instigação”.

Na rede de Elon Musk, Bolsonaro aproveitou para se vitimizar. "Conclui-se, segundo a Veja, que as perguntas tendenciosas feitas aos acusados tiveram um único objetivo: 'vincular Bolsonaro ao 08 de janeiro'", escreveu o ex-presidente.

Na sua interpretação da reportagem, Bolsonaro afirma que Moraes faz as perguntas porque quer vinculá-lo ao 8 de Janeiro e tenta justificar o ataque às urnas eletrônicas e o discurso para incitar um levante golpista.

"Bolsonaro, e muitos outros parlamentares, inclusive alguns de esquerda, sempre se empenharam pela transparência nas eleições (PLs e PECs), exatamente para que se evitassem questionamentos", diz.

Fato citado pela revista e ignorado no tuite é que Bolsonaro divulgou dois dias depois dos atos um vídeo contestando o resultado das eleições - que foi apagado em seguida.

O ex-presidente também ignora toda a investigação, incluindo a delação de Mauro Cid, que revela que durante o silêncio sepulcral que manteve após a derrota para Lula em 30 de outubro, ele tramou um golpe de Estado que só não teria ido adiante pela negativa de parte da cúpula das Forças Armadas.