O presidente Lula (PT) terá sua oitava participação na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta terça-feira (19). Na 78ª assembleia, o discurso de abertura de Lula seguirá uma tradição de quase 70 anos, iniciada pelo então ministro de Relações Exteriores Oswaldo Aranha: o representante brasileiro é o primeiro a discursar.
Em 2023, Lula fará seu discurso logo após o secretário-geral da ONU, António Guterres, e o presidente da sessão da assembleia, Dennis Francis. Em seguida, o presidente dos Estados Unidos Joe Biden subirá ao palanque para debater. Os demais países seguem uma sequência determinada por fatores como: relevância, pedidos de fala etc.
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Quem foi Oswaldo Aranha?
Oswaldo Aranha se destacou durante o primeiro governo de Getúlio Vargas, no qual ocupou o cargo de ministro da Fazenda, entre 1931 e 1934. Ele, então, foi embaixador brasileiro em Washington, capital dos EUA, onde tornou-se amigo pessoal de Franklin Delano Roosevelt.
Em 1937, com o decreto do Estado Novo, Aranha demitiu-se do cargo, porém no ano seguinte voltou a compor o governo Vargas, desta vez como ministro de Relações Exteriores. O diplomata esteve concentrado nas missões de aproximação com os Estados Unidos antes e durante a Segunda Guerra Mundial, o movimento "pan-americanista".
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Aranha era cogitado para suceder Vargas, mas perdeu apoio interno no governo e se demitiu em 1944. Três anos depois, ele passa a chefiar a delegação brasileira na ONU, recém-criada na época, onde recebeu prestígio internacional.
O diplomata voltaria à ONU durante o governo Kubitschek, após uma segunda passagem pelo Ministério da Fazenda no segundo governo Vargas.
Como surgiu a tradição?
É sugerido que o Brasil seja o primeiro a proferir sua fala devido ao reconhecimento do trabalho diplomático de Oswaldo Aranha em 1947. Na Primeira Sessão Especial da Assembleia, que precedeu a Assembleia Geral, Aranha apoiou a divisão da Palestina com os judeus – que viriam a criar o Estado de Israel no ano seguinte.
O brasileiro ainda garantiu que a votação não fosse adiada, de modo que a pauta não se esfriasse. Sua atuação lhe rendeu elogios de entidades sionistas, organizações de paz e até mesmo apoio à candidatura no Nobel da Paz.
A ordem dos discursos – secretário-geral, presidente da sessão, representante brasileiro, representante dos EUA, respectivamente – é seguida desde 1955, quando se estabeleceu a sequência. Segundo a ONU, em seu site oficial: "Ao longo do tempo, certos costumes emergiram durante o debate geral, incluindo a ordem dos primeiros a falar".
O Brasil só não fez o discurso de abertura em duas oportunidades: em 1983 e 1984, o presidente dos EUA Ronald Reagan iniciou a discussão. Em 2011, a ex-presidente Dilma Rousseff foi a primeira mulher a fazer o discurso de abertura na história da ONU.
O fato representa a importância do Brasil no mundo diplomático e a consistência das relações internacionais brasileiras ao longo das décadas para resolver problemas de segurança global e em favor da paz.