MOSTROU IGNORÂNCIA

VÍDEO: Bolsonarista questiona termo "soldada" na CPMI e ganha aula de Duda Salabert, professora de português

Jorge Seif ficou extremamente incomodado com o fato da policial militar Marcela da Silva Morais Pinno ser chamada por sua patente no feminino

Jorge Seif e Duda Salabert na CPMI dos Atos Golpistas.Créditos: Foto: Edimilson Rodrigues/Marcos Oliveira/Agência Senado
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Parlamentares apoiadores de Jair Bolsonaro que compõem a CPMI dos Atos Golpistas parecem não estar interessados em debater a ação criminosa de bolsonaristas em Brasília no dia 8 de janeiro e, por isso, mudam o foco das discussões do colegiado. 

Nesta terça-feira (12), por exemplo, o senador Jorge Seif (PL-SC) usou parte do seu tempo de fala para questionar parlamentares da base governista que estavam se referindo à depoente, a policial militar do Distrito Federal Marcela da Silva Morais Pinno, como "soldada"

Ao lado do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Seif se mostrou extremamente incomodado com o fato de Marcela ser chamada por sua patente no feminino

"Soldado, Marcela. Soldado! Segundo aqui o dicionário não existe sarjenta, caba, soldada", reclamou o bolsonarista. 

A deputada federal Duda Salabert (PDT-MG), que é professora de língua portuguesa, então, resolveu dar uma "aula" a Jorge Seif, explicando que o termo "soldada" consta, sim, no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa

"Eu sou professora de língua portuguesa e literatura brasileira há mais de 20 anos. E me orgulho de ter dado aulas nas melhores escolas do país. E um senador bolsonarista que me antecedeu disse que não existe a palavra soldada. Olha o nível de negacionismo que estamos passando no Brasil. Se não bastasse negar a ciência, se não bastasse negar a vacina, se não bastasse negar a tentativa de golpe, agora estão querendo negar os vocábulos que compõem o dicionário da língua portuguesa, o Vocábulo Ortográfico da Língua Portuguesa", pontuou Duda. 

"Soldada existe. E se as Forças Armadas optam por não utilizar, isso não quer dizer que essa palavra não tenha sido dicionarizada. Então, existe a palavra soldada. Fica aqui minha consideração", prosseguiu a parlamentar. 

Assista à cena 

Policial diz que bolsonaristas quase a mataram 

Em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas, nesta terça-feira (12), a policial militar do Distrito Federal Marcela da Silva Morais Pinno revelou que quase foi morta pelos bolsonaristas que invadiram os prédios dos Três Poderes no dia 8 de janeiro.

“No dia, o que chamou muito a minha atenção, de fato, foi a violência imposta contra os policiais. Era nítida a intenção, principalmente em relação a nós, a tropa que estava ali, que era a linha de frente do momento. Eles estavam dispostos a tudo, inclusive a atentar contra as nossas vidas, como inclusive foi feito”, disse Marcela.

Em seguida, o deputado Duarte Jr. (PSB-MA) perguntou se a militar pôde perceber a presença de crianças, recém-nascidos e idosos no dia 8 de janeiro. "Não. Inicialmente, quem estava na linha de frente dos manifestantes... não havia crianças. Eles não eram manifestantes, eram vândalos, pelo nível de violência e por tudo o que ocorreu”, declarou. 

Posteriormente, a soldada revelou que, se não estivesse com seu capacete, teria sido morta. "Quando eu estava no chão sendo agredida com uma barra de ferro, chutes e socos, eles tentavam retirar minha arma. Então, com um braço eu fazia a defesa do meu rosto e com o outro braço eu fazia a retenção da minha arma”, contou.

Ela também relatou que uma colega de trabalho levou uma pedrada dos bolsonaristas. "Ela levou uma pedrada e conseguiu permanecer na retenção até o final". 

Em seguida, a soldada Marcela afirmou que nunca tinha visto uma manifestação tão violenta. "Dessa maneira eu nunca tinha visto. Eu tenho experiência com atuação em reintegração de posse, que também costuma ser violenta, mas naquela proporção, jamais... a violência. Eles se valeram de materiais que estavam à disposição deles. Arrancaram estacas de bandeiras para nos atacar, os gradis de ferro foram arrancados e eles lançaram contra a Tropa de Choque. A pedra portuguesa da Praça dos Três Poderes eles também utilizaram, além dos coquetéis molotovs”, atestou.