FABIO WAJNGARTEN

Wajngarten diz que atuou “apenas no caso das joias, não no do Rolex"; ah, bom!

Frase foi dita para negar suspeita de investigadores de que ele teria atuado em conjunto com Wassef na recompra do Rolex

Fábio Wajngarten.Créditos: Marcelo Camargo Agência Brasil
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Fábio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação do governo Bolsonaro, afirma que não teve qualquer participação na recompra do Rolex nos Estados Unidos, feita por Frederick Wassef.

Wajngarten, que também é advogado, diz que entrou apenas no caso das joias para auxiliar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no que se refere ao chamado “Kit Rosé”, presente dado a ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, pelo governo da Arábia Saudita e revelado pelo Estadão.

“Entro na história por conta do Kit Rosé, que a Michelle nem sabia que existia. Entro para fazer gestão de mídia. Soube do Rolex depois, pela imprensa.

Todos os meus diálogos com Mauro Cid são na linha de devolver imediatamente o Kit Rosé, orientando o presidente na reparação de qualquer eventual dano. Não tinha Rolex nessa linha do tempo. Estou fazendo uma ata notarial com as mensagens.

Nunca soube do relógio vendido para a Pensilvânia, senão teria diálogo meu com o Cid nesse sentido. E não tem. Meu papel foi apenas no Kit Rosé que o [então] ministro Bento Albuquerque recebeu. Atuei como bombeiro nesse caso”, afirma Wajngarten.

Frase foi dita para negar suspeita de investigadores de que ele teria atuado em conjunto com Frederick Wassef na recompra do Rolex nos Estados Unidos.

"Burro demais" x "corno judeu"

Enquanto a Polícia Federal (PF) aprofunda as investigações sobre o tráfico de joias recebidas pelo governo brasileiro para venda nos EUA, uma guerra interna entre Wassef e Wajngarten, implodiu a estratégia de defesa da Organização Criminosa e complicou ainda mais a situação de Jair e Michelle.

O racha ficou explícito nesta quinta-feira (31) durante o depoimento simultâneo marcado pela PF. Bolsonaro e Michelle seguiram a estratégia do silêncio, proposta por Wajngarten e os advogados Paulo Bueno e Daniel Tesser. Além deles, o coronel Marcelo Câmara também se calou na oitiva.

Já Mauro Cid e o pai, o general Mauro Lourena Cid, decidiram falar e deram de ombro para a estratégia armada por Wajngarten. 

Wassef, que já ameaçou dar o nome do "mandante" da recompra do Rolex, falou por quatro horas no depoimento à PF. Mais ligado a Mauro Cid, o tenente Osmar Crivelatti também ignorou à orientação dos advogados de Bolsonaro.

O racha na estratégia de defesa é uma extensão da guerra entre Wassef e Wajngarten.

Pivô do caso das "rachadinhas", que deu guarida a Fabrício Queiroz em seu sítio em Atibaia, Wassef quer se vingar de Wajngarten, que o classificou como "burro demais" em troca de mensagens com Mauro Cid durante a operação de recompra do Rolex nos EUA.

"Por isso era muito melhor a gente se antecipar", diz Wajngarten sobre a devolução das joias ao Tribunal de Contas da União (TCU). "Mas o gênio do [Marcelo] Câmara e Fred contaminam tudo”, emenda, antes de atacar diretamente a capacidade cognitiva do advogado.

A exposição da conversa provocou a ira em Wassef, que a amigos próximos tem dito que vai "acabar com Wajngarten". 

O advogado do clã Bolsonaro tem dito ainda que o "corno judeu", como se refere a Wajngarten, tem vazado informações e "plantado" notícias contra ele.

Racha implode defesa

O racha caiu como uma bomba na defesa de Bolsonaro, que adotou o silêncio para evitar contradições no depoimento à PF que poderiam complicar ainda mais a situação dele diante do avanço das investigações.

Embora tenha adotado a estratégia definida por Wajngarten, Bolsonaro teme a chegada de informações sobre uma investigação conduzida pela PF em parceria com o FBI, que mira um suposto esquema de lavagem de dinheiro com imóveis nos EUA.

De acordo com as investigações, Bolsonaro e Wassef seriam cúmplices na empreitada, que teria resultado na compra de cerca de 20 imóveis em nome de laranjas - entre eles a ex-esposa do advogado, Maria Cristina Boner.

A PF apura se o suposto esquema estaria relacionado às joias, mas mira ainda os contratos da Globalweb Outsourcing, empresa fundada por Maria Cristina, que recebeu mais de R$ 41,6 milhões em contratos com o governo Bolsonaro.

A briga entre Wassef e Wajngarten divide Bolsonaro, que não pode soltar a mão de nenhum dos dois comparsas investigados na Organização Criminosa das joias. 

Para isso, a defesa pretende ganhar tempo questionando a legitimidade do processo tramitar no Supremo Tribunal Federal (STF), sob o manto de Alexandre de Moraes.

A estratégia busca ainda desviar o foco das denúncias incitando apoiadores radicais contra o ministro da corte, um dos alvos preferenciais do ex-presidente durante seu mandato.