Enquanto a Polícia Federal (PF) aprofunda as investigações sobre o tráfico de joias recebidas pelo governo brasileiro para venda nos EUA, uma guerra interna entre os advogados Frederick Wassef e Fabio Wajngarten, ex-assessor de comunicação da Presidência (Secom), implodiu a estratégia de defesa da Organização Criminosa e complicou ainda mais a situação de Jair e Michelle Bolsonaro (PL).
O racha ficou explícito nesta quinta-feira (31) durante o depoimento simultâneo marcado pela PF. Bolsonaro e Michelle seguiram a estratégia do silêncio, proposta por Wajngarten e os advogados Paulo Bueno e Daniel Tesser. Além deles, o coronel Marcelo Câmara também se calou na oitiva.
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Já Mauro Cid e o pai, o general Mauro Lourena Cid, decidiram falar e deram de ombro para a estratégia armada por Wajngarten.
Wassef, que já ameaçou dar o nome do "mandante" da recompra do Rolex, falou por quatro horas no depoimento à PF. Mais ligado a Mauro Cid, o tenente Osmar Crivelatti também ignorou à orientação dos advogados de Bolsonaro.
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O racha na estratégia de defesa é uma extensão da guerra entre Wassef e Wajngarten.
Pivô do caso das "rachadinhas", que deu guarida a Fabrício Queiroz em seu sítio em Atibaia, Wassef quer se vingar de Wajngarten, que o classificou como "burro demais" em troca de mensagens com Mauro Cid durante a operação de recompra do Rolex nos EUA.
"Por isso era muito melhor a gente se antecipar", diz Wajngarten sobre a devolução das joias ao Tribunal de Contas da União (TCU). "Mas o gênio do [Marcelo] Câmara e Fred contaminam tudo”, emenda, antes de atacar diretamente a capacidade cognitiva do advogado.
A exposição da conversa provocou a ira em Wassef, que a amigos próximos tem dito que vai "acabar com Wajngarten".
O advogado do clã Bolsonaro tem dito ainda que o "corno judeu", como se refere a Wajngarten, tem vazado informações e "plantado" notícias contra ele.
Racha implode defesa
O racha caiu como uma bomba na defesa de Bolsonaro, que adotou o silêncio para evitar contradições no depoimento à PF que poderiam complicar ainda mais a situação dele diante do avanço das investigações.
Embora tenha adotado a estratégia definida por Wajngarten, Bolsonaro teme a chegada de informações sobre uma investigação conduzida pela PF em parceria com o FBI, que mira um suposto esquema de lavagem de dinheiro com imóveis nos EUA.
De acordo com as investigações, Bolsonaro e Wassef seriam cúmplices na empreitada, que teria resultado na compra de cerca de 20 imóveis em nome de laranjas - entre eles a ex-esposa do advogado, Maria Cristina Boner.
A PF apura se o suposto esquema estaria relacionado às joias, mas mira ainda os contratos da Globalweb Outsourcing, empresa fundada por Maria Cristina, que recebeu mais de R$ 41,6 milhões em contratos com o governo Bolsonaro.
A briga entre Wassef e Wajngarten divide Bolsonaro, que não pode soltar a mão de nenhum dos dois comparsas investigados na Organização Criminosa das joias.
Para isso, a defesa pretende ganhar tempo questionando a legitimidade do processo tramitar no Supremo Tribunal Federal (STF), sob o manto de Alexandre de Moraes.
A estratégia busca ainda desviar o foco das denúncias incitando apoiadores radicais contra o ministro da corte, um dos alvos preferenciais do ex-presidente durante seu mandato.