Ex-ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro (PL), que comandava a Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Distrito Federal no dia 8 de janeiro, gaguejou e teve sua narrativa desmontada pelo deputado Rubens Pereira Jr. (PT-MA) durante oitiva na CPMI dos Atos Golpistas na manhã desta terça-feira (8) no Senado.
Desde seu depoimento inicial, Torres defendeu o chamado protocolo de ação aprovado por ele na sexta-feira, 6 de janeiro, antes de viajar aos EUA.
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"Naquela sexta-feira (6 de janeiro), os acampamentos já estavam praticamente desmontados, precisava tirar os vulneráveis e moradores em situação de rua antes de fazer o desmonte final. Viajei com essa imagem na cabeça, jamais ia imaginar que aquilo ia acontecer", disse Torres.
O ex-secretário do DF disse ainda que achou o plano "superdimensionado" e que ataques às sedes dos três poderes só ocorreriam se "caísse uma bomba na Esplanada".
"Achei o plano superdimensionado em um primeiro momento. Com o plano que deixei assinado, só se caísse uma bomba na Esplanada para acontecer o que aconteceu".
"Minha dúvida - e eu ainda estou na fase da dúvida - é se foi uma falha ou um boicote. E eu fui atrás das outras investigações para saber quem rasgou esse protocolo. A informação mais próxima que cheguei de um nome - e é isso que passo a perguntar ao senhor - foi dado pelo coronel Marcelo Casimiro, da Polícia do DF. O senhor conhece?", indagou Pereira Jr.
"Sei quem é", respondeu Torres. O deputado, então, prosseguiu.
"Ele disse na CPI do DF: quem mandou abrir a Esplanada - portanto quem rasgou esse protocolo - foi o senhor coronel Paulo José. O senhor teve conhecimento dessa frase?", indaga, recebendo uma negativa do ex-ministro de Bolsonaro.
"O senhor sabe qual cargo o senhor recebia naquele dia?", prossegue o parlamentar. "Se não me engano, ele era o substituto do comando de operações da PM", respondeu Torres.
"Perfeito", rebate o parlamentar. "Justamente o comando de operações da PM, que deveria ter executado, operado o protocolo de ação integrada, que era para ter sido o coronel Naime, que estava de férias e substituído pelo coronel Paulo José, que falou: ei, não sigam esse protocolo, deixe o pessoal chegar até lá", emendou.
"Sem esse protocolo era previsível o que iria acontecer, senhor Anderson?", indagou o petista. "Sim, senhor", respondeu o ministro, sinalizando a ação dos terroristas.
"Durante seu tempo como ministro ou secretário de segurança você viu algum protocolo desse ser desrespeitado?", seguiu Pereira Jr.. "Nunca vi", respondeu o ex-ministro.
"Primeira vez?", reiterou o deputado. "Primeira vez", respondeu Torres.
"A tese da omissão hoje vai por água abaixo. E quem enterra a tese não é o deputado Rubens, que é da base do governo, é o senhor Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, secretário de segurança durante o período", afirmou o parlamentar, que pediu a convocação do coronel Paulo José.
"Para entender de uma vez por todas porque foi aberta a Esplanada e permitir que tudo isso acontecesse", disse pereira Jr.
Em seguida, o deputado remeteu aos ataques de 12 de dezembro e da tentativa de bomba no aeroporto e lembrou depoimento do coronel José Silva Pinto, de que teriam CACs dispostos a atirar no presidente.
"O seu depoimento já confirmou: 1) era a segurança do DF que tinha atribuição exclusiva para garantir a segurança na Esplanada, 2) O PAE (protocolo de ação) era suficiente para evitar, 3) Um PAE nunca foi desrespeitado, 4) até o sábado estava mantido, houve uma mudança e a dúvida recai sobre a polícia do DF. Outro ponto confirmado: os acampamentos estavam cheios radicais tentando dar um golpe e fazendo com que até bolsonaristas se afastassem", disse o deputado, que emendou: "eu estou absolutamente satisfeito com o depoimento que o senhor trouxe a essa comissão".