SÓ FALTOU DESENHAR

Consórcio Nordeste explica o óbvio a Zema após fala xenófoba e separatista sobre frente Sul-Sudeste

Bloco composto pelos governos estaduais nordestinos divulga nota em que critica declaração do governador de MG em que estimula uma rivalidade entre as regiões do país

O governador Romeu Zema.Créditos: Reprodução/Facebook Romeu Zema
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O Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste (Consórcio Nordeste), que reúne os governos estaduais nordestinos através de uma governança integrada com o objetivo de atrair investimentos e alavancar projetos para a região, divulgou uma nota oficial, neste domingo (6), em que critica o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), por declaração com tom xenófobo e separatista feita em entrevista ao jornal Estadão. 

Um dos mandatários estaduais mais próximos de Jair Bolsonaro e que vem radicalizando seu discurso, Zema fez uma fala que está sendo duramente criticada, por políticos de diferentes unidades da federação, para atacar o fundo que busca combater a fome e a miséria nas 3 regiões mais vulneráveis do país: Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

“Outras regiões do Brasil, com Estados muito menores em termos de economia e população se unem e conseguem votar e aprovar uma série de projetos em Brasília. E nós, que representamos 56% dos brasileiros, mas que sempre ficamos cada um por si, olhando só o seu quintal, perdemos. Ficou claro nessa reforma tributária que já começamos a mostrar nosso peso”, declarou o governador.

“Está sendo criado um fundo para o Nordeste, Norte e Centro-Oeste. Agora, o Sul e o Sudeste não têm pobreza? Aqui todo mundo vive bem, ninguém tem desemprego (SIC), não tem comunidade… Nós também precisamos de ações sociais. Então, o Sul e o Sudeste vão continuar com a arrecadação muito maior do que recebem de volta?”, questionou. 

Romeu Zema e Jair Bolsonaro (Foto: Alan Santos/PR)

Presidente do Consórcio Nordeste, o governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB), além de rebater a declaração de Zema, ainda explicou o óbvio para o mandatário mineiro. 

"Ao defender o protagonismo do Sul e Sudeste, indica um movimento de tensionamento com o Norte e o Nordeste, sabidamente regiões que vem sendo penalizadas ao longo das últimas décadas dos projetos nacionais de desenvolvimento", diz um trecho da nota. 

"O Consórcio Nordeste, assim como o da Amazônia Legal, valendo-se da profunda identidade regional, cultural e histórica, foram criados com o objetivo de fortalecer essas regiões, unindo os estados em torno da cooperação e compartilhamento de melhores práticas e soluções de problemas comuns, buscando contribuir com o desenvolvimento sustentável e a mitigação de nossas desigualdades regionais", prossegue João Azevêdo. 

João Azevêdo, governador da Paraíba e presidente do Consórcio Nordeste (Foto: Francisco França/Divulgação)

Leia a íntegra 

"O governador de Minas Gerais, em entrevista publicada no jornal O Estado de São Paulo em 05 de agosto, demonstra uma leitura preocupante do Brasil. Ao defender o protagonismo do Sul e Sudeste, indica um movimento de tensionamento com o Norte e o Nordeste, sabidamente regiões que vem sendo penalizadas ao longo das últimas décadas dos projetos nacionais de desenvolvimento.

O Consórcio Nordeste, assim como o da Amazônia Legal, valendo-se da profunda identidade regional, cultural e histórica, foram criados com o objetivo de fortalecer essas regiões, unindo os estados em torno da cooperação e compartilhamento de melhores práticas e soluções de problemas comuns, buscando contribuir com o desenvolvimento sustentável e a mitigação de nossas desigualdades regionais.

Negando qualquer tipo de lampejo separatista, o Consórcio Nordeste imediatamente anuncia em seu slogan que é uma expressão de 'O Brasil que cresce unido'. Enquanto Norte e Nordeste apostam no fortalecimento do projeto de um Brasil democrático, inclusivo e, portanto, de união e reconstrução, a referida entrevista parece aprofundar a lógica de um país subalterno, dividido e desigual.

Já passou da hora do Brasil enxergar o Nordeste como uma região capaz de ser parte ativa do alavancamento do crescimento econômico do país e, assim, contribuir ativamente com a redução das desigualdades regionais, econômicas e sociais. É importante reafirmar que a união regional dos estados Nordeste e, também, os do Norte, não representa uma guerra contra os demais estados da federação, mas uma maneira de compensar, pela organização regional, as desigualdades históricas de oportunidades de desenvolvimento.

Nesse contexto, indicar uma guerra entre regiões significa não apenas não compreender as desigualdades de um país de proporções continentais, mas, ao mesmo tempo, sugere querer mantê-las, mantendo, com isso, a mesma forma de governança que caracterizou essas desigualdades.

A união dos estados do Sul e Sudeste num Consórcio interfederativo pode representar um avanço na consolidação de um novo arranjo federativo no país. Esse avanço, porém, só vai se dar na medida em que todos apostarmos num Brasil que combate suas desigualdades, respeita as diversidades, aposta na sustentabilidade e acredita no seu povo.

Assim, nós, governadoras e governadores da Região Nordeste, além de defendermos um Brasil cada vez mais forte e próspero, apelamos pela união nacional em torno da reconstituição de áreas estratégicas para o nosso país, a exemplo da economia, segurança pública, educação, saúde e infraestrutura.

Nordeste do Brasil, 06 de agosto de 2023.

JOÃO AZEVÊDO

Presidente do Consórcio Nordeste Governador do Estado da Paraíba"