A sessão desta quinta-feira (3) da CPMI dos Atos Golpistas aprovou uma série de convocações, entre elas a de Walter Delgatti Neto, mais conhecido como o ‘hacker de Araraquara’. Durante as últimas eleições ele chegou a ser contratado pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) para quem, com anuência de Jair Bolsonaro (PL), teria tentado uma invasão ao sistema digital do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Uma transferência de Pix da deputada para o hacker foi encontrada pela Polícia Federal e Delgatti afirmou em depoimento à própria PF que também foi pago com dinheiro vivo.
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Parlamentares governistas como os deputados Rogério Correia (PT-MG) e Jandira Feghali (PcdoB-RJ) apontam que uma possível hipótese da ação atribuída a Delgatti e Zambelli no âmbito das tentativas de golpe seria o de fornecer uma suposta prova de que as urnas realmente poderiam ser invadidas. Nesse contexto, Bolsonaro teria articulado a reunião com embaixadores pela qual acabou tornando-se inelegível e acentuado o discurso contra o TSE e as urnas para suas bases.
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De acordo com a relatora Eliziane Gama (PSD), o depoimento de Delgatti é “importante para esclarecer como a deputada Carla Zambelli atuou de modo a questionar a legitimidade do sistema eleitoral brasileiro nas eleições de 2022”.
Nikolas Ferreira não gostou
A simples menção à convocação de Delgatti já gera desconforto nos bolsonaristas de modo geral. Mas o deputado Rogério Correia fez um pedido que realmente os tirou do sério: inseriu um requerimento para que tenhamos acesso ao Relatório de Inteligência Financeira (Rif) de Bolsonaro. Ainda não foi votado.
“Tenho um requerimento extra pauta que é para termos acesso a um Rif do ex-presidente Bolsonaro. Esses meninos estão querendo escutar perfumaria [referiu-se aos requerimentos da oposição, que não foram aprovados], mas na ferida mesmo eles não querem ir. Houve realmente um processo de golpe no Brasil e o ex-presidente Jair Bolsonaro foi o arquiteto disso. O Brasil inteiro sabe que ele comandou o processo de golpe e por isso já está inelegível no TSE. O hacker que virá aqui vai dizer isso: a ideia do ex-presidente era de que se invadissem as urnas eletrônicas, e depois disso reuniu-se com embaixadores, e os embaixadores foram comunicados que não era seguro e que, portanto, não deveria haver eleição no Brasil”, falava Rogério Correia, quando um bate-boca protagonizado por Nikolas Ferreira (PL-MG) o interrompeu.
“Acabou o tempo senhor presidente”, disse Nikolas ao microfone.
Correia rebateu: “O deputa Nikolas é apressado, é um jovem ainda, meio mal educado também, só gosta de falar e não gosta de ouvir. Então eu concluo pedindo a ele que fique aqui e vote para termos acesso ao Rif. Creio que ele vá votar contra porque quer esconder quem foi de fato o autor intelectual desse golpe”.
Na sequência foram dados os encaminhamentos e algumas falas de parlamentares bolsonaristas, como a de Filipe Barros (PL-PR) e Magno Malta (PL-ES), refletiram o desconforto. Mas quem realmente se incomodou foi Nikolas Ferreira. Ao fim da sessão, ele foi flagrado se queixando dos colegas.
Convocações e quebras de sigilo
Além de Delgatti, o colegiado aprovou a convocação de outros quatro depoentes. Dois deles da Polícia Militar do Distrito Federal.
- A tenente-coronel da PMDF Cíntia Queiroz de Castro, subsecretária de Operações Integradas da Secretaria de Segurança Pública do DF;
- A policial Marcela da Silva Morais Pinno, promovida por “atos de bravura” na ação que tentou impedir os bolsonaristas de invadirem as sedes dos três poderes em 8 de janeiro;
- Também foi convocado o sargento do Exército Luís Marcos dos Reis, preso na operação que investigou o esquema de fraudes nos cartões de vacinação de Bolsonaro;
- Por fim, para compensar o lado dos bolsonaristas, também foi convocado o fotógrafo Adriano Machado, da Reuters, que cobriu o 8 de janeiro em plena Praça dos Três Poderes;
- Além das convocações, também foram aprovadas as quebras de sigilos telefônicos de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro e ex-secretário de Segurança Pública do DF; e do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.